ZECA MORREU DE
SEDE NA PRAÇA RAUL SOARES NO CENTRO DE
BELO HORIZONTE
Antônio Pinheiro, comendador do Vaticano pelos
serviços prestados aos pobres.
José Rodrigues
dos Santos, 20 anos, mais conhecido como Zeca, morava com os pais na roça, no
município de Sardoá, Vale do Rio Doce, MG. O pai, Antônio Rodrigues dos Santos,
também conhecido como Toniquinho, era uma pessoa adorada por todos que o
conheciam. Trabalhava na roça desde a infância de sol a sol. Em contato com
amigos que vieram trabalhar em Belo Horizonte dizendo das vantagens que o
emprego aqui lhes dava (como trabalhar 8 horas por dia, e somente de segunda a
sexta, com descanso remunerado aos sábados e domingos; e com férias de 30 dias
a cada ano trabalhado), Toniquinho receberia o salário e o benefício de seguro
de morte garantido para a família.
Entusiasmado com tais vantagens,
Toniquinho veio para Belo Horizonte, pois tinha trabalho garantido na obra que
seus amigos trabalhavam. Voltando a Sardoá, em férias, e feliz com o trabalho
que aqui realizava, convenceu seu filho Zeca a vir também trabalhar na capital.
Muito difícil foi para o Zeca que nunca
tinha dormido um só dia fora de casa. Deixar a família pela primeira vez e vir
para a cidade grande seria uma mudança radical. Vencidas as férias, Toniquinho
regressou a Belo Horizonte trazendo consigo o filho mais velho dos cinco que
tinha.
Apesar de tanta recomendação ao filho
sobre os perigos da capital (trânsito, violência, criminalidade, etc..), ao desembarcar
na rodoviária, Zeca não deveria se apartar do pai. Entretanto, no saguão da
rodoviária, um passageiro esbarrou bruscamente no Toniquinho, o levou ao chão e
Zeca, também com vários esbarrões recebidos ficou completamente desnorteado. Não
vendo o pai, tomou o rumo da Avenida Olegário Maciel, enquanto o pai,
completamente atordoado, procurava o filho pelo lado oposto, pela Avenida
Santos Dumont.
Passados três dias desse trágico acontecimento,
Toniquinho, com aspecto de muito infeliz, e já cansado, me procurou mal podendo
dizer do seu sofrimento, pois, segundo dizia, havia duas noites que não dormia
nem comia procurando o Zeca...
Saímos imediatamente e fomos à delegacia
da região da Rodoviária, ao Pronto Socorro e, ‘contra nossa vontade’, ao
Instituto Médico Legal (IML). Lá chegamos, sentamos no banco, dei um copo
d´água ao Toniquinho, tomei-o pela mão e fomos ao balcão onde fomos informados
que o corpo de José dos Santos Rodrigues, inanimado e frio, tinha sido
encontrado sob um banco de concreto da Praça Raul Soares dormindo eternamente.
Ao ouvir essas palavras, Toniquinho não tinha mais lágrimas para chorar, olhou
para mim espantado e não pronunciou uma só palavra, nem sequer chorou.
Encaminhamos o corpo para Sardoá, onde
foi recebido com muita emoção por grande parte dos moradores da pequena cidade,
e sepultado ao cair da noite com cantos religiosos. O pai, que continuava
profundamente triste e calado, morreu dias depois, vindo a ser sepultado ao
lado do filho.
O prefeito, também sensibilizado com
esse triste acontecimento, promoveu a mudança da viúva com seus filhos para a
cidade, tendo conseguido um emprego de ajudante em uma cantina escolar
municipal para ela e para seu filho mais velho.
Por acaso, se o Zeca batesse em sua
porta e pedisse um copo d´água, você daria?
-
Certamente não! Porque nós temos medo dos pobres.
Somos
um povo “cristão”, indiferente ao sofrimento do povo.
Um triste
exemplo
Segundo denunciou Dom Walmor, em artigo
publicado no jornal “Estado de Minas” (2013), foram assassinados 100 pessoas em
situação de rua, no últimos dois anos, em Belo Horizonte, MG. No Brasil, mais
de 400.
Além disso, o IML declarou que foram
sepultadas no ano anterior, 144 pessoas de Belo Horizonte sem nenhuma
identidade, sem flores, sem lágrimas, e sem uma missa sequer.
VOCÊ FICOU SABENDO? Nenhum destes crimes recebeu a menor investigação.
Esses crimes praticados contra essa
pequena multidão acontecem e não nos dizem nada.
Será que merecemos o título de povo mais
católico do mundo?
BH, 06/11/2015.
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