Brasil-Colônia
no século XXI em queda livre. Até quando?
Artigo publicado na revista Science
demonstra que “o desaparecimento da biodiversidade global é, atualmente,
mil vezes mais veloz do que se ele acontecesse naturalmente, sem o impacto do
homem. É uma taxa muito maior do que a estimada anteriormente, em 1995, quando
estava em cem vezes”[3].
Não é toda e qualquer pessoa que está impactando o planeta Terra, mas o ‘homem
capitalista’, um devastador por ser idólatra do mercado e, consequentemente, da
acumulação de capital. Com Bolsonaro incentivando, os madeireiros e ruralistas
desmatando e queimando a Amazônia, dizimando o cerrado que existia em 14
estados, com agronegócio e monoculturas com irrigação desenfreada, com uso
indiscriminado de agrotóxicos e, como consequência, urbanização sempre
crescente, os animais do campo estão ficando sem habitat e estão sendo forçados
a migrar também para as cidades, o que já está comprovado por várias pesquisas
de doutorado. Este cenário nos diz que o progresso e o desenvolvimento
econômico capitalista criaram as condições objetivas para o aparecimento do
coronavírus e, pior, se não for interrompido esse modelo ecocida e genocida,
outras pandemias mais letais surgirão. Necessário se tornou frearmos o
consumismo e a produção industrial e econômica do que for supérfluo. À beira da
extinção da espécie humana, tornou-se não apenas ético, mas necessário,
cultivar estilo de vida simples e austero. “Viver com o mínimo e ter mais
liberdade”, nos ensinam os hippies (Artesãos de rua, Malucos BR).
A pandemia do coronavírus, que causa a
COVID-19, tirou todas as máscaras dos capitalistas neoliberais,
neocolonialistas, melhor dizendo. As políticas neoliberais de privatização e de
redução do Estado o fazem “mínimo” para o povo em termos de políticas públicas,
mas ‘máximo’ em termos de repressão. Com
a diminuição dos investimentos públicos em saúde, educação, habitação,
transporte e outros, com a privatização das empresas estatais e dos serviços
públicos, o Estado ficou incapaz de salvar vidas do povo que agora está com uma
espada de Dâmocles sobre a cabeça: o coronavírus que já matou em todo o mundo
mais de 70 mil pessoas, no Brasil mais de 700. A idolatria do capital e do
mercado está se revelando como arma mortífera que mata milhares de pessoas só
no Brasil, todos os anos. Por que o governo federal e o congresso nacional não
cancelam a Proposta de Emenda Constitucional n. 95 aprovada - a que congelou os
investimentos em saúde, educação e assistência social por 20 anos? Porque
praticam a necropolítica, um novo tipo de nazifascismo que mata cotidianamente
em uma guerra onde as vítimas são só os empobrecidos, além de pessoas não
produtivas, sejam idosos ou com baixa imunidade. Só em 2019, por causa desse
covarde congelamento dos investimentos em Saúde Pública, Educação Pública e
Assistência Social, 20 bilhões de reais foram sonegados ao SUS. Por isso,
faltam leitos, UTIs, respiradores artificiais, máscaras, médicos, enfermeiros etc.
Se não for abolida a PEC 95, em 20 anos, quantas pessoas serão mortas por não
encontrar acolhida em hospitais? Milhões, certamente.
Sob modelo capitalista neoliberal
(neocolonial), o Estado Brasileiro, em 2019, de um orçamento total no valor de
R$ 2,711 trilhões, reteve mais de 38% do orçamento (mais de 1 trilhão de reais[4])
para repassar para banqueiros como pagamento de juros e amortizações da infame
dívida pública, fruto de agiotagem. Eis mais uma injustiça e covardia contra os
pobres no Brasil. Assim se reproduz uma das maiores desigualdades sociais do
mundo. Isso comprova que, de fato, temos no Brasil uma elite escravocrata,
bélica e geronticida, que tem o deleite em humilhar, torturar e matar, com
requintes de crueldade. Por isso, toda a ostentação da elite está enxovalhada
de suor e sangue da classe trabalhadora, como os milhões de indígenas e negros
escravizados.
Estudo da UFRJ e da FESPSP (Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo) analisou 1,2 milhão de tuites a
favor do (des)presidente Bolsonaro e concluiu que 55% de publicações
pró-Bolsonaro são feitas por robôs. Este dado demonstra de forma inequívoca que
as pessoas bolsonaristas são não apenas ingênuas, mas disseminadoras de
mentiras que matam e disseminam o ódio. O Evangelho de João afirma: “a verdade
liberta” (João 8,32), mas “a mentira mata, é coisa diabólica” (João 8,44),
macabra.
Liberar apenas R$600,00 para cada
trabalhador, a conta-gotas, é esmola para frear a rebelião popular que a fome
trará. As panelas já estão vazias. É injustiça hedionda o repasse imediato de
bilhões para os banqueiros salvarem seus bancos que fazem agiotagem com capa de
legalidade.
O desgoverno federal está escondendo uma
verdade muito perigosa e mortal. Um secretário do Ministro da Saúde, no afã de
questionar o prolongamento da quarentena que está sendo feita graças à postura
ética e responsável de vários governadores, disse que todos devem se imunizar
com o coronavírus, que o contágio comunitário só diminuirá quando pelo menos
50% da população já tiver contraído o vírus. Disse que parte das pessoas nem
vai ficar sabendo que contraiu o vírus, pois nem sintomas estas pessoas terão.
Outros terão os sintomas e uma porcentagem menor precisará ser internada e
precisará de respirador artificial, o que está em escassez nos dois sistemas de
saúde no Brasil, no SUS e na rede privada. Além disso, o desgoverno federal
está omitindo a informação da Organização Mundial da Saúde (OMS), respaldada
por cientistas idôneos, que demonstra que, no mundo, cerca de 2% dos que
contraem o coronavírus acabam morrendo. Mais grave: o Ministério da Saúde
informou dia 07 de abril que no Brasil a taxa de mortos entre os que contraem o
coronavírus está sendo de 4,9%. No Brasil, com 212.000.000 (duzentos e doze
milhões) de pessoas, 4,9% significam 10.388.000 (dez milhões e trezentos e
oitenta e oito mil) pessoas. Então, se o povo brasileiro aceitar seguir o que o
desgoverno federal está propondo, antes dos pesquisadores descobrirem remédio
ou vacina, de fato, eficaz, é preciso que saibam desta verdade que está sendo
escondida: o número de mortos no Brasil poderá chegar a 10.388.000 pessoas, não
apenas pessoas idosas, diabéticas, com câncer, cardíacas, quem está com baixa
imunidade, do grupo de risco, mas também pessoas aparentemente saudáveis, que
já estão entre os mais de 700 mortos, nesse país continental. Propor seguir um
caminho que pode levar à morte mais de mais de dez milhões de pessoas, só no
Brasil, é ‘brincar com fogo’, é amar o capital e não a Deus. Por isso, Jesus
disse: “Não se pode servir a dois senhores: a Deus e ao capital” (Mateus 6,24).
Neste cenário perigoso, ficar em casa, em quarentena, até que se descubra
remédio ou vacina capaz de impedir que pessoas morram de COVID-19 é imperativo
ético e necessidade vital.
Estamos presenciando um projeto
patológico de mentiras ou fakes,
também chamado de pseudologia robótica, perpetrado pelos bolsonaristas nazifascistas
que adoeceu parte da população brasileira, com o apoio de partidos
políticos aliados, de milícias, militares, ruralistas, e claro, de agentes do
Ministério Público em suas instâncias estadual e federal e do Supremo Tribunal
Federal (STF) - ou melhor, toda a corja da direita que coaduna com o
desmantelamento da democracia e das políticas públicas do país. Presenciamos a
destruição da saúde pública, da educação pública e da pesquisa científica.
Lembremos da covarde expulsão dos dez mil médicos cubanos, aplaudida por alguns
insanos. Tudo promessa de campanha e, acreditem, muitos votaram no atual
presidente sabendo que esta catástrofe, entre outras, iria mesmo
acontecer. Não há máscara que tape esta vergonha, nem álcool em gel que
apague este ato. O único compromisso destes meliantes é se tornarem subservientes
ao desgoverno xenofóbico de Donald Trump[5],
fazendo o Brasil se portar como colônia subalterna dos Estados Unidos. De fato,
quem se ajoelha aos interesses dos USA não respeita o povo brasileiro. Afinal,
quem apoiou todas as conspirações lideradas por Jair Bolsonaro e por Sérgio
Moro em 2017 e 2018? As atuais agressões ao governo chinês fazem parte
deste perverso plano de subserviência colonial ao Tio Sam. Por isso, as tais
encomendas brasileiras de equipamentos de prevenção ao coronavírus foram
retidas por Trump, em clara alusão à prática da pirataria, pois pilhou e
interceptou uma carga encomendada por outro país. Agora esta é a especiaria da
vez, como já foram a seda, as ervas e o marfim. Claro, primeiro a metrópole, e
se sobrar, talvez seja liberada para a colônia, aqui do sul. Não é assim que
funcionam as relações coloniais? Parece que estamos mesmo no período da “Nova
Colônia”. Mesmo com a ameaça do presidente americano de impor tarifas à China,
em declarada guerra comercial, tempos atrás, agora os produtos chineses são ovacionados
pelos americanos e suas relações mútuas se incrementam. Tudo pelos americanos! “America
First”! Trump se aproxima ardilosamente de Xi Jinping, presidente da China, que
almeja acordos vantajosos.
O Brasil não parece fazer parte dos
principais projetos comerciais da China nas Américas, que ainda se encontra
empenhada em estreitar relações e negócios na África, Ásia, Oriente Médio e
Europa; a Nova Rota da Seda[6],
que agora também tem os equipamentos de Saúde como novo produto em rede. Fortalecida
política e economicamente, em tempos de pandemia, a China parece concentrar
suas transações e alianças com o Norte Global (Europa, Reino Unido e América do
Norte), como sinalizado pelo governo chinês no último Fórum Econômico Mundial,
em Davos, na Suíça, mantendo os investimentos na segurança cibernética,
política industrial, projetos de transporte e de infraestrutura e controle de
portos em vários locais do planeta, além de pesquisas científicas. Segundo a agência
de notícias oficial do governo, a China já teria assinado 173 documentos de
cooperação com 125 países e 29 organizações internacionais. A soja exportada
pelo Brasil, por sua vez, sempre foi utilizada para o consumo animal na China,
pois não atinge os seus padrões rígidos de segurança alimentar. Com o aumento
progressivo do uso de agrotóxicos, piorou ainda mais o interesse em
adquirir os produtos alimentares brasileiros, e isto ressoa em todo o mundo.
Mas parece que nem para o bichos chineses serve mais a soja brasileira, depois
de tanta agressão do filho do Bolsonaro, do atual chanceler, e, por último, do
ministro da (des)educação. Sorrateiramente, Trump negocia a venda de soja estadunidense
para a China, em substituição da brasileira. O plano sórdido e macabro continua.
As relações bilaterais Brasil-China se arrefecem neste momento de verdadeiro
caos e pandemia no Brasil.
Considerando
que o crescimento do contágio comunitário pelo coronavírus acontece não apenas
em uma progressão aritmética (1, 2, 4, 6, 8, 10 ...), mas em uma progressão
geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512, 1024 ...), de forma
exponencial, se quisermos salvar vidas, temos que agir rápido, antes que
aumente muito o número de pessoas infectadas, e colocar em prática todas as
medidas que evitam o contágio: ficar em casa, em quarentena, lavar as mãos com
frequência, usar máscara quando tiver que sair de casa. Se o contágio não for
barrado logo no início, se for disseminado, será quase impossível impedir que
todas as pessoas sejam infectadas.
Apesar dos históricos e insanos
bloqueios à Cuba, em paralelo a este jogo repugnante, os médicos cubanos,
de forma solidária e profissional, ajudam de forma heróica o povo italiano a
sair de uma grande tragédia epidemiológica e social; muitos, os mesmos que foram
expulsos do Brasil no início de 2019. Assim segue o Brasil Colônia no Século
XXI... em queda livre.
Até quando?
08/4/2020.
[1] Doutora em Arqueologia pelo MAE/USP;
Pós-Doutorado Arqueologia e Antropologia-FAFICH/UFMG; Mestre em Educação pela FAE/UFMG;
Historiadora e Membro do CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva
- www.cedefes.org.br - : e-mail: alenicebaeta@yahoo.com.br
[2] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela
FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia
pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em
Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de
“Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte,
MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis –
Facebook: Gilvander Moreira III
[4]
Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida - https://auditoriacidada.org.br/wp-content/uploads/2020/02/Orc%CC%A7amento-2019-versao-final.pdf
[5] Segundo New York Times, Trump é
Sócio de empresa que produz a tal da cloroquina. É por isto que Bolsonaro tanto
insiste no uso da cloroquina?
[6] A antiga Rota da Seda era composta por inúmeros itinerários que
interligavam a Ásia, o Extremo Oriente e a Europa, por onde escoavam produtos e
cargas, transportados por caravanas e embarcações oceânicas. Trata-se de
antigos territórios comerciais e mercantis onde surgiram diversas cidades e
entrepostos (Cf. FRANKOPAN, Peter. As
Rotas da Seda – uma nova história do mundo. São Paulo: Ed. Relógio D’Água,
2018).
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