Dia da Pátria e do 28º Grito dos/as Excluídos/as: E a democracia? Por Frei Gilvander Moreira[1]
Dia 7 de setembro de
2022, Dia da Pátria e do 28º Grito dos/as Excluídos/as, celebramos 200 anos de (In)dependência
do Brasil? Podemos realmente celebrar a Independência? Essa independência
ocorreu de fato? Em
7 de setembro de 2022, oficialmente celebramos “200 anos de Independência do
Brasil”, mas, na prática, são 200 anos de dependência e de colonização, acrescidos
a outros 322 anos de Brasil Colônia de Portugal, de 1500 a 1822. Ou seja, nos
últimos 522 anos o povo brasileiro, todos os seres vivos da biodiversidade e os
biomas brasileiros têm sido violentados na sua dignidade, porque em um país
capitalista têm imperado relações sociais escravocratas que se reproduzem
cotidianamente com a terra mantida em cativeiro, conforme demonstra o sociólogo
José de Souza Martins no livro O CATIVEIRO DA TERRA, de leitura
imprescindível. Enquanto perdurar a
estrutura fundiária pautada no latifúndio, com agronegócio em monoculturas com
uso indiscriminado de agrotóxicos, com trabalho análogo à situação de
escravidão, estarão de pé as condições materiais objetivas que sustentam e
impulsionam o êxodo rural, empurrando o povo camponês para as periferias das
grandes cidades em novas senzalas, a desertificação dos territórios, a epidemia
de câncer, a injustiça urbana e ambiental, a superexploração da dignidade
humana dos trabalhadores/as cada vez mais submetidos à precarização do trabalho
e à intensificação do ritmo do trabalho, cada vez mais extenuante e com
salários cada vez menores, chegando ao absurdo de milhares de pessoas
trabalharem apenas para comer. Não temos como celebrar 200 anos de
Independência, pois ela tem sido uma farsa, uma ilusão. Quem celebra em 07 de
setembro os “200 anos de Independência” falsa são integrantes da classe
dominante e os vassalos dela.
Qual a importância da
democracia na luta por independência? Ditadura nunca mais! Lutar por
democracia é imprescindível sempre. Democracia, sim, e sempre, porém não apenas
democracia formal, representativa e liberal, a que garante o direito de o povo votar
de dois em dois anos, mas em regras eleitorais que garantem sempre a
(re)eleição de representantes do grande capital. Só votar é muito pouco. Só com
eleições não garantimos democracia real e profunda, pois o poder econômico
acaba decidindo a eleição e 80% dos eleitos nos Poderes Executivo e Legislativo,
nos níveis municipal, estadual e federal, não representam o povo, mas as grandes
empresas, os latifundiários e as empresas multinacionais. Por isso, se criam no
Congresso Nacional Bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia, o chamado Centrão, que
é um antro de políticos opressores e corruptos, que em conluio aprovam leis que
reproduzem as opressões da classe dominante. Precisamos, sim, de democracia
real, concreta e direta, o que passa necessariamente por Participação Popular
em todos os níveis, com o povo tendo o poder de decidir em Democracia
Participativa e Direta, por meio de Plebiscitos, Referendos, Conferências e
Assembleias Populares, após intenso e profundo processo de estudo, discussão e
diálogo sobre o que precisa ser implementado no país como Políticas Públicas,
criando as condições para conquistarmos justiça econômica, solidariedade
social, sustentabilidade ambiental e respeito à imensa diversidade cultural e
religiosa no seio do povo brasileiro que é constituído por grande pluralidade
cultural que precisa ser respeitada.
Atenção! Vote em candidatos da esquerda,
nos quem têm história de compromisso com as lutas populares por direitos. Vote
principalmente em mulheres, negros e indígenas que estão em lutas concretas
pelo bem comum. Não vote em candidatos/as de direita, pois defendem o status
quo, os interesses do grande capital. Pobre votar em empresário é como galinha
escolher raposa para tomar conta do galinheiro. Opção de classe e Opção pelos
Pobres são vitais.
A democracia tem sido
ameaçada? Por quê? Em
522 anos de colonização na prática, o povo brasileiro e toda a comunidade de
vida ecológica já foram vítimas de muitos golpes militares, civis e patronais.
A 1ª Constituição Brasileira, a Imperial de 1824, foi outorgada, imposta, sem
participação do povo. Nela inscreveram direito absoluto à propriedade
capitalista, sem função social. A República iniciou em 1889 com um golpe
militar dos generais. No chamado Estado Novo teve golpe. De 1964 a 1985, no
Brasil reinou uma brutal e sanguinária ditadura militar-civil-empresarial, que
concentrou mais ainda a propriedade da terra, criou e fez crescer uma
gravíssima dívida externa, prendeu, torturou e assassinou muita gente boa que
lutava por Justiça, expulsou do país lideranças que eram o “cérebro do povo”,
impôs censura sobre a cultura, fechou cursos de Filosofia e de Sociologia,
impôs as disciplinas de Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política do
Brasil) com apresentação mentirosa e ufanista da história do Brasil, mostrando
a versão dos vencedores sobre os conflitos da história. Proibiu reuniões e
manifestações etc. Em 1968, houve golpe dentro do golpe. Com o AI-5 os generais
ditadores fecharam o Congresso Nacional e impuseram o terror e a tortura a quem
pensava diferente e lutava por justiça agrária, justiça urbana, justiça social
e por direitos humanos. O livro BRASIL: NUNCA MAIS e vários livros e filmes,
como Batismo de Sangue, são de leitura/visão imprescindíveis. Quem fala e age
para minar e ameaçar a democracia não pode ser eleito, pois é fascista e quer
impor militarismo. Fuja de quem usa muito o nome de Deus em vão e abusa de
versículos bíblicos, mas persegue os indígenas, os quilombolas, as mulheres, o
povo de periferia, impõe a fome a 33 milhões de brasileiros, anda com indústria
armamentista, com milicianos, homofóbicos, racistas e devastadores da Amazônia.”
06/09/2022
Obs.: As
videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 - Ato
Interreligioso em BH/MG em defesa da democracia, da vida, pela paz e contra
golpistas/opressores
2 - Carta da
Democracia e as Eleições no Brasil, com o advogado Antonio Carlos Kakay
3 - A Democracia funciona
quando existe respeito aos direitos humanos. Por frei Gilvander - 12/4/2021
4 - Vote pela
democracia, pela justiça, paz e pela vida! Por frei Gilvander - 1ª Parte -
11/11/2020
5 - Luta contra
mineração no 27º Grito dos Excluídos, em Itabira, MG, no Palavra Ética na
TVC-BH
6 - 27º Grito dos
Excluídos, de Itabira, MG, no Palavra Ética da TVC-BH: Fora, Bolsonaro!
07/09/2021
7 - Fernando Francisco de Gois, outro Cristo/Servo de Deus no meio dos
excluídos, em São Félix/MT agora
[1] Padre da
Ordem dos Carmelitas; doutor em Educação pela Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG); licenciado e bacharel em
Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); bacharel em Teologia pelo
Instituto Teológico São Paulo (ITESP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício
Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da Comissão Pastoral da
Terra/MG (CPT), assessor do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) e das
Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no Serviço de Animação Bíblica
(SAB), em Belo Horizonte, MG; colunista de vários sites; e-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook:
Gilvander Moreira III
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