Povo da
Ocupação Nova Jerusalém, de Nova Serrana, MG, luta na Cidade Administrativa por
Assentamento de 100 famílias na fazenda Canta Galo.
Dia 23 de julho de 2018, mais de 100
camponeses e camponesas da Ocupação Nova Jerusalém, de Nova Serrana, MG,
levantaram de madrugada e, em dois ônibus lotados, viajaram cerca de 250
quilômetros para manifestar na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, MG,
lutando por Assentamento na fazenda Canta Galo, onde já estão acampados há seis
anos. As famílias já sofreram três despejos: um legal, mas injusto, dia
26/4/2018, e outros dois nos dias 27 e 28/4/2018, de forma arbitrária, pela
Polícia Militar de Minas Gerais. As famílias trouxeram muitos cartazes, matula
e muita disposição de lutar para conquistar de vez o Assentamento de 100
famílias na fazenda Canta Galo.
Enquanto uma Comissão de 15 camponeses e
camponesas participava de reunião no 3º andar do Edifício Minas, na Cidade
Administrativa, na Mesa de Negociação do Governo de Minas com as Ocupações
urbanas e camponesas, o povo seguiu a tarde toda acampado e manifestando na
Cidade Administrativa. A reunião foi presidida por Fernando Tadeu David e
contou com a participação do prefeito de Pitangui e presidente do Consórcio Intermunicipal
para construir Aterro Sanitário na região, Marcílio Valadares (do PSDB); do prefeito
de Quartel Geral, José Lúcio (do PMDB); do Dr. Aylton Magalhães e Dra. Cleide
Nepomuceno, da Defensoria Pública de Minas Gerais; do frei Gilvander, da Comissão
Pastoral da Terra (CPT); da Clélia Mariotto, da Frente Nacional de Luta (FNL);
do Osmar Santos (do PROS), presidente da Câmara de Vereadores de Nova Serrana; do
advogado da Ocupação Nova Jerusalém, Paulo César; do procurador adjunto de Nova
Serrana, Rildo Oliveira; e vários outros funcionários do Governo de Minas.
Tadeu e o prefeito Marcílio apresentaram como
proposta de Acordo para resolver o conflito agrário e social instalado na
fazenda Canta Galo ceder para assentamento das famílias da Ocupação Nova
Jerusalém uma área do governo de Minas que está ao lado da fazenda Canta Galo,
mas no município de Conceição do Pará. Ninguém do Governo de Minas soube dizer
o tamanho da área que estão disponibilizando e nem a qualidade do terreno. Essa
proposta tenta cumprir a decisão judicial de 1º/7/2018, da juíza da Vara
Agrária de Minas que deu 30 dias para a prefeitura de Nova Serrana e o Estado
de Minas assentar as famílias em local parecido ou melhor nas imediações da
fazenda Canta Galo. Alegaram a necessidade da construção de Aterro Sanitário na
fazenda Canta Galo e que já tem estudos de concepção. Entretanto, não mostraram
nenhum estudo e nenhum documento. O procurador de Nova Serrana informou que já
renovou o pedido de Reintegração de Posse junto à Vara Agrária de Minas Gerais
e que já peticionou à juíza alegando que a prefeitura de Nova Serrana não tem
condições econômicas para arrumar moradia para as famílias e que o Estado de
Minas é quem deve assentar as famílias.
Das 15 pessoas da Comissão que entraram,
apenas duas puderam falar na reunião. Dona Vilma, representando as 100 famílias
que reocuparam a fazenda Canta Galo; Clélia, pela Frente Nacional de Luta; frei
Gilvander, pela CPT; o advogado das famílias acampadas, Paulo César; o defensor
público Dr. Aylton e Osmar Santos, presidente da Câmara de Vereadores de Nova
Serrana questionaram a proposta com os seguintes argumentos: a fazenda Canta
Galo, com178 hectares, estava abandonada, sem cumprir a função social. Por isso
e pela necessidade das famílias foi ocupada, há seis anos. Será injustiça
socioambiental construir aterro sanitário na fazenda Canta Galo, porque ela
está ao lado do rio Pará, que, já poluído e sugado por empresários de irrigação
e monoculturas, irriga 15 municípios antes de desaguar no rio São Francisco como
um de seus principais afluentes. A fazenda Canta Galo é de propriedade do
Governo de Minas que, em 2008, cedeu a fazenda para a prefeitura de Nova
Serrana com a finalidade de construção de aterro sanitário para sete
municípios. Entretanto, o Consórcio intermunicipal para aterro sanitário ampliou-se
para 18 municípios. Há muitos anos a fazenda, sem cumprir sua função social,
vem sendo usada para criação de gado e engorda de bois beneficiando particulares.
Isso acontecendo com a cumplicidade do prefeito de Nova Serrana, titular da
concessão da fazenda, e do prefeito de Pitangui, presidente do Consórcio CIAS.
Usar um imóvel público ou deixar particular usá-lo para acumular lucro não é
improbidade administrativa? Se as famílias já construíram na fazenda Canta Galo
87 casas de alvenaria, já estão enraizadas na área, produzindo e melhorando sua
qualidade de vida ali, o justo é reconhecer a legitimidade da ocupação Nova
Jerusalém e assentar as famílias na área ocupada – fazenda Canta Galo - com a
condição de que continuem preservando 80 hectares da fazenda, que são áreas
ambientais, e produzindo alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, em 1 hectare
para cada família. E que se arrume outro local para fazer o aterro sanitário!
Foi dito também que fazer aterro para receber lixo de 18 cidades é algo que
beneficia o mercado e não é sensato da perspectiva socioambiental, porque vai
gerar lucro para empresas de caminhões com transporte do lixo para distâncias
maiores e cada cidade tem que ser responsável para cuidar do seu lixo. O
presidente da Câmara de Vereadores de Nova Serrana informou que a população de
Nova Serrana não aceita um aterro na fazenda Canta Galo para beneficiar 18
municípios e que vai ser aprovado na Câmara de vereadores projeto de Lei
proibindo a construção do aterro na fazenda Canta Galo e prescrevendo a
preservação das áreas ambientais da fazenda Canta Galo e abrindo espaço para o
assentamento das famílias na fazenda ocupada há seis anos. “As famílias foram
despejadas de forma desumana. Foram jogadas na rua sem nenhuma alternativa”,
denunciou o vereador Osmar Santos. “Aterro sanitário para sete municípios
pequenos seria de pequeno porte. mas aterro para 35 municípios será de grande
porte. Isso a população de Nova Serrana não aceita”, alertou o Dr. Paulo César.
A fazenda Canta Galo deve se tornar um território de produção da agricultura
familiar na linha da agroecologia, em harmonia com as áreas ambientais
existentes na área. O defensor público Dr. Aylton alertou que não bastam os
estudos de impactos ambientais, mas são necessários também os estudos
socioeconômicos que não foram feitos e, além disso, os estudos feitos já estão
defasados e precisam ser atualizados.
A reunião foi tensa. No final, ficaram acertados
os seguintes encaminhamentos:
1
– A Mesa de Negociação irá promover reunião entre a Defensoria Pública de Minas
(DPE/MG), Procuradoria de Nova Serrana e Advocacia Geral do Estado (AGE) com
vistas e celebrar acordo proposto pela DPE/MG, para suspensão da ACP e da Ação
de Reintegração de Posse por até 90 dias.
2
– A Mesa de Negociação vai levantar dados mais precisos sobre a Propriedade que
acenaram como possibilidade de reassentar as famílias da fazenda Canta Galo.
Propriedade que foi entregue ao Estado de Minas pela siderúrgica Mat-Prima
Ltda.
3
– A Mesa de Negociação irá verificar a possibilidade de disponibilização dos
estudos de concepção e outros documentos do projeto de Aterro Sanitário na
fazenda Canta Galo.
Assinam esta Nota:
Comissão
Pastoral da Terra (CPT/MG)
Frente
Nacional de Luta (FNL).
Belo
Horizonte, MG, 24 de julho de 2018, dia dos/as Trabalhadores/ras Rurais e dia
do martírio do padre Ezequiel Ramin, em Cacoal, Rondônia, em 1985.
Ata de reunião da Mesa de Negociação com a Ocupação Nova Jerusalém em Nova Serrana, MG, 23 7 2018
Obs.: Abaixo, fotos de G. L. Moreira e L. Ferreira, da reunião, acima, e da Manifestação do Povo da Ocupação Nova Jerusalém, na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, MG, dia 24/7/2018.