A
IGREJA NUNCA PODERIA TER FICADO CALADA...
Por Antônio Pinheiro[1]
Diz
um provérbio bíblico: “Um filho insensato é a desgraça dos pais” Também nós
constatamos que: um bando de políticos insensatos é a desgraça do país.
Em
sua segunda visita ao Brasil, em outubro de 1991, o Papa João Paulo II fez uma
incisiva advertência aos Bispos:
“A
Igreja afirma mais uma vez não possuir um projeto concreto de organização
social e modelo econômico para o Brasil ou outro país qualquer, não é seu papel
nem tarefa dos Bispos, mas a Igreja nunca
poderá ficar calada quando estiver em jogo, a vida, a liberdade e a dignidade
da pessoa humana.”
A vida da pessoa humana
Transcorridos
mais de vinte anos dessa advertência do Papa João Paulo II ao país que se diz mais
católico do mundo (segundo pesquisa do IBGE de 2010), o Brasil tornou-se o país
mais homicida do planeta, contabilizando mais de 64.000 homicídios por ano, de
acordo com dados das Nações Unidas. Infelizmente, esses dados são também confirmados
pelo IBGE, ao revelar em 2009 que entre 1998 e 2008 foram assassinados no
Brasil 68 jovens por dia, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos.
Acrescentando
a faixa etária até 39 anos, o número subiria para 150 óbitos diários, o que totaliza
54.750 mortes por ano. Ao incluirmos os homicídios além dos 39 anos, e de
adolescentes com menos de 15 anos, certamente chegaria ao número de homicídios
denunciados pela ONU.
Tomando
como base esses dados, o comentarista da TV Globo, Alexandre Garcia, comparou
os homicídios no Brasil a uma queda diária de uma aeronave lotada, matando
todos os passageiros a bordo dela (em média 175 pessoas).
Mais acontecimentos
profundamente tristes
O
Anuário Brasileiro de Segurança Pública n°7 de 2012 denuncia que “o número de
estupros no Brasil supera o número de homicídios”, isto é, mais de 64.000 por
ano, e mais de 175 por dia. Outro fato igualmente
triste diante do qual nós deveríamos gritar, mas preferimos o silêncio e a
omissão, refere-se ao tráfico de pessoas. Nas Américas, o Brasil figura como o maior exportador de jovens para
prostituição e de crianças que são sacrificadas para extração de seus órgãos
vitais (coração, rins, fígado e olhos).
Quem
primeiro tratou dessa questão foi a Professora Isabel Vianna Vaz da UFMG, em
seu livro estudo-denúncia que tem o título de “Direitos Humanos e Desmanches de
Crianças Carentes.” Também o Padre Barruel, Professor de Teologia da USP, que
alarmado com a ação dos traficantes, denunciou à ONU o tráfico de pessoas neste
país.
Outra
a escrever sobre o assunto foi a Jornalista Patrícia Negrão, em seu livro “Oferta, Desmanche e Impunidade – Tráfico de
Mulheres”. A militante Jana Matei denunciou a relação do tráfico com a situação
de pobreza e isso “explica” a nossa indiferença diante desses crimes brutais:
trata-se de pessoas pobres.
Sabe-se
que hoje o tráfico de crianças e mulheres é a terceira maior renda ilegal do
mundo (mais de 200 mil pessoas desaparecem por ano no Brasil, sendo 20% delas
crianças, segundo o relatório final da
CPI dos Desaparecidos, aberta no Congresso em 2009).
O
conceituado jornalista Dídimo Paiva denunciou em seu artigo “Tráfico de jovens e crianças” (jornal
“Hoje em dia” de 13/02/14) que o Governo Federal decidiu criar uma Comissão
para estudar o tráfico de pessoas no Brasil e distribuiu no Planalto uma
cartilha com 100 exemplares. Será isso suficiente?
Liberdade e dignidade da
pessoa humana
O
Documento de Puebla, elaborado na 3ª Conferência Geral dos Bispos do continente
latino americano, relata o que se vê como um escândalo: “os ricos ficam cada
vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres.” O IBGE, em pesquisa
realizada em 2011, a pedido do Governo Federal, revela que 60% (123 milhões)
dos brasileiros têm uma renda mensal de até um salário mínimo, sendo que entre
esses, 16.270.000 vivem na miséria, sem nenhuma renda. Que liberdade tem a
maior parcela da população brasileira, cujo padrão de vida se confunde com a
própria fome?
Nesse
país, os indignos representantes desse povo sofrido, os parlamentares federais,
com raríssimas exceções, custam aos cofres públicos R$ 151.000,00 ao mês, cada
um. Trabalha somente dez meses por ano, recebem
quinze salários e se aposentam com apenas quatro anos de mandato, conforme
relata o jornal “Folha de São Paulo” de 15/02/15.
Cito
para exemplificar o caso do senador Albano Franco (PSDB-AL), que depois de
quatro anos em exercício no Senado, aposentou-se com 50% do salário recebido
(19 mil reais). Abdicou de seu cargo de Senador para assumir o governo de
Sergipe, onde com apenas mais quatro anos de mandato, obteve uma segunda
aposentadoria no valor de R$ 24.000,00. Assim, ao acumular as duas
aposentarias, totalizou a quantia de R$ 43.000,00 por mês, com apenas oito anos
de mandato e em serviço público, sendo
esta última aposentadoria, vitalícia.
Ao
compararmos com um trabalhador comum, que necessita de nada menos que trinta e
dois anos de trabalho para receber mensalmente um “salário de fome”, no valor
de R$ 788,00 nos resta a indignação e a perplexidade frente ao caso mencionado.
Princípios
para as pessoas humanas
O
Jornal O Tempo, de 31 de agosto de 2015, informa que 53% dos deputados federais
e 54% dos senadores estão sendo questionados por denúncia de corrupção. Esse
bando de políticos insensatos, sem dúvida, é fruto da nossa omissão na defesa
dos direitos da pessoa humana. Votamos em qualquer um, sem olhar a sua vida
pregressa e a sua real capacidade de servir e de não explorar o povo. Resta o questionamento:
o que temos feito para combater esse quadro terrível do Brasil de hoje? Temos
“rezado”. Os injustiçados esperam pela ação eficaz da Igreja, já que “a Igreja
deve ser a voz daqueles que não tem voz nem vez...”, mas ainda assim preferimos
o silêncio.
Se
na eternidade não há passado nem futuro, tudo se faz presente, ou como nos diz
a Bíblia Sagrada “um dia é como mil anos e mil anos são como um dia (II Pd 3,8)”,
sou levado a pensar nas palavras de Jesus Cristo: “esse povo honra-me com os
lábios, mas o coração dele está longe de mim (Is 29,13; Mt 15,8.” Ainda mais incisivo
é o profeta Amós, camponês porta voz de Deus, quando disse: “longe de mim o ruído dos teus cânticos, não quero ouvir o som de tuas
harpas, mas que o direito corra como a água e a justiça como um rio caudaloso
(Am 5,24).”
Cremos que a hora atual não
deixou de ser a hora da oração, mas passou a ser, com dramática urgência, a
hora da ação.
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