Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
sexta-feira, 28 de junho de 2024
Ezequiel: a glória de Javé com os deserdados da terra? - Mês da Bíblia 2024 - Por frei Gilvander
terça-feira, 25 de junho de 2024
Profetas versus sacerdotes. E em Ezequiel? Por Frei Gilvander
Profetas versus sacerdotes. E em Ezequiel? Por Frei Gilvander Moreira[1]
Terceiro pequeno texto para iluminar as Comunidades
Cristãs no mês da Bíblia de 2024 – setembro - sobre o Livro de Ezequiel. O
Livro de Ezequiel apresenta Ezequiel como sacerdote e profeta. Importante
ressaltar que há várias formas de compreender o que é sacerdote e profeta.
Sacerdote no sentido mais profundo e etimológico do termo significa aquele que
revela o sagrado existente nas relações humanas, naturais e sociais. Mas também
‘sacerdote’ pode significar o funcionário de uma instituição religiosa,
responsável pela realização do culto, com poder sobre a comunidade e que
geralmente é encarado como “representante de Deus” nas questões tidas como sagradas.
Neste sentido, em muitas passagens bíblicas os profetas e profetisas denunciam
sacerdotes como cúmplices de processos de opressão e de exploração. Por
exemplo, em Juízes 19 a 21, são os sacerdotes que tocam a trombeta conclamando
para guerra fratricida entre as comunidades que deveriam viver na fraternidade.
Em Amós 7,10-17, o profeta Amós é expulso do templo
de Betel pelo sacerdote Amasias, que acumpliciado ao rei Jeroboão, opressor,
fica incomodado com a profecia de Amós que anuncia que Israel será exilado e
Jeroboão será morto. Em Am 7,14, Amós se
recusa a ser considerado profeta segundo a ótica de um sacerdote vassalo do
poder político. Amós denuncia e ridiculariza o sacerdote manietado pelo rei
opressor. Am
7,10-17 quer legitimar o conteúdo da profecia de Amós e ajudar as comunidades a
superarem todos os preconceitos que possam existir contra o profeta por causa
da sua origem humilde.
O relato de Am 7,10-17 quer nos dizer que a
profecia vem da margem, da periferia, do meio dos marginalizados e excluídos.
São estes, por excelência, os “intérpretes de Javé”, profetas e profetisas. O
rei (e a monarquia) e o Templo expulsam o profeta, silenciando-o. Sem profetas,
o povo sofrerá muito mais. Ai de um povo que não escuta seus profetas e
profetisas e, pior ainda, que os persegue, expulsa e os silencia.
Textos proféticos na Bíblia denunciam também os falsos
profetas, os profetas “profissionais” ligados à corte do poder político,
econômico e religioso.
Na Bíblia temos também a reação dos profetas diante das
tentativas de privatização da profecia, deixando-as restritas às instituições
religiosas. É o caso denunciado no livro de Números 11. Enquanto os povos
escravizados enfrentavam a caminhada no deserto, após a libertação do
imperialismo dos faraós no Egito, e enquanto lidavam com os desertos
interiores, a Bíblia narra que os profetas Eldad e Medad estavam profetizando
no Acampamento, fora da tenda (Nm 11,27), na caminhada pelo deserto rumo à
conquista da “terra que mana leite e mel”
(Ex 33,3; Dt 6,3; 26,9). Apareceu gente querendo proibir a profecia de Eldad e
Medad, porque “eles eram de fora” da tenda. Às pessoas que ficaram iradas com a
profecia de Eldad e Medad, fora da instituição, Moisés bradou: “Oxalá todo o povo fosse profeta e recebesse
o Espírito de Javé, Deus solidário e libertador” (Nm 11,29).
Segundo a tradição deuteronômica, na Bíblia, quando o poder do rei de Judá, do Sul, se tornou
tirânico sobre as tribos do norte, Deus inspirou profetas que incomodaram os
que defendem a unidade. A divisão, ou seja, a separação (cisma) foi defendida
como algo inspirado por Deus Javé. Quando o rei Roboão, de Judá, quis lutar
para resgatar a unidade e trazer de volta ao seu reino as tribos/comunidades do
norte, de acordo com o texto bíblico, a palavra de Deus foi dirigida ao
profeta Semei nos seguintes
termos: “Fala a Roboão: volta para casa e não tente resgatar a
unidade com Israel. Essa divisão fui eu que fiz” (1 Reis 12, 22- 24).
Muitas vezes para superar injustiças é preciso quebrar a aparente unidade que
esconde desigualdade e reproduz injustiça. Eis o rumo: não trabalhar com a
busca de consenso e de apaziguamento a qualquer preço, mas buscar sempre relações
de ética e de justiça, mesmo que para isso precisam reconhecer a legitimidade
do dissenso.
Na Bíblia, muitas vezes, os profetas se opuseram e
denunciaram com veemência os sacerdotes
do templo que se colocavam como se fossem proprietários de Deus,
“representantes de Deus” na terra, o que na prática busca privatizar Deus
domesticando-o. Ao denunciar a religião ritual e formalista como sendo mera
busca de autoajuda e de segurança humana individual, os profetas tiveram que se
posicionar contra muitos aspectos da cultura popular e do senso comum
contaminado pela ideologia dominante, que gosta da religião e contra o consenso
da unidade formada a partir do poder sacerdotal.
Certa vez um arcebispo questionou o pessoal do
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) por não estarem atuando em “unidade
com a Igreja da Arquidiocese”. Disse ele: “Vocês
estão fazendo círculos bíblicos e escolas bíblicas por aí sem minha autorização”.
Neste tipo de afirmação está esdrúxula concepção de unidade como se fosse
uniformidade, onde um hierarca está em cima e manda em quem está embaixo. Isto
é lógica totalmente antiprofética. A unidade como relação de comunhão se
constrói e se cultiva a partir e na base de relações humanas e sociais de
justiça e ética, o que passa necessariamente por criticar e denunciar o que é
injusto.
Na Bíblia há passagens que mostram vários profetas
sendo ameaçados de morte por sacerdotes, como é o caso dos profetas Amós e Jeremias. Os profetas e profetizas
proclamaram que a aliança que Deus fez com o povo hebreu no monte Sinai tinha como base que todo
povo se tornasse sacerdotal, isso é, mediador do Amor Divino em relação à
humanidade e ao universo: “Vós sereis
para mim um reino de sacerdotes, uma nação toda santa” (Ex 19,6).
Etimologicamente sacerdote é quem tem a missão de revelar e explicitar a
presença da luz e da força divina no mundo, ou seja, mostrar a sacralidade da
vida e das relações humanas e ecológicas que devem se pautar por ética e
justiça. Neste sentido etimológico, sacerdote e profeta/profetisa têm missão
semelhantes. Entretanto, quando, historicamente, o sacerdote se torna um
funcionário da instituição religiosa e organiza e estrutura as relações humanas
com ele (o sacerdote) se colocando no topo de uma pirâmide e lhe autoatribui o
poder de definir e determinar o que é pecado ou não, como se comportar, quais
são os deveres do povo que está na base da pirâmide, isto significa privatizar
o sacerdócio concedendo poder dominação, o que o torna antiprofético.
Obs.: No próximo texto, o 4º,
continuaremos refletindo a partir do Livro de Ezequiel, livro do Mês da Bíblia
de 2024.
25/06/2024
Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o
assunto tratado, acima.
1 – Ezequiel, que tipo de Profeta e de Sacerdote? E nós? Vem aí o
mês da Bíblia 2024. Por frei Gilvander
2 - Um Tom de resistência - Combatendo o
fundamentalismo cristão na política
3 - Bíblia:
privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no
Palavra Ética
4 - Deram-nos a
Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG.
Vídeo 5
5 - Bíblia,
Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste
6 - CEBI: 43
anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção
pelos Pobres
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela
FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia
pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em
Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de
“Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte,
MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis –
Facebook: Gilvander Moreira III
quinta-feira, 20 de junho de 2024
Nota urgente! Prefeito de Belo Horizonte, Fuad, deixará as Ocupações Esperança e Vitória, da Izidora, fora do projeto de Urbanização?
Nota urgente! Prefeito de Belo Horizonte, Fuad, deixará as Ocupações Esperança e Vitória, da Izidora, fora do projeto de Urbanização?
Dia 19 de junho de 2024, cedo, a sede da
URBEL[1] da
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) foi ocupada pelo Povo da Ocupação Esperança
com participação do Povo das Ocupações Carolina Maria de Jesus e Maria do
Arraial, juventude do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e da
UP (Unidade Popular pelo Socialismo), e com o apoio da Comissão Pastoral da
Terra da Região Metropolitana de BH (CPT/RMBH).
A ocupação da URBEL durou quase dois
dias. O presidente da URBEL, Claudius
Vinícius, se negou a reunir com uma Comissão do Povo que ocupava a URBEL. Postura
intransigente, inadmissível e absurda de um gestor público que tem a missão de
coordenar a política habitacional da PBH. Cerca de 70 policiais da Guarda armada
da Prefeitura de BH foram mobilizados com ordens para não deixar ninguém mais
entrar e nem alimento durante o 1º dia. O Povo passou fome o dia inteiro dentro
da URBEL, pois quando as panelas com o almoço chegaram não deixaram entrar o
almoço. Assim, centenas de pessoas ficaram passando fome, entre as quais,
crianças, idosos, gestantes, mulheres.
Tivemos que ocupar a sede da URBEL,
porque a URBEL e Prefeitura de BH ainda não abriram mão de demolir cerca de
1.000 casas – ação higienista - nas Ocupações Vitória e Esperança com proposta
de Urbanização que não é Justa, nem Ética e não considera a Participação Popular.
Não aceitamos um modelo de urbanização que implique em despejo de centenas de
casas construídas com muito trabalho, suor e sangue. Honraremos Manoel Baía,
Kadu e outros companheiros que foram mortos na luta das Ocupações da Izidora
por moradia própria e adequada.
De forma autônoma, as Ocupações
Esperança e Vitória já realizaram estudos, construído com assessoria aliada das
ocupações e os próprios moradores participando de forma coletiva, e
apresentaram Proposta de Urbanização alternativa onde se reduz para menos de
100 as casas a serem demolidas. Por que não construir na fazenda de um grande
supermercado ao lado da Ocupação Esperança a Avenida que a URBEL diz que deve
ser construída rasgando a Ocupação Esperança ao meio, evitando demolir 300
casas? Na Ocupação Vitória não há necessidade de um grande supermercado, mas,
sim, de dezenas de pequenos mercados.
A PBH teve a postura absurda de pedir
judicialmente a reintegração de posse da sede da URBEL, ou seja, pedir ao
judiciário decisão para jogar a tropa de choque da PM para despejar centenas de
pessoas que lutam por direitos humanos fundamentais. Se houvesse abertura para
o diálogo da direção da URBEL, não seria necessário ocupar a URBEL. Resolvemos
sair do prédio da URBEL na iminência da tropa de choque da PM e Guarda
Municipal entrar, pois com postura ética preferimos evitar que crianças,
idosos, mulheres fossem machucadas, presas e aterrorizadas pela truculência da
tropa de choque. Entretanto, se a posição injusta da PBH e da URBEL não mudar,
se URBEL e PBH não assumirem compromisso com um Plano de Urbanização Justa,
Ética e com Participação Popular, VOLTAREMOS também com o Povo da Ocupação
Vitória em número muito maior e com mais força.
Como toda ação gera uma reação, a
ocupação do prédio da URBEL se tornou necessária e justa também pelo que segue
abaixo.
Dia 8 de maio último (de 2024), o
presidente Lula anunciou a liberação de milhões de reais pelo Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) para Prefeitura de Belo Horizonte (PBGH) fazer
a urbanização de duas Ocupações da região da Izidora, em Belo Horizonte, MG: as
ocupações Rosa Leão e Helena Greco, as duas com cerca de 2.000 famílias; Rosa
Leão há 11 anos e Helena Greco com 13 anos de luta. A imprensa divulgou valores
diferentes. Um site noticiou 250 milhões de reais; outro, 191 milhões de reais
e outro, 41 milhões de reais. Pelo princípio da transparência, exigimos saber
ao certo os valores anunciados, onde serão aplicados e como?
Foi anunciada a construção de 275
unidades do Minha Casa Minha Vida na região da Izidora, em Belo Horizonte. Construir
onde? Na Ocupação Helena Greco, onde a URBEL, da PBH, tem projeto para demolir
todas as 400 casas que foram autoconstruídas ao longo de 13 anos de luta? Se
sim, as outras 125 famílias irão morar onde? Quanto tempo todas as famílias da
Ocupação Helena Greco ficarão sem moradia própria?
Por mais de uma década, a prefeitura esteve
do outro lado da barricada e em diversos momentos fez de tudo para que as
ocupações fossem despejadas. A resistência das 9.000 famílias das quatro
Ocupações da Izidora manteve as casas de pé e, mais, construíram de forma
autônoma, verdadeiros bairros consolidados.
A urbanização justa, ética e popular é
uma luta histórica das Ocupações da Izidora e não pode ser realizada de forma
atropelada e sem a participação do povo. As ocupações Vitória e Esperança estão
hoje fora do plano de urbanização da prefeitura, porque não conciliaram com as
propostas absurdas feitas pelo poder público municipal. Dia 30 de outubro de
2023, lideranças das Ocupações da Izidora, com integrantes da CPT[2], das
Brigadas Populares, do MLB[3] e
assessoria técnica foram recebidas em reunião pelo prefeito de Belo Horizonte,
Fuad Noman, que iniciou a reunião dizendo que a Prefeitura de BH, através da
URBEL, já estava com projetos prontos para encaminhar ao presidente Lula para
urbanizar as Ocupações Rosa Leão e Helena Greco com dinheiro do PAC, mas que as
outras duas Ocupações, as maiores, - Esperança e Vitória -, ficariam fora
porque as famílias destas duas Ocupações não aceitaram o projeto de urbanização
apresentado pela URBEL, no qual está claro que a Prefeitura e a URBEL querem demolir
cerca de 1.000 casas nas duas ocupações. Não assinamos embaixo de nenhuma
proposta de despejo, ou que não traga nenhuma alternativa prévia, digna e justa
ao nosso povo.
De forma independente, as ocupações já
realizaram estudos, construídos com assessoria aliada das ocupações e os
próprios moradores participando de forma coletiva e apresentaram uma proposta
alternativa onde se reduzia para menos de 100 as casas a serem demolidas.
Estudos como esse mostram o verdadeiro
caráter higienista da prefeitura, que acha que para urbanizar é importante
remover pobres e dar características que atraiam pessoas de poder aquisitivo
maior para a região.
Companheiras e companheiros das Ocupações da Izidora, ao longo de mais de uma década, nosso rumo, o que guiou nossos caminhos foi a luta. Exigimos que a prefeitura de Belo Horizonte e a URBEL cumpram o seu papel e urbanizem as quatro Ocupações da Izidora - Helena Greco, Rosa Leão, Esperança e Vitória -, mas também exigimos que todo esse processo seja feito com respeito e em colaboração com as famílias que já vivem nas Comunidades da Izidora. Por isso, não podemos esperar parados quaisquer ações do poder público, devemos lutar para que a urbanização aconteça e que aconteça de forma justa para o bem do povo. Não aceitaremos despejos disfarçados de urbanização.
Assinam esta
Nota Pública:
Coordenação
da Ocupação Esperança
Movimento
de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)
Comissão
Pastoral da Terra (CPT/RMBH)
Unidade Popular pelo Socialismo
Belo Horizonte, MG, 20 de junho de 2024
Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o
assunto tratado, acima.
1 - URBEL/PBH ocupada pelo Povo da Ocupação Esperança,
Izidora, BH/MG: Urbanização Justa e Popular, JÁ!
terça-feira, 11 de junho de 2024
JUSTIÇA PARA MARIA CRISEIDE DA SILVA E WELLINGTON MARCELINO ROMANA, defensores de Direitos Humanos injustamente condenados e vítimas de tortura e ela, de estupros na prisão
JUSTIÇA PARA MARIA CRISEIDE DA SILVA E WELLINGTON MARCELINO ROMANA, defensores de Direitos Humanos injustamente condenados e vítimas de tortura e ela, de estupros na prisão
A trajetória e a jornada de horrores enfrentada por Maria Criseide da Silva e Wellington Marcelino Romana por conta da sua combatividade e coerência em histórica defesa dos Direitos Humanos fundamentais à terra e à moradia adequada estão imbricadas: são companheiros inseparáveis de vida e de luta. Começaram a militância muito jovens no Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, um dos maiores redutos do agronegócio do país.
Maria Criseide da Silva tem origem cigana. Começou sua militância em 2001 no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na Ocupação Emiliano Zapata (hoje, Assentamento Florestan Fernandes), em Uberlândia/MG. Aí conheceu e se casou com o companheiro Wellington Marcelino Romana, em 2005. Ele assumiu e ajudou-a a criar seus três filhos.
Wellington Marcelino Romana, conhecido como Marron, iniciou sua militância ainda adolescente, em Uberaba/MG, nas comunidades pobres, nos movimentos de favelas, no hip hop e nas rodas de samba. Participou do movimento negro a partir da escola de samba e dos centros de culto de matriz africana da comunidade. Integrou o MST na ocupação da Fazenda Saudade, em Santa Rosa/Uberaba. Esta foi brutalmente despejada pelo então governador Aécio Neves (PSDB/MG). Os trabalhadores sem-terra despejados foram para Uberlândia. Lá se estabeleceram na Ocupação Emiliano Zapata.
De 2005 em diante, Wellington e Maria Criseide continuaram juntos na luta permanente por terra, moradia e pelos Direitos Humanos. Em 2011 participaram da criação do Movimento dos Sem Teto do Brasil (MSTB). Juntamente com 2.350 famílias fundaram o Acampamento Glória/Élisson Pietro, em Uberlândia, o maior da América do Sul. Enfrentaram fazendeiros, multinacionais e grandes construtoras – o latifúndio e a especulação imobiliária.
Em 2014, Maria Criseide e Wellington foram condenados a 15 anos de prisão por um homicídio que não cometeram. Sofreram inquérito e processo sumários e fraudulentos, eivados dos mais escabrosos erros, irregularidades e falsidades - processo farsesco levado a cabo pela justiça burguesa sempre a serviço da propriedade e do capital. Wellington e Maria Criseide já estavam a tempos jurados de morte pelos latifundiários e empreiteiros da região. Não tiveram ainda o direito de se defender no processo. Mesmo sendo inocentes, foram condenados sem direito ao contraditório e ao devido processo legal.
No dia 13/03/2020, depois de seis anos de clandestinidade, foram presos em Goiás. Um ano e quatro meses depois foram transferidos para Uberlândia: Maria Criseide para a Penitenciária Professor João Pimenta da Veiga e Wellington para o Presídio Professor Jacy de Assis. Permaneceram lá por dois anos e quatro meses. Foram torturados física e psicologicamente. Maria Criseide foi colocada em cativeiro clandestino dentro do sistema prisional - juntamente com Camila, sua colega de cela. Ficaram quase dois anos sem banho de sol e sem alimentação minimamente adequada. Passaram 15 dias sem tomar banho, sem eletricidade e sem a luz do sol. Foram espancadas e estupradas pelo policial penal Wendel de Souza, chefe dos agentes penitenciários.
Maria Criseide e Wellington sofreram nos seus corpos o cotidiano das masmorras deste país: superlotação, torturas, assassinatos por espancamentos ou negligência, tratamentos cruéis e degradantes. Estão agora em liberdade graças a um alvará de soltura enquanto aguardam a revisão criminal de seu processo. São inocentes: foram condenados porque não negociam princípios, não abrem mão da luta pelos Direitos Humanos, por uma sociedade justa e igualitária. Reafirmam sempre a convicção de que nem o Estado nem ninguém tirarão deles sua dignidade e sua história de vida e de luta.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) já marcou e adiou quatro vezes o julgamento desta revisão criminal, o que prolonga a tortura psicológica dos companheiros os colocando em situação permanente de extrema ansiedade. Finalmente, está agora marcado o julgamento para o dia 17/06/2024, às 13h, no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Exigimos justiça para Maria Criseide e Wellington: que sua inocência seja confirmada juridicamente.
Solicitamos a todes que enviem e-mails exigindo justiça para Maria Criseide e Wellington aos desembargadores do TJMG que farão o julgamento da revisão criminal. Seguem os endereços e uma proposta de texto.
· Proposta de texto:
Prezado Dr. xxx, boa tarde!
Nós, da ................................................................................., estamos acompanhando com atenção o julgamento da Revisão criminal nº 2940611-30.2022.8.13.0000 do processo de MARIA CRISEIDE DA SILVA e WELLINGTON MARCELINO ROMANA.
Somos inteiramente solidários com Maria Criseide e Wellington. Temos certeza que a justiça se fará presente do lado deles.
Ass.:........................................................
· E-mails dos desembargadores:
2º Cartório de feitos especiais: segundocafes@tjmg.jus.br
Desembargador relator - Doorgal Borges de Andrada: gab.doorgalandrada@tjmg.jus.br
Desembargador revisor - Julio Cesar Lorens: gab.jclorens@tjmg.jus.br
Desembargador vogal - Correa Camargo: gab.correacamargo@tjmg.jus.br
Pedimos que copiem o escritório do advogado de defesa no e-mail: gregadvogados@gmail.com
Belo Horizonte, 11 de junho de 2024
Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 - “Sou inocente!” Defensor de Direitos Humanos, Wellington Marcelino é inocente. Revisão Criminal, Já
2 - Homenagem a Maria Criseide e Wellington Marcelino. TJMG, são inocentes! Tortura/estupro, NUNCA MAIS!
3 - Maria Criseide, defensora DH, inocente, presa, estuprada várias vezes por Policial Penal na prisão
4 - Maria Criseide e Wellington, INOCENTES, mas pena 15 anos de prisão, presos a 4 anos, tortura/estupro
EZEQUIEL, QUE TIPO DE PROFETA E DE SACERDOTE? E NÓS? - Frei Gilvander
EZEQUIEL, QUE TIPO DE PROFETA E DE SACERDOTE? E NÓS? - Frei Gilvander Moreira[1]
Representação do profeta Ezequiel. Reprodução Redes Virtuais.
Atendendo
a orientação do Movimento Bíblico integrado por várias organizações bíblicas,
em 2024, o livro de Ezequiel foi escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB) para ser o texto bíblico do Mês da Bíblia, setembro. Ezequiel
é considerado um dos doze grandes profetas da Bíblia, mas o livro de Ezequiel
nos informa que Ezequiel era sacerdote também (Ez 1,3), tendo exercido suas
funções de sacerdote e de profeta entre os anos 591 e 571 antes da Era Cristã
(a.E.C.).
É
possível ser sacerdote e profeta ao mesmo tempo? Ezequiel foi mais sacerdote ou
mais profeta? Ezequiel foi que tipo de sacerdote e de profeta? Ezequiel
primeiro foi sacerdote em Jerusalém e, após ser exilado para a Babilônia, se
tornou profeta? Com estas perguntas, com um olho, passemos em revista alguns
textos do livro de Ezequiel e com outro olho, estaremos atentos aos conflitos e
desafios que as igrejas e pessoas cristãs estão colocando atualmente para os
destinos do povo brasileiro.
Estamos
no meio de uma realidade com uma maioria de pastores e sacerdotes
lamentavelmente traindo o projeto do Deus da vida, Javé, e afundando o povo em
políticas de morte capitaneadas pela direita e extrema-direita, que usa e abusa
do nome de Deus e de textos bíblicos para tentar justificar moralismos,
preconceitos, discriminações, perseguições chegando a matar em nome de Deus de
muitas formas. Estamos em contexto de idolatria brutal com capa de
religiosidade encabrestada por quem promove um projeto de poder político e
econômico que passa por “pequenas igrejas, grandes negócios” e desagua na
eleição de pastores que, no Congresso Nacional, se unem às Bancadas do Boi e da
Bala, bancadas com atuação anti projeto do reino de Jesus.
Neste
contexto de casamento do “sacerdócio” profissional com a classe dominante,
tornou-se necessário resgatar a profecia mais radical que anima e inspira os
povos injustiçados a se irmanarem, levantar a cabeça e, com utopia nos olhos,
pés firmes no chão da história, marchar em lutas libertárias por “terra, teto e
trabalho”, conforme apregoa o papa Francisco, ou lutas para construirmos uma
sociedade do Bem-viver e conviver, uma sociedade socialista, para além do
capitalismo.
A missão primordial de profeta/profetisa é
ecoar a “voz do Deus libertador” na sociedade, o que implica criticar,
denunciar e execrar todas as instituições que reproduzem a injustiça social,
econômica, política e religiosa, pois pela sua organização e lógica, tendem a
defender o status quo opressor e
explorador construído historicamente, o que geralmente abafa e cerceia a ação
do espírito profético que incomoda os injustos e não coaduna com nenhuma
injustiça.
Não podemos esquecer
que no dólar do imperialismo estadunidense está escrito “nós acreditamos em
Deus – We trust in God”. Na Guerra da Ucrânia os dois lados invocam a Deus para
tentar justificar a guerra, enquanto o papa Francisco clama por paz, sem guerra
e com justiça. Nas vestes dos soldados nazistas estava escrito “Deus está
conosco”. A história da humanidade demonstra que ter a aparência de pessoa
religiosa pavimenta a estrada para projetos de poder dominação.
Para Jesus e para o
Deus da vida o centro da nossa atenção deve estar na vida ameaçada, conforme
nos ensina a teologia de Lucas na parábola do samaritano, que foi reconhecido
por Jesus como exemplo paradigmático a ser seguido (Cf. Lc 10,25-37).
Ciente de que a Palavra de Javé, Deus solidário e
libertador, consola os aflitos e aflige os consolados e de que ninguém pode tocar o corpo dos escritos proféticos sem sentir
a batida do coração divino, vamos ler o livro de Ezequiel, especialmente
os capítulos 12 a 14 (Ez 12-14), buscando evidenciar até que ponto Ezequiel foi
de fato profeta e não amordaçou a profecia. Leremos os textos na perspectiva
dos/as injustiçados/as, dos mais empobrecidos, “das minorias abraâmicas”,
segundo Dom Hélder Câmara, a partir dos/as periféricos/as e não a partir de
quem está no poder, seja ele econômico, político ou religioso.
Quais pressupostos
para a leitura do livro de Ezequiel devem ser considerados? No livro de Ezequiel
há denúncia de muitos pecados. O livro de Ezequiel é o livro dos “sábios e
entendidos” (Mt 11,25), da elite religiosa que foi deportada, mas não
escravizada na Babilônia. Por isso Ezequiel precisa ser lido nas linhas e principalmente
nas entrelinhas. Tudo que está na Bíblia é “Palavra de Deus”, mas nem tudo é
vontade de Deus. Jesus é por excelência
a Palavra de Deus. A Bíblia é histórica e, portanto, tem nela as contradições
dos grupos de poder da sociedade. Na Bíblia temos que encontrar a voz e a
posição dos pequenos, dos injustiçados e fiéis à aliança com Deus libertador.
O livro
de Ezequiel está recheado de oráculos proféticos que, normalmente, são
introduzidos com uma fórmula característica que se repete muito: “Assim disse Javé....” ou “Oráculo de Javé” (Jr 9,22-23) ou “Palavra de Javé” (Ez 1,3; 2,7; 6,3;
9,11; 12,25; 13,2.6; 16,35; 21,3; 25;3; 33,30; 34,7.9; 36,1.4; 37,4). A
expressão “ne’m YAHWEH”, em hebraico,
geralmente traduzida por “oráculo de Javé”
ou “Palavra de Javé”, significa
sussurro, cochicho de Deus no ouvido do profeta ou da profetisa. Para entender
um cochicho, um sussurro, é preciso fazer silêncio, prestar muita atenção,
estar em sintonia, ter proximidade, ser amiga/o, discernir. Logo, Deus não
falava claramente aos profetas e às profetisas da Bíblia, como nós, muitas
vezes pensamos. Deus fala hoje para – e em - nós de forma semelhante, nem mais
e nem menos, que falava aos profetas e às profetisas dos tempos bíblicos. Deus
cochicha (sussurra) em nossos ouvidos, sempre a partir da realidade e dos
clamores dos povos injustiçados, enfraquecidos, oprimidos (Cf. Ex 3,7-9), na
trama complexa das relações humanas e sociais, na engrenagem das estruturas
sociais, políticas, econômicas e religiosas. Quem compreende de forma sensata
as causas das injustiças e violências se credencia a ser profeta/profetisa que
denuncia as opressões e aponta caminhos libertadores. Entretanto, como “nem
tudo que reluz é ouro”, assim também faz bem desconfiar de quem usa a torto e a
direito a linguagem religiosa, faz questão de se afirmar como pessoa religiosa,
pois pode estar vendendo ‘gato por lebre’ e sendo lobo em pele de cordeiro.
Desconfie de pastor ou padre que para construir discursos sedutores, mas
moralistas e exploradores, fica pulando de versículo bíblico em versículo como
macaco que pula de galho em galho.
Obs.: No
próximo texto continuaremos refletindo a partir do Livro de Ezequiel, livro do
Mês da Bíblia de 2024.
11/06/2024
Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o
assunto tratado, acima.
1 – Um Tom de resistência - Combatendo o
fundamentalismo cristão na política
2 - Bíblia:
privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no
Palavra Ética
3 - Deram-nos a
Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG.
Vídeo 5
4 - Bíblia,
Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste
5 - CEBI: 43
anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção
pelos Pobres
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela
FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia
pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em
Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de
“Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte,
MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis –
Facebook: Gilvander Moreira III
terça-feira, 7 de maio de 2024
Deus pede: “cultive, pastoreie, seja jardineiro/a”. Por frei Gilvander
Deus pede: “cultive, pastoreie, seja jardineiro/a”. Por frei Gilvander Moreira[1]
Foto: Reprodução/DemaisnewsO 10º evento extremo no
sul do Brasil, em um ano, está golpeando os povos do Rio Grande do Sul e toda a
biodiversidade, com quase 1 milhão de
pessoas atingidas e o número de mortos podendo ultrapassar 200. As imagens de
destruição são apocalípticas e estarrecedoras. Primeiro, temos que expressar nossa
imprescindível solidariedade ao povo gaúcho da forma mais efetiva possível e,
segundo, temos que reconhecer que as sirenes da Emergência Climática estão rugindo
como um leão, de forma estridente.
Feliz quem ouvir e se
comprometer com as lutas populares e socioambientais necessárias para frear as
retroescavadeiras e os tanques de guerra das mineradoras, as carretas, o
agronegócio com monoculturas que desertificam os territórios, contaminam
alimentos, terra, ar e águas com exagero de agrotóxicos e o desenvolvimento
econômico que constrói oásis de luxo à custa de miséria, fome, morte e
devastação socioambiental para a maioria. Basta deste sistema capitalista,
brutal máquina de moer vidas e causador maior das implacáveis mudanças
climáticas!
A humanidade está
sendo encurralada no desfiladeiro de um apocalipse provocado pelo sistema
capitalista, a elite, a classe dominante e grande parcela da classe
trabalhadora que, alienada, movimenta a máquina de moer vidas, que é o atual
modelo econômico com idolatria do mercado. Nossa única casa comum está sendo
sacrificada no altar do ídolo mercado. Como um grande ser vivo, Gaia, a Terra
está cotidianamente sendo apunhalada e submetida à tortura com queimaduras que
a deixam sangrando. Devastar o ambiente é como arrancar a pele da mãe Terra e
deixá-la sujeita às intempéries de poeira, calor, ácido...
Recentemente, em
missão em Comunidades ribeirinhas da Prelazia de Itaituba, no Pará, e na
Diocese de Humaitá, no sul do estado do Amazonas, vi e ouvi que as águas dos
grandes rios Tapajós e Madeira estão contaminadas com mercúrio e vários outros
metais pesados, segundo pesquisas da Universidade Federal do Amazonas. Mortandade
de peixes e adoecimento de pessoas e animais é o que mais se ouve. Os ribeirinhos
sofrendo as consequências de secas nunca vistas, calor escaldante e densas
nuvens de fumaça exaladas pelo fogo que faz arder a floresta amazônica em
muitos meses todo ano. Isso compromete a constituição dos rios aéreos
imprescindíveis para fazer chover em outras regiões.
Neste contexto de
eventos climáticos cada vez mais frequentes e letais, faz-se necessário
resgatarmos a fina flor da mística bíblica que mostra a íntima relação do ser
humano com a mãe terra, a irmã água, enfim, a natureza. Resgatemos esta relação
antes que seja tarde.
Na Bíblia, no
primeiro relato da criação (Gn 1,1-2,4a) se repete, inúmeras vezes, a palavra “terra”
(12 vezes em Gn 1; 57 vezes em Gn 1-11). Isso é forte indício de que o texto
foi escrito por um povo na época em que estava longe da terra, no exílio da
Babilônia (587-538 antes da era cristã). Sentindo a falta de terra e de
território, que era sinal da bênção de Deus, o povo resgata as origens
revelando um grande encantamento e reverência pela terra. Sente-se filho da
terra. Temos que recordar a ênfase dada na segunda versão sobre a criação (Gen
2,4b-25) sobre o “cultivar, pastorear, ser jardineiro”. Olhando a totalidade
das duas versões da criação (Gen 1,1-2,4a e Gen 2,4b-25), temos que concluir
que o espírito de Deus pede cuidado, pastoreio e manuseio responsável socioecológico
e jamais incentiva a dominação e a devastação ambiental como, infelizmente, o
modelo capitalista de desenvolvimento vem fazendo no Brasil e no mundo.
O primeiro relato da
Criação (Gen 1,1-2,4a) mostra o ser humano profundamente ligado,
interconectado, a todas as criaturas do universo. De uma forma poética, o
relato bíblico insiste na fraternidade de fundo que existe entre todos os seres
vivos que são uma beleza. Deus, ao criar, sempre se extasia diante de todas as
criaturas e exclama: “Que beleza! Bom! Muito bom!” O poeta cantor e compositor
das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), José Vicente, capta muito bem a
mística que envolve, permeia e perpassa todo o relato da Criação: “Olha a glória de Deus brilhando ...”, em
todos/as e em tudo.
O segundo relato da Criação (Gen
2,4b-25) mostra o ser humano intimamente ligado com a terra e com as águas. “Não havia nenhuma vegetação, porque Javé
Deus não tinha feito chover sobre a
terra e não havia homem para cultivar o solo” (Gen 2,5). Dois seres
imprescindíveis e interdependentes para que o mundo se transforme em um paraíso
com sociobiodiversidade: água e ser humano. A água, junto com a terra, é a mãe
da vida. Sem ela, tudo morre. Assassinar uma nascente, poluir um rio, deve ser
considerado crime hediondo de lesa pátria. O ser humano é outro ser
imprescindível, mas como cultivador, jamais como explorador e depredador.
Os povos da Bíblia construíram unidade no meio de muita
pluralidade, a partir de suas experiências religiosas com o seu Deus, o Deus de
Abrão, de Isaac e de Jacó, Deus também de Sara e Agar, de Rebeca e de Raquel.
Mesmo integrando aos seus escritos textos de outros povos, os/as autores/ras da
Bíblia sempre os adequava à sua experiência de fé e de convivência ética.
O gênero literário sapiencial, por exemplo, era
internacionalmente conhecido na época bíblica e usado foi também pelos povos da
Bíblia. É importante saber que o modo de pensar e agir oriental são diferentes
do modo de pensar e agir ocidental capitalista. No pensamento oriental
predomina a intuição e a preocupação ética – que fazer e como? -, por isso, nem
toda a narrativa classificada como histórica o é de fato. Na compreensão dos/as
autores/ras da Bíblia, o importante é a mensagem que eles e elas queriam passar
aos leitores. Enquanto para o pensamento ocidental predomina a razão e o
raciocínio argumentativo, para o/a historiador/a de nossos dias interessa a
exatidão dos fatos, entre o escrito e o acontecido. Os/as autores/ras bíblicos
se interessam mais pelo fato, como um todo, não pela exatidão dos seus
detalhes, o importante é testemunhar sua experiência de vida que tem sido caminho
de libertação e salvação.
A mobilização
por solidariedade e pela reconstrução das condições de vida do povo gaúcho e de
toda a biodiversidade não pode ser apenas quando as situações extremas de clima
são evidentes como agora. Reconstruir como e onde? Reconstruir como era antes
no mesmo lugar será insensato, pois outros eventos extremos acontecerão e
poderão ser mais letais e destruidores. É preciso urgentemente combater o
negacionismo climático e, sobretudo, o capitalismo, sistema perverso, que
acelera a velocidade da devastação ambiental. Capitalismo mata mesmo! É
importante lembrar também que as condições extremas de clima atingem de forma
diferenciada as pessoas, os empobrecidos são os primeiros e os mais golpeados.
Por isso, precisamos também de justiça climática!
Temos que
denunciar que as bancadas do agronegócio, do boi, da
bala e da Bíblia, no Congresso Nacional criaram bomba climática ao destruir a
legislação ambiental, ao flexibilizar leis para criar capa de legalidade
para desmatamentos criminosos. Estão com as mãos sujas de sangue todos que nos
poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, no poder midiático e no poder
econômico tomaram decisões políticas/econômicas e aprovaram legislações que
pisoteavam no meio ambiente para abrir espaço para que o grande capital
lucrasse e acumulasse capital à custa da trituração do meio ambiente.
A todas as pessoas pedimos que parem de maltratar mais a Mãe Terra, que está sendo torturada. A Terra é nossa mãe e é sagrada. As águas, os rios, os animais e as florestas estão pedindo socorro. A Natureza tem direitos. Continuar torturando a Terra é acelerar a chegada do apocalipse da humanidade e de milhões de outras espécies de seres vivos. Como jardineiros/as, cuidemos da Mãe Terra.
07/05/2024
Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versa sobre o
assunto tratado, acima.
1 - Barragens do Rio
Madeira devastam vida dos Povos e Floresta. E os Madeireiros? Ouça os
Ribeirinhos!
2 - Amazônia pede
SOCORRO! Ribeirinha: amor à Amazônia, seca, calor exagerado, nuvem de fumaça e
doenças
3 - Garimpeiros
tradicionais, Dep. Célia Xakriabá, Dep. Padre João: 32ª Romaria Trabalhadores
Mariana/MG
4 - Barragem produz
centenas de famílias sem-teto: Ocupação Irmã Dorothy, Salto da Divisa, MG, em
terreno, lixão, da União, SPU: 240 famílias na luta por terra e moradia há 3
anos. Vídeo 3 – 20/04/24
5 - MPF, DPE/MG, Rede
de Apoio e Juíza Federal Retomada Kamakã Mongoió, Brumadinho/MG.
"Demarcação, JÁ!"
6 - “Demarcação, JÁ!
Daqui não saímos!” Juíza federal na Retomada Kamakã Mongoió, Brumadinho/MG.
Vídeo 4
[1] Frei e padre da
Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel
em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese
Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT,
CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e
Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. Autor de livros e artigos. E
“cineasta amador” (videotuber) com mais de 6.000 vídeos de luta por direitos no
youtube, canal “Frei Gilvander luta pela terra e por direitos”. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
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