sexta-feira, 28 de junho de 2024

Ezequiel: a glória de Javé com os deserdados da terra? - Mês da Bíblia 2024 - Por frei Gilvander

Ezequiel: a glória de Javé com os deserdados da terra? - Mês da Bíblia 2024 - Por frei Gilvander - Vídeo 2 - Junho/2024


*Texto e gravação: Frei Gilvander Moreira, da CPT, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares, em Minas Gerais. Edição: Nádia Oliveira, colaborada da CPT-MG *Acompanhe a luta pela terra e por Direitos também via www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com www.cebimg.org.br - www.cptmg.org.br - www.cptminas.blogspot.com.br No Instagram: Frei Gilvander Moreira (gilvanderluismoreira) No Spotify: Frei Gilvander luta pela terra e por direitos No Tiktok: @FreiGilvander *Inscreva-se no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: / fgilvander..... , acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos. *Todos os vídeos, músicas e imagens utilizados no vídeo pertencem aos seus respectivos proprietários. O material é utilizado apenas para fins educacionais e se enquadra nas diretrizes de uso aceitável. Não se pretende infringir direitos autorais. Se você é o proprietário do conteúdo legal de qualquer vídeo, música e imagem aqui usados e gostaria que fossem removidos, por favor, entre em contato conosco (Frei Gilvander – gilvanderlm@gmail.com ), Qualquer infração não foi feita de propósito e será retificada para a satisfação de todas as partes. #ForaRodoanel #DespejoZero #PalavraÉticacomFreiGilvander #NaLutaPorDireitos #ÁguasParaaVida #BarragemNão #FreiGilvander #PalavrasDeFéComFreiGilvander

terça-feira, 25 de junho de 2024

Profetas versus sacerdotes. E em Ezequiel? Por Frei Gilvander

Profetas versus sacerdotes. E em Ezequiel? Por Frei Gilvander Moreira[1]


Terceiro pequeno texto para iluminar as Comunidades Cristãs no mês da Bíblia de 2024 – setembro - sobre o Livro de Ezequiel. O Livro de Ezequiel apresenta Ezequiel como sacerdote e profeta. Importante ressaltar que há várias formas de compreender o que é sacerdote e profeta. Sacerdote no sentido mais profundo e etimológico do termo significa aquele que revela o sagrado existente nas relações humanas, naturais e sociais. Mas também ‘sacerdote’ pode significar o funcionário de uma instituição religiosa, responsável pela realização do culto, com poder sobre a comunidade e que geralmente é encarado como “representante de Deus” nas questões tidas como sagradas. Neste sentido, em muitas passagens bíblicas os profetas e profetisas denunciam sacerdotes como cúmplices de processos de opressão e de exploração. Por exemplo, em Juízes 19 a 21, são os sacerdotes que tocam a trombeta conclamando para guerra fratricida entre as comunidades que deveriam viver na fraternidade.

Em Amós 7,10-17, o profeta Amós é expulso do templo de Betel pelo sacerdote Amasias, que acumpliciado ao rei Jeroboão, opressor, fica incomodado com a profecia de Amós que anuncia que Israel será exilado e Jeroboão será morto. Em Am 7,14, Amós se recusa a ser considerado profeta segundo a ótica de um sacerdote vassalo do poder político. Amós denuncia e ridiculariza o sacerdote manietado pelo rei opressor. Am 7,10-17 quer legitimar o conteúdo da profecia de Amós e ajudar as comunidades a superarem todos os preconceitos que possam existir contra o profeta por causa da sua origem humilde.

O relato de Am 7,10-17 quer nos dizer que a profecia vem da margem, da periferia, do meio dos marginalizados e excluídos. São estes, por excelência, os “intérpretes de Javé”, profetas e profetisas. O rei (e a monarquia) e o Templo expulsam o profeta, silenciando-o. Sem profetas, o povo sofrerá muito mais. Ai de um povo que não escuta seus profetas e profetisas e, pior ainda, que os persegue, expulsa e os silencia.

Textos proféticos na Bíblia denunciam também os falsos profetas, os profetas “profissionais” ligados à corte do poder político, econômico e religioso.

Na Bíblia temos também a reação dos profetas diante das tentativas de privatização da profecia, deixando-as restritas às instituições religiosas. É o caso denunciado no livro de Números 11. Enquanto os povos escravizados enfrentavam a caminhada no deserto, após a libertação do imperialismo dos faraós no Egito, e enquanto lidavam com os desertos interiores, a Bíblia narra que os profetas Eldad e Medad estavam profetizando no Acampamento, fora da tenda (Nm 11,27), na caminhada pelo deserto rumo à conquista da “terra que mana leite e mel” (Ex 33,3; Dt 6,3; 26,9). Apareceu gente querendo proibir a profecia de Eldad e Medad, porque “eles eram de fora” da tenda. Às pessoas que ficaram iradas com a profecia de Eldad e Medad, fora da instituição, Moisés bradou: “Oxalá todo o povo fosse profeta e recebesse o Espírito de Javé, Deus solidário e libertador” (Nm 11,29).

Segundo a tradição deuteronômica, na Bíblia, quando o poder do rei de Judá, do Sul, se tornou tirânico sobre as tribos do norte, Deus inspirou profetas que incomodaram os que defendem a unidade. A divisão, ou seja, a separação (cisma) foi defendida como algo inspirado por Deus Javé. Quando o rei Roboão, de Judá, quis lutar para resgatar a unidade e trazer de volta ao seu reino as tribos/comunidades do norte, de acordo com o texto bíblico, a palavra de Deus foi dirigida ao profeta Semei nos seguintes termos: “Fala a Roboão:  volta para casa e não tente resgatar a unidade com Israel. Essa divisão fui eu que fiz” (1 Reis 12, 22- 24). Muitas vezes para superar injustiças é preciso quebrar a aparente unidade que esconde desigualdade e reproduz injustiça. Eis o rumo: não trabalhar com a busca de consenso e de apaziguamento a qualquer preço, mas buscar sempre relações de ética e de justiça, mesmo que para isso precisam reconhecer a legitimidade do dissenso.

Na Bíblia, muitas vezes, os profetas se opuseram e denunciaram com veemência os sacerdotes do templo que se colocavam como se fossem proprietários de Deus, “representantes de Deus” na terra, o que na prática busca privatizar Deus domesticando-o. Ao denunciar a religião ritual e formalista como sendo mera busca de autoajuda e de segurança humana individual, os profetas tiveram que se posicionar contra muitos aspectos da cultura popular e do senso comum contaminado pela ideologia dominante, que gosta da religião e contra o consenso da unidade formada a partir do poder sacerdotal.

Certa vez um arcebispo questionou o pessoal do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) por não estarem atuando em “unidade com a Igreja da Arquidiocese”. Disse ele: “Vocês estão fazendo círculos bíblicos e escolas bíblicas por aí sem minha autorização”. Neste tipo de afirmação está esdrúxula concepção de unidade como se fosse uniformidade, onde um hierarca está em cima e manda em quem está embaixo. Isto é lógica totalmente antiprofética. A unidade como relação de comunhão se constrói e se cultiva a partir e na base de relações humanas e sociais de justiça e ética, o que passa necessariamente por criticar e denunciar o que é injusto.

Na Bíblia há passagens que mostram vários profetas sendo ameaçados de morte por sacerdotes, como é o caso dos profetas Amós e Jeremias. Os profetas e profetizas proclamaram que a aliança que Deus fez com o povo hebreu no monte Sinai tinha como base que todo povo se tornasse sacerdotal, isso é, mediador do Amor Divino em relação à humanidade e ao universo: “Vós sereis para mim um reino de sacerdotes, uma nação toda santa” (Ex 19,6). Etimologicamente sacerdote é quem tem a missão de revelar e explicitar a presença da luz e da força divina no mundo, ou seja, mostrar a sacralidade da vida e das relações humanas e ecológicas que devem se pautar por ética e justiça. Neste sentido etimológico, sacerdote e profeta/profetisa têm missão semelhantes. Entretanto, quando, historicamente, o sacerdote se torna um funcionário da instituição religiosa e organiza e estrutura as relações humanas com ele (o sacerdote) se colocando no topo de uma pirâmide e lhe autoatribui o poder de definir e determinar o que é pecado ou não, como se comportar, quais são os deveres do povo que está na base da pirâmide, isto significa privatizar o sacerdócio concedendo poder dominação, o que o torna antiprofético.

Obs.: No próximo texto, o 4º, continuaremos refletindo a partir do Livro de Ezequiel, livro do Mês da Bíblia de 2024.

25/06/2024

Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – Ezequiel, que tipo de Profeta e de Sacerdote? E nós? Vem aí o mês da Bíblia 2024. Por frei Gilvander

2 - Um Tom de resistência - Combatendo o fundamentalismo cristão na política

3 - Bíblia: privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no Palavra Ética

4 - Deram-nos a Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG. Vídeo 5

5 - Bíblia, Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste

6 - CEBI: 43 anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção pelos Pobres





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Nota urgente! Prefeito de Belo Horizonte, Fuad, deixará as Ocupações Esperança e Vitória, da Izidora, fora do projeto de Urbanização?

Nota urgente! Prefeito de Belo Horizonte, Fuad, deixará as Ocupações Esperança e Vitória, da Izidora, fora do projeto de Urbanização?

Dia 19 de junho de 2024, cedo, a sede da URBEL[1] da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) foi ocupada pelo Povo da Ocupação Esperança com participação do Povo das Ocupações Carolina Maria de Jesus e Maria do Arraial, juventude do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e da UP (Unidade Popular pelo Socialismo), e com o apoio da Comissão Pastoral da Terra da Região Metropolitana de BH (CPT/RMBH).

A ocupação da URBEL durou quase dois dias. O presidente da  URBEL, Claudius Vinícius, se negou a reunir com uma Comissão do Povo que ocupava a URBEL. Postura intransigente, inadmissível e absurda de um gestor público que tem a missão de coordenar a política habitacional da PBH. Cerca de 70 policiais da Guarda armada da Prefeitura de BH foram mobilizados com ordens para não deixar ninguém mais entrar e nem alimento durante o 1º dia. O Povo passou fome o dia inteiro dentro da URBEL, pois quando as panelas com o almoço chegaram não deixaram entrar o almoço. Assim, centenas de pessoas ficaram passando fome, entre as quais, crianças, idosos, gestantes, mulheres.

Tivemos que ocupar a sede da URBEL, porque a URBEL e Prefeitura de BH ainda não abriram mão de demolir cerca de 1.000 casas – ação higienista - nas Ocupações Vitória e Esperança com proposta de Urbanização que não é Justa, nem Ética e não considera a Participação Popular. Não aceitamos um modelo de urbanização que implique em despejo de centenas de casas construídas com muito trabalho, suor e sangue. Honraremos Manoel Baía, Kadu e outros companheiros que foram mortos na luta das Ocupações da Izidora por moradia própria e adequada.

De forma autônoma, as Ocupações Esperança e Vitória já realizaram estudos, construído com assessoria aliada das ocupações e os próprios moradores participando de forma coletiva, e apresentaram Proposta de Urbanização alternativa onde se reduz para menos de 100 as casas a serem demolidas. Por que não construir na fazenda de um grande supermercado ao lado da Ocupação Esperança a Avenida que a URBEL diz que deve ser construída rasgando a Ocupação Esperança ao meio, evitando demolir 300 casas? Na Ocupação Vitória não há necessidade de um grande supermercado, mas, sim, de dezenas de pequenos mercados.

A PBH teve a postura absurda de pedir judicialmente a reintegração de posse da sede da URBEL, ou seja, pedir ao judiciário decisão para jogar a tropa de choque da PM para despejar centenas de pessoas que lutam por direitos humanos fundamentais. Se houvesse abertura para o diálogo da direção da URBEL, não seria necessário ocupar a URBEL. Resolvemos sair do prédio da URBEL na iminência da tropa de choque da PM e Guarda Municipal entrar, pois com postura ética preferimos evitar que crianças, idosos, mulheres fossem machucadas, presas e aterrorizadas pela truculência da tropa de choque. Entretanto, se a posição injusta da PBH e da URBEL não mudar, se URBEL e PBH não assumirem compromisso com um Plano de Urbanização Justa, Ética e com Participação Popular, VOLTAREMOS também com o Povo da Ocupação Vitória em número muito maior e com mais força.

Como toda ação gera uma reação, a ocupação do prédio da URBEL se tornou necessária e justa também pelo que segue abaixo.

Dia 8 de maio último (de 2024), o presidente Lula anunciou a liberação de milhões de reais pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para Prefeitura de Belo Horizonte (PBGH) fazer a urbanização de duas Ocupações da região da Izidora, em Belo Horizonte, MG: as ocupações Rosa Leão e Helena Greco, as duas com cerca de 2.000 famílias; Rosa Leão há 11 anos e Helena Greco com 13 anos de luta. A imprensa divulgou valores diferentes. Um site noticiou 250 milhões de reais; outro, 191 milhões de reais e outro, 41 milhões de reais. Pelo princípio da transparência, exigimos saber ao certo os valores anunciados, onde serão aplicados e como?

Foi anunciada a construção de 275 unidades do Minha Casa Minha Vida na região da Izidora, em Belo Horizonte. Construir onde? Na Ocupação Helena Greco, onde a URBEL, da PBH, tem projeto para demolir todas as 400 casas que foram autoconstruídas ao longo de 13 anos de luta? Se sim, as outras 125 famílias irão morar onde? Quanto tempo todas as famílias da Ocupação Helena Greco ficarão sem moradia própria?

Por mais de uma década, a prefeitura esteve do outro lado da barricada e em diversos momentos fez de tudo para que as ocupações fossem despejadas. A resistência das 9.000 famílias das quatro Ocupações da Izidora manteve as casas de pé e, mais, construíram de forma autônoma, verdadeiros bairros consolidados.

A urbanização justa, ética e popular é uma luta histórica das Ocupações da Izidora e não pode ser realizada de forma atropelada e sem a participação do povo. As ocupações Vitória e Esperança estão hoje fora do plano de urbanização da prefeitura, porque não conciliaram com as propostas absurdas feitas pelo poder público municipal. Dia 30 de outubro de 2023, lideranças das Ocupações da Izidora, com integrantes da CPT[2], das Brigadas Populares, do MLB[3] e assessoria técnica foram recebidas em reunião pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, que iniciou a reunião dizendo que a Prefeitura de BH, através da URBEL, já estava com projetos prontos para encaminhar ao presidente Lula para urbanizar as Ocupações Rosa Leão e Helena Greco com dinheiro do PAC, mas que as outras duas Ocupações, as maiores, - Esperança e Vitória -, ficariam fora porque as famílias destas duas Ocupações não aceitaram o projeto de urbanização apresentado pela URBEL, no qual está claro que a Prefeitura e a URBEL querem demolir cerca de 1.000 casas nas duas ocupações. Não assinamos embaixo de nenhuma proposta de despejo, ou que não traga nenhuma alternativa prévia, digna e justa ao nosso povo.

De forma independente, as ocupações já realizaram estudos, construídos com assessoria aliada das ocupações e os próprios moradores participando de forma coletiva e apresentaram uma proposta alternativa onde se reduzia para menos de 100 as casas a serem demolidas.

Estudos como esse mostram o verdadeiro caráter higienista da prefeitura, que acha que para urbanizar é importante remover pobres e dar características que atraiam pessoas de poder aquisitivo maior para a região.

Companheiras e companheiros das Ocupações da Izidora, ao longo de mais de uma década, nosso rumo, o que guiou nossos caminhos foi a luta. Exigimos que a prefeitura de Belo Horizonte e a URBEL cumpram o seu papel e urbanizem as quatro Ocupações da Izidora - Helena Greco, Rosa Leão, Esperança e Vitória -, mas também exigimos que todo esse processo seja feito com respeito e em colaboração com as famílias que já vivem nas Comunidades da Izidora. Por isso, não podemos esperar parados quaisquer ações do poder público, devemos lutar para que a urbanização aconteça e que aconteça de forma justa para o bem do povo. Não aceitaremos despejos disfarçados de urbanização.

Assinam esta Nota Pública:

Coordenação da Ocupação Esperança

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)

Comissão Pastoral da Terra (CPT/RMBH)

Unidade Popular pelo Socialismo

Belo Horizonte, MG, 20 de junho de 2024

Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - URBEL/PBH ocupada pelo Povo da Ocupação Esperança, Izidora, BH/MG: Urbanização Justa e Popular, JÁ!




 



[1] Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte.

[2] Comissão Pastoral da Terra.

[3] Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas.

terça-feira, 11 de junho de 2024

JUSTIÇA PARA MARIA CRISEIDE DA SILVA E WELLINGTON MARCELINO ROMANA, defensores de Direitos Humanos injustamente condenados e vítimas de tortura e ela, de estupros na prisão

 JUSTIÇA PARA MARIA CRISEIDE DA SILVA E WELLINGTON MARCELINO ROMANA, defensores de Direitos Humanos injustamente condenados e vítimas de tortura e ela, de estupros na prisão



A trajetória e a jornada de horrores enfrentada por Maria Criseide da Silva e Wellington Marcelino Romana por conta da sua combatividade e coerência em histórica defesa dos Direitos Humanos fundamentais à terra e à moradia adequada estão imbricadas: são companheiros inseparáveis de vida e de luta. Começaram a militância muito jovens no Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, um dos maiores redutos do agronegócio do país.

Maria Criseide da Silva tem origem cigana. Começou sua militância em 2001 no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na Ocupação Emiliano Zapata (hoje, Assentamento Florestan Fernandes), em Uberlândia/MG. Aí conheceu e se casou com o companheiro Wellington Marcelino Romana, em 2005.  Ele assumiu e ajudou-a a criar seus três filhos.  

Wellington Marcelino Romana, conhecido como Marron, iniciou sua militância ainda adolescente, em Uberaba/MG, nas comunidades pobres, nos movimentos de favelas, no hip hop e nas rodas de samba.  Participou do movimento negro a partir da escola de samba e dos centros de culto de matriz africana da comunidade.  Integrou o MST na ocupação da Fazenda Saudade, em Santa Rosa/Uberaba. Esta foi brutalmente despejada pelo então governador Aécio Neves (PSDB/MG). Os trabalhadores sem-terra despejados foram para Uberlândia. Lá se estabeleceram na Ocupação Emiliano Zapata.

De 2005 em diante, Wellington e Maria Criseide continuaram juntos na luta permanente por terra, moradia e pelos Direitos Humanos. Em 2011 participaram da criação do Movimento dos Sem Teto do Brasil (MSTB). Juntamente com 2.350 famílias fundaram o Acampamento Glória/Élisson Pietro, em Uberlândia, o maior da América do Sul. Enfrentaram fazendeiros, multinacionais e grandes construtoras – o latifúndio e a especulação imobiliária.

Em 2014, Maria Criseide e Wellington foram condenados a 15 anos de prisão por um homicídio que não cometeram. Sofreram inquérito e processo sumários e fraudulentos, eivados dos mais escabrosos erros, irregularidades e falsidades - processo farsesco levado a cabo pela justiça burguesa sempre a serviço da propriedade e do capital. Wellington e Maria Criseide já estavam a tempos jurados de morte pelos latifundiários e empreiteiros da região. Não tiveram ainda o direito de se defender no processo. Mesmo sendo inocentes, foram condenados sem direito ao contraditório e ao devido processo legal.

No dia 13/03/2020, depois de seis anos de clandestinidade, foram presos em Goiás.  Um ano e quatro meses depois foram transferidos para Uberlândia: Maria Criseide para a Penitenciária Professor João Pimenta da Veiga e Wellington para o Presídio Professor Jacy de Assis. Permaneceram lá por dois anos e quatro meses. Foram torturados física e psicologicamente. Maria Criseide foi colocada em cativeiro clandestino dentro do sistema prisional - juntamente com Camila, sua colega de cela. Ficaram quase dois anos sem banho de sol e sem alimentação minimamente adequada.  Passaram 15 dias sem tomar banho, sem eletricidade e sem a luz do sol. Foram espancadas e estupradas pelo policial penal Wendel de Souza, chefe dos agentes penitenciários.

Maria Criseide e Wellington sofreram nos seus corpos o cotidiano das masmorras deste país: superlotação, torturas, assassinatos por espancamentos ou negligência, tratamentos cruéis e degradantes. Estão agora em liberdade graças a um alvará de soltura enquanto aguardam a revisão criminal de seu processo. São inocentes: foram condenados porque não negociam princípios, não abrem mão da luta pelos Direitos Humanos, por uma sociedade justa e igualitária. Reafirmam sempre a convicção de que nem o Estado nem ninguém tirarão deles sua dignidade e sua história de vida e de luta.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) já marcou e adiou quatro vezes o julgamento desta revisão criminal, o que prolonga a tortura psicológica dos companheiros os colocando em situação permanente de extrema ansiedade. Finalmente, está agora marcado o julgamento para o dia 17/06/2024, às 13h, no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Exigimos justiça para Maria Criseide e Wellington: que sua inocência seja confirmada juridicamente.

Solicitamos a todes que enviem e-mails exigindo justiça para Maria Criseide e Wellington aos desembargadores do TJMG que farão o julgamento da revisão criminal. Seguem os endereços e uma proposta de texto.

 

·        Proposta de texto:

Prezado Dr. xxx, boa tarde!

Nós, da ................................................................................., estamos acompanhando com atenção o julgamento da Revisão criminal nº 2940611-30.2022.8.13.0000 do processo de MARIA CRISEIDE DA SILVA e WELLINGTON MARCELINO ROMANA.

Somos inteiramente solidários com Maria Criseide e Wellington. Temos certeza que a justiça se fará presente do lado deles.

Ass.:........................................................

 

·        E-mails dos desembargadores:

2º Cartório de feitos especiais: segundocafes@tjmg.jus.br

Desembargador relator - Doorgal Borges de Andrada: gab.doorgalandrada@tjmg.jus.br

Desembargador revisor - Julio Cesar Lorens: gab.jclorens@tjmg.jus.br

Desembargador vogal - Correa Camargo: gab.correacamargo@tjmg.jus.br

 

Pedimos que copiem o escritório do advogado de defesa no e-mail: gregadvogados@gmail.com

 

Belo Horizonte, 11 de junho de 2024

 

Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - “Sou inocente!” Defensor de Direitos Humanos, Wellington Marcelino é inocente. Revisão Criminal, Já

2 - Homenagem a Maria Criseide e Wellington Marcelino. TJMG, são inocentes! Tortura/estupro, NUNCA MAIS!

3 - Maria Criseide, defensora DH, inocente, presa, estuprada várias vezes por Policial Penal na prisão

4 - Maria Criseide e Wellington, INOCENTES, mas pena 15 anos de prisão, presos a 4 anos, tortura/estupro



EZEQUIEL, QUE TIPO DE PROFETA E DE SACERDOTE? E NÓS? - Frei Gilvander

EZEQUIEL, QUE TIPO DE PROFETA E DE SACERDOTE? E NÓS? - Frei Gilvander Moreira[1]

Representação do profeta Ezequiel. Reprodução Redes Virtuais.

Atendendo a orientação do Movimento Bíblico integrado por várias organizações bíblicas, em 2024, o livro de Ezequiel foi escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para ser o texto bíblico do Mês da Bíblia, setembro. Ezequiel é considerado um dos doze grandes profetas da Bíblia, mas o livro de Ezequiel nos informa que Ezequiel era sacerdote também (Ez 1,3), tendo exercido suas funções de sacerdote e de profeta entre os anos 591 e 571 antes da Era Cristã (a.E.C.).

É possível ser sacerdote e profeta ao mesmo tempo? Ezequiel foi mais sacerdote ou mais profeta? Ezequiel foi que tipo de sacerdote e de profeta? Ezequiel primeiro foi sacerdote em Jerusalém e, após ser exilado para a Babilônia, se tornou profeta? Com estas perguntas, com um olho, passemos em revista alguns textos do livro de Ezequiel e com outro olho, estaremos atentos aos conflitos e desafios que as igrejas e pessoas cristãs estão colocando atualmente para os destinos do povo brasileiro.

Estamos no meio de uma realidade com uma maioria de pastores e sacerdotes lamentavelmente traindo o projeto do Deus da vida, Javé, e afundando o povo em políticas de morte capitaneadas pela direita e extrema-direita, que usa e abusa do nome de Deus e de textos bíblicos para tentar justificar moralismos, preconceitos, discriminações, perseguições chegando a matar em nome de Deus de muitas formas. Estamos em contexto de idolatria brutal com capa de religiosidade encabrestada por quem promove um projeto de poder político e econômico que passa por “pequenas igrejas, grandes negócios” e desagua na eleição de pastores que, no Congresso Nacional, se unem às Bancadas do Boi e da Bala, bancadas com atuação anti projeto do reino de Jesus.

Neste contexto de casamento do “sacerdócio” profissional com a classe dominante, tornou-se necessário resgatar a profecia mais radical que anima e inspira os povos injustiçados a se irmanarem, levantar a cabeça e, com utopia nos olhos, pés firmes no chão da história, marchar em lutas libertárias por “terra, teto e trabalho”, conforme apregoa o papa Francisco, ou lutas para construirmos uma sociedade do Bem-viver e conviver, uma sociedade socialista, para além do capitalismo.

 A missão primordial de profeta/profetisa é ecoar a “voz do Deus libertador” na sociedade, o que implica criticar, denunciar e execrar todas as instituições que reproduzem a injustiça social, econômica, política e religiosa, pois pela sua organização e lógica, tendem a defender o status quo opressor e explorador construído historicamente, o que geralmente abafa e cerceia a ação do espírito profético que incomoda os injustos e não coaduna com nenhuma injustiça.

Não podemos esquecer que no dólar do imperialismo estadunidense está escrito “nós acreditamos em Deus – We trust in God”. Na Guerra da Ucrânia os dois lados invocam a Deus para tentar justificar a guerra, enquanto o papa Francisco clama por paz, sem guerra e com justiça. Nas vestes dos soldados nazistas estava escrito “Deus está conosco”. A história da humanidade demonstra que ter a aparência de pessoa religiosa pavimenta a estrada para projetos de poder dominação.

Para Jesus e para o Deus da vida o centro da nossa atenção deve estar na vida ameaçada, conforme nos ensina a teologia de Lucas na parábola do samaritano, que foi reconhecido por Jesus como exemplo paradigmático a ser seguido (Cf. Lc 10,25-37).

Ciente de que a Palavra de Javé, Deus solidário e libertador, consola os aflitos e aflige os consolados e de que ninguém pode tocar o corpo dos escritos proféticos sem sentir a batida do coração divino, vamos ler o livro de Ezequiel, especialmente os capítulos 12 a 14 (Ez 12-14), buscando evidenciar até que ponto Ezequiel foi de fato profeta e não amordaçou a profecia. Leremos os textos na perspectiva dos/as injustiçados/as, dos mais empobrecidos, “das minorias abraâmicas”, segundo Dom Hélder Câmara, a partir dos/as periféricos/as e não a partir de quem está no poder, seja ele econômico, político ou religioso.

Quais pressupostos para a leitura do livro de Ezequiel devem ser considerados? No livro de Ezequiel há denúncia de muitos pecados. O livro de Ezequiel é o livro dos “sábios e entendidos” (Mt 11,25), da elite religiosa que foi deportada, mas não escravizada na Babilônia. Por isso Ezequiel precisa ser lido nas linhas e principalmente nas entrelinhas. Tudo que está na Bíblia é “Palavra de Deus”, mas nem tudo é vontade de Deus.  Jesus é por excelência a Palavra de Deus. A Bíblia é histórica e, portanto, tem nela as contradições dos grupos de poder da sociedade. Na Bíblia temos que encontrar a voz e a posição dos pequenos, dos injustiçados e fiéis à aliança com Deus libertador.

O livro de Ezequiel está recheado de oráculos proféticos que, normalmente, são introduzidos com uma fórmula característica que se repete muito: “Assim disse Javé....” ou “Oráculo de Javé” (Jr 9,22-23) ou “Palavra de Javé” (Ez 1,3; 2,7; 6,3; 9,11; 12,25; 13,2.6; 16,35; 21,3; 25;3; 33,30; 34,7.9; 36,1.4; 37,4). A expressão “ne’m YAHWEH”, em hebraico, geralmente traduzida por “oráculo de Javé” ou “Palavra de Javé”, significa sussurro, cochicho de Deus no ouvido do profeta ou da profetisa. Para entender um cochicho, um sussurro, é preciso fazer silêncio, prestar muita atenção, estar em sintonia, ter proximidade, ser amiga/o, discernir. Logo, Deus não falava claramente aos profetas e às profetisas da Bíblia, como nós, muitas vezes pensamos. Deus fala hoje para – e em - nós de forma semelhante, nem mais e nem menos, que falava aos profetas e às profetisas dos tempos bíblicos. Deus cochicha (sussurra) em nossos ouvidos, sempre a partir da realidade e dos clamores dos povos injustiçados, enfraquecidos, oprimidos (Cf. Ex 3,7-9), na trama complexa das relações humanas e sociais, na engrenagem das estruturas sociais, políticas, econômicas e religiosas. Quem compreende de forma sensata as causas das injustiças e violências se credencia a ser profeta/profetisa que denuncia as opressões e aponta caminhos libertadores. Entretanto, como “nem tudo que reluz é ouro”, assim também faz bem desconfiar de quem usa a torto e a direito a linguagem religiosa, faz questão de se afirmar como pessoa religiosa, pois pode estar vendendo ‘gato por lebre’ e sendo lobo em pele de cordeiro. Desconfie de pastor ou padre que para construir discursos sedutores, mas moralistas e exploradores, fica pulando de versículo bíblico em versículo como macaco que pula de galho em galho.

Obs.: No próximo texto continuaremos refletindo a partir do Livro de Ezequiel, livro do Mês da Bíblia de 2024.

11/06/2024

Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – Um Tom de resistência - Combatendo o fundamentalismo cristão na política

2 - Bíblia: privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no Palavra Ética

3 - Deram-nos a Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG. Vídeo 5

4 - Bíblia, Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste

5 - CEBI: 43 anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção pelos Pobres



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

terça-feira, 7 de maio de 2024

Deus pede: “cultive, pastoreie, seja jardineiro/a”. Por frei Gilvander

Deus pede: “cultive, pastoreie, seja jardineiro/a”. Por frei Gilvander Moreira[1]

Foto: Reprodução/Demaisnews

O 10º evento extremo no sul do Brasil, em um ano, está golpeando os povos do Rio Grande do Sul e toda a biodiversidade, com quase 1  milhão de pessoas atingidas e o número de mortos podendo ultrapassar 200. As imagens de destruição são apocalípticas e estarrecedoras. Primeiro, temos que expressar nossa imprescindível solidariedade ao povo gaúcho da forma mais efetiva possível e, segundo, temos que reconhecer que as sirenes da Emergência Climática estão rugindo como um leão, de forma estridente.

Feliz quem ouvir e se comprometer com as lutas populares e socioambientais necessárias para frear as retroescavadeiras e os tanques de guerra das mineradoras, as carretas, o agronegócio com monoculturas que desertificam os territórios, contaminam alimentos, terra, ar e águas com exagero de agrotóxicos e o desenvolvimento econômico que constrói oásis de luxo à custa de miséria, fome, morte e devastação socioambiental para a maioria. Basta deste sistema capitalista, brutal máquina de moer vidas e causador maior das implacáveis mudanças climáticas!

A humanidade está sendo encurralada no desfiladeiro de um apocalipse provocado pelo sistema capitalista, a elite, a classe dominante e grande parcela da classe trabalhadora que, alienada, movimenta a máquina de moer vidas, que é o atual modelo econômico com idolatria do mercado. Nossa única casa comum está sendo sacrificada no altar do ídolo mercado. Como um grande ser vivo, Gaia, a Terra está cotidianamente sendo apunhalada e submetida à tortura com queimaduras que a deixam sangrando. Devastar o ambiente é como arrancar a pele da mãe Terra e deixá-la sujeita às intempéries de poeira, calor, ácido...

Recentemente, em missão em Comunidades ribeirinhas da Prelazia de Itaituba, no Pará, e na Diocese de Humaitá, no sul do estado do Amazonas, vi e ouvi que as águas dos grandes rios Tapajós e Madeira estão contaminadas com mercúrio e vários outros metais pesados, segundo pesquisas da Universidade Federal do Amazonas. Mortandade de peixes e adoecimento de pessoas e animais é o que mais se ouve. Os ribeirinhos sofrendo as consequências de secas nunca vistas, calor escaldante e densas nuvens de fumaça exaladas pelo fogo que faz arder a floresta amazônica em muitos meses todo ano. Isso compromete a constituição dos rios aéreos imprescindíveis para fazer chover em outras regiões.

Neste contexto de eventos climáticos cada vez mais frequentes e letais, faz-se necessário resgatarmos a fina flor da mística bíblica que mostra a íntima relação do ser humano com a mãe terra, a irmã água, enfim, a natureza. Resgatemos esta relação antes que seja tarde.

Na Bíblia, no primeiro relato da criação (Gn 1,1-2,4a) se repete, inúmeras vezes, a palavra “terra” (12 vezes em Gn 1; 57 vezes em Gn 1-11). Isso é forte indício de que o texto foi escrito por um povo na época em que estava longe da terra, no exílio da Babilônia (587-538 antes da era cristã). Sentindo a falta de terra e de território, que era sinal da bênção de Deus, o povo resgata as origens revelando um grande encantamento e reverência pela terra. Sente-se filho da terra. Temos que recordar a ênfase dada na segunda versão sobre a criação (Gen 2,4b-25) sobre o “cultivar, pastorear, ser jardineiro”. Olhando a totalidade das duas versões da criação (Gen 1,1-2,4a e Gen 2,4b-25), temos que concluir que o espírito de Deus pede cuidado, pastoreio e manuseio responsável socioecológico e jamais incentiva a dominação e a devastação ambiental como, infelizmente, o modelo capitalista de desenvolvimento vem fazendo no Brasil e no mundo.

O primeiro relato da Criação (Gen 1,1-2,4a) mostra o ser humano profundamente ligado, interconectado, a todas as criaturas do universo. De uma forma poética, o relato bíblico insiste na fraternidade de fundo que existe entre todos os seres vivos que são uma beleza. Deus, ao criar, sempre se extasia diante de todas as criaturas e exclama: “Que beleza! Bom! Muito bom!” O poeta cantor e compositor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), José Vicente, capta muito bem a mística que envolve, permeia e perpassa todo o relato da Criação: “Olha a glória de Deus brilhando ...”, em todos/as e em tudo.

O segundo relato da Criação (Gen 2,4b-25) mostra o ser humano intimamente ligado com a terra e com as águas. “Não havia nenhuma vegetação, porque Javé Deus não tinha feito chover sobre a terra e não havia homem para cultivar o solo” (Gen 2,5). Dois seres imprescindíveis e interdependentes para que o mundo se transforme em um paraíso com sociobiodiversidade: água e ser humano. A água, junto com a terra, é a mãe da vida. Sem ela, tudo morre. Assassinar uma nascente, poluir um rio, deve ser considerado crime hediondo de lesa pátria. O ser humano é outro ser imprescindível, mas como cultivador, jamais como explorador e depredador.

Os povos da Bíblia construíram unidade no meio de muita pluralidade, a partir de suas experiências religiosas com o seu Deus, o Deus de Abrão, de Isaac e de Jacó, Deus também de Sara e Agar, de Rebeca e de Raquel. Mesmo integrando aos seus escritos textos de outros povos, os/as autores/ras da Bíblia sempre os adequava à sua experiência de fé e de convivência ética.

O gênero literário sapiencial, por exemplo, era internacionalmente conhecido na época bíblica e usado foi também pelos povos da Bíblia. É importante saber que o modo de pensar e agir oriental são diferentes do modo de pensar e agir ocidental capitalista. No pensamento oriental predomina a intuição e a preocupação ética – que fazer e como? -, por isso, nem toda a narrativa classificada como histórica o é de fato. Na compreensão dos/as autores/ras da Bíblia, o importante é a mensagem que eles e elas queriam passar aos leitores. Enquanto para o pensamento ocidental predomina a razão e o raciocínio argumentativo, para o/a historiador/a de nossos dias interessa a exatidão dos fatos, entre o escrito e o acontecido. Os/as autores/ras bíblicos se interessam mais pelo fato, como um todo, não pela exatidão dos seus detalhes, o importante é testemunhar sua experiência de vida que tem sido caminho de libertação e salvação.

A mobilização por solidariedade e pela reconstrução das condições de vida do povo gaúcho e de toda a biodiversidade não pode ser apenas quando as situações extremas de clima são evidentes como agora. Reconstruir como e onde? Reconstruir como era antes no mesmo lugar será insensato, pois outros eventos extremos acontecerão e poderão ser mais letais e destruidores. É preciso urgentemente combater o negacionismo climático e, sobretudo, o capitalismo, sistema perverso, que acelera a velocidade da devastação ambiental. Capitalismo mata mesmo! É importante lembrar também que as condições extremas de clima atingem de forma diferenciada as pessoas, os empobrecidos são os primeiros e os mais golpeados. Por isso, precisamos também de justiça climática!

Temos que denunciar que as bancadas do agronegócio, do boi, da bala e da Bíblia, no Congresso Nacional criaram bomba climática ao destruir a legislação ambiental, ao flexibilizar leis para criar capa de legalidade para desmatamentos criminosos. Estão com as mãos sujas de sangue todos que nos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, no poder midiático e no poder econômico tomaram decisões políticas/econômicas e aprovaram legislações que pisoteavam no meio ambiente para abrir espaço para que o grande capital lucrasse e acumulasse capital à custa da trituração do meio ambiente.

A todas as pessoas pedimos que parem de maltratar mais a Mãe Terra, que está sendo torturada. A Terra é nossa mãe e é sagrada. As águas, os rios, os animais e as florestas estão pedindo socorro. A Natureza tem direitos. Continuar torturando a Terra é acelerar a chegada do apocalipse da humanidade e de milhões de outras espécies de seres vivos. Como jardineiros/as, cuidemos da Mãe Terra.

07/05/2024

Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versa sobre o assunto tratado, acima.

1 - Barragens do Rio Madeira devastam vida dos Povos e Floresta. E os Madeireiros? Ouça os Ribeirinhos!

2 - Amazônia pede SOCORRO! Ribeirinha: amor à Amazônia, seca, calor exagerado, nuvem de fumaça e doenças

3 - Garimpeiros tradicionais, Dep. Célia Xakriabá, Dep. Padre João: 32ª Romaria Trabalhadores Mariana/MG

4 - Barragem produz centenas de famílias sem-teto: Ocupação Irmã Dorothy, Salto da Divisa, MG, em terreno, lixão, da União, SPU: 240 famílias na luta por terra e moradia há 3 anos. Vídeo 3 – 20/04/24

5 - MPF, DPE/MG, Rede de Apoio e Juíza Federal Retomada Kamakã Mongoió, Brumadinho/MG. "Demarcação, JÁ!"

6 - “Demarcação, JÁ! Daqui não saímos!” Juíza federal na Retomada Kamakã Mongoió, Brumadinho/MG. Vídeo 4



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. Autor de livros e artigos. E “cineasta amador” (videotuber) com mais de 6.000 vídeos de luta por direitos no youtube, canal “Frei Gilvander luta pela terra e por direitos”. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III