sexta-feira, 22 de junho de 2018

Retomada Indígena Kamakã Grayra/Esmeraldas/MG: O direito à terra. 1ª Par...

Retomada Indígena Aldeia Kamakã Grayra, em Esmeraldas, MG: O direito à terra. Reconhecer a legitimidade da Retomada é dever do Governo de Minas Gerais. 06/6/2018.

 Lideranças indígenas Kamakã Mongoió, da Aldeia Kamakã Grayra, em Esmeraldas, Região Metropolitana de Belo Horizonte, MG, reuniram-se, no dia 06/6/2018, com representantes da CPT (Comissão Pastoral da Terra- www.cptmg.org.br ), CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – www.cedefes.org.br ), na Fazenda Santa Tereza da FUCAM (Fundação Educacional Caio Martins), cujo território encontra-se em retomada (os indígenas ocupando o que lhes pertence por direito), há um ano e meio. Vítimas do preconceito, da discriminação, da violência e de injustiças constantes na cidade de Belo Horizonte e Região Metropolitana, os indígenas Kamakã Grayra decidiram pela retomada da Fazenda Santa Tereza que encontrava-se totalmente abandonada, sem cumprir qualquer função social. Hoje, as 62 famílias indígenas que lá estão já mudaram a paisagem com o cultivo de hortas, mandiocas, mudas frutíferas e se alimentam do que produzem. Nesse vídeo, a beleza da dança indígena do povo Kamakã e o depoimento da cacica Éxina (que significa Onça Guerreira), Marinalva, que fala do desrespeito que sofrem por parte de diretores da FUCAM, da importância da terra para o povo indígena, da necessidade de apoio nas negociações para que a retomada seja reconhecida legalmente e da intenção de acolher ali parentes indígenas que também enfrentam dificuldades em cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG. Ter reconhecida a legitimidade da Retomada Indígena Kamakã Grayra, em Esmeraldas, MG, é um direito do Povo Kamakã Mongoió e um dever do Governo de Minas Gerais.

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.

Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Esmeraldas, MG, 06-6-2018.

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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Vem aí a XXI Romaria das Águas e da Terra/MG/7a Reunião de Preparação/L...

Vem aí a XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais – 7ª Reunião de Preparação em Lagoa da Prata/Diocese de Luz/MG – 16/6/2018.


 Mais uma feliz reunião de preparação da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais aconteceu em Lagoa da Prata, Diocese de Luz, MG, no dia 16/6/2018. Com entusiasmo e renovado ardor profético, os participantes apresentaram a camiseta da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, que tem como tema: “Das Nascentes do São Francisco às Terras da Justiça” e como lema: “Cuidando da Mãe Terra e da Irmã Água”. No próximo dia 23/6/2018 – sábado – acontecerá a 1ª Pré-Romaria da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais; será em Arcos, Diocese de Luz, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, das 13h às 17h. Iluminados pelo Evangelho de Jesus de Nazaré, inspirados pela Carta do Papa Francisco, “Laudato Si” (Louvado Seja – Sobre o Cuidado com a Casa Comum), façamos da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, o encontro profético, missionário, de anúncio, de denúncia, de solidariedade, de comunhão de luta contra toda forma de destruição da vida, em toda sua biodiversidade, em especial da morte lenta do rio São Francisco e suas nascentes, que clamam por socorro, por revitalização.

* Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG.

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Luta que emancipa


Luta que emancipa. Por Gilvander Moreira[1]

Foto de Gilvander Moreira na 20a Romaria das Águas e da Terra
de Minas Gerais, em Unaí, MG, dia 23/7/2017.

No Brasil, as classes trabalhadora e camponesa lutam muito. Que tipo de luta pode ser emancipatória? Por luta não nos referimos à luta diária individual e familiar para sobreviver de um/a trabalhador/a que recebe mensalmente apenas um salário mínimo, ou batalhando na economia informal como camelô ou fazendo bicos. É óbvio que esse tipo de luta é necessária e imprescindível para a sobrevivência de grande parte da classe trabalhadora. Não tratamos também de luta individualista na escalada de competição que o sistema capitalista desencadeia e fomenta aos quatro ventos: luta para entrar em uma universidade, luta de uma pessoa para ser aprovada em um concurso público, luta para se tornar um/a empreendedor/a, luta para enriquecer e se tornar uma pessoa opressora, às vezes ou muitas vezes, sem ter intenção deliberada de oprimir. Enfim, não é luta como trabalho no sentido de doulos, trabalho análogo à situação de escravidão.
Referimo-nos à luta pela terra e por todos os direitos sociais no sentido de um processo conflituoso, permanente, militante e que se constrói nas brechas das leis que sustentam a ordem estabelecida do capitalismo. Na luta, contamos com a contribuição do Direito Alternativo – brechas na legalidade do Estado capitalista -, ou luta travada como desobediência civil, dentro da consciência de que ou se conquista na marra ou não se conquista. Nessa perspectiva, nos inspiramos no Direito Achado na Rua - Direito Subversivo – www.odireitoachadonarua.blogspot.com - para conquistar transformações sociais por meio de conquistas de direitos sociais, entre os quais está o direito de acesso a terra. Segundo Roberto Lyra Filho, “direito é processo, dentro do processo histórico: não é uma coisa feita, perfeita e acabada; é aquele vir-a-ser que se enriquece nos movimentos de libertação das classes e grupos ascendentes e que definha nas explorações e opressões que o contradizem, mas de cujas próprias contradições brotarão as novas conquistas” (LYRA FILHO, 2003, p. 86).
Essa luta coletiva e subversiva envolve vários aspectos e dimensões: a) Trabalho de base para reunir os camponeses injustiçados, os sem-terra e despertar neles que somente através da luta coletiva, na união e com organização, se conquistam direitos sociais; b) Formação contínua para despertar nos sem-terra sua força e o seu potencial de emancipação muitas vezes abafado e acorrentado pela ideologia dominante; c) Organização e realização de Ocupações de latifúndios que não estão cumprindo sua função social; d) Organização interna nas ocupações, o que passa pela criação de núcleos de famílias, realização de reuniões e assembleias ordinárias diariamente, ou de dois em dois dias, ou pelo menos semanalmente. A organicidade da luta em uma ocupação exige a criação de Comissões de Segurança, de Saúde, de Cozinha e Alimentação, de Comunicação, de Ética e Disciplina, de Infraestrutura etc.; e) Organização e realização de lutas coletivas, tais como marchas, bloqueio de rodovias, acampamento diante do Tribunal, ocupação de prédios públicos onde são tomadas decisões que agridem a dignidade humana do campesinato; f) Constituição e cultivo de Redes de Apoio, como, por exemplo, Coletivos de advogados populares como a Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (RENAP – www.renap.org.br ), a Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais no estado da Bahia (AATR – www.aatr.org.br ) e Terra de Direitos – www.terradedireitos.org.br ; parcerias com igrejas, ONGs, professores e estudantes de universidades a partir de Programas de Extensão Universitária e outras organizações de luta por direitos humanos, nacionais ou internacionais.
A história da luta pela terra demonstra que a construção e o cultivo de todas essas dimensões e aspectos, de forma bem articulada e entrosada, são imprescindíveis para o êxito da luta, isto é, para que processos emancipatórios irrompam e se desenvolvam.
A luta pela terra diz respeito à disputa por território, questão também de soberania no sentido macro e de autonomia em sentido micro. O campesinato não precisa do capitalista e nem do proletariado porque, ao conquistar a terra, ele pode plantar e produzir o necessário para seu sustento e se reproduzir, mas o capitalista e o proletariado precisam do campesinato, pois sem a produção da agricultura camponesa, o proletário e o capitalista não se alimentam. Sem se alimentar, o proletário não terá força de trabalho para ser vendida no mercado ao proprietário dos meios de produção do capital. Eis um dos aspectos que nos faz levantar a hipótese de que a luta pela terra seja fator de emancipação humana.
A luta pela terra acontece por meio de luta coletiva. Não é via trabalho individual segundo o slogan “que cada um faça sua parte”, que é engodo. Cada um fazendo sua parte apenas tranquiliza consciências, mas não mexe em nada nas estruturas opressoras do sistema capitalista. Apenas migalhas se conseguem, o que doura a pílula, mas não retira o amargo. “O Estado brasileiro é como uma panela de feijão velho: só cozinha na base da pressão do fogo que se acende com os gravetos debaixo da panela. Os gravetos somos nós, empobrecidos e oprimidos, na luta coletiva” (Sebastião Mélia Marques, 54 anos, Sem Terra assentado no PA Primeiro do Sul e integrante da coordenação regional do MST do sul de Minas).

Referência

LYRA FILHO, Roberto. O que é direito. 17ª edição. São Paulo: Brasiliense, 2003.

Belo Horizonte, MG, 20/6/2018.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.

1)   Reocupação da Fazenda Canta Galo/Nova Serrana/MG: pelo rio Pará, por terra e moradia. 25/5/2018.



2)   Respeito às 200 famílias da Carolina de Jesus/BH: Negociação, sim; Despejo, não. 3ª Parte. 09/5/2018.







[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. 
www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III


Povos indígenas na RMBH: vital o apoio dos/das parceiros/as. CEDEFES/BH...

Povos indígenas na RMBH: é vital o apoio dos/das parceiros/as. Abril Indígena – CEDEFES - Belo Horizonte/MG. 7a parte. 23/4/2018.

 A realidade dos Povos Indígenas na cidade de Belo Horizonte e Região Metropolitana (RMBH) é preocupante e causa indignação nas pessoas que defendem o respeito e a justiça como direitos fundamentais de todos e todas, sem distinção. A violência crescente, o preconceito, a discriminação, a ausência de políticas publicas específicas para a população indígena da Região Metropolitana de Belo Horizonte, além das ameaças de despejo de territórios onde aldeias estão acampadas, motivaram integrantes do CEDEFES ((Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – www.cedefes.org.br ), a promoverem oportuno e importante debate, inserido nas atividades do “Abril Indígena”, com o tema: “Direitos Indígenas e a questão ambiental: partilhando reflexões para a luta”. Além de várias lideranças indígenas, participaram desse debate a Professora Dra. Alenice Baeta, historiadora e arqueóloga, e outros/as integrantes do CEDEFES, o frei Dr. Gilvander Moreira, da CPT, o Pablo Camargo, historiador e indigenista, da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), entre outros. Uma das ações concretas resultantes desse debate foi o compromisso da diretoria do CEDEFES de solicitar uma Audiência Pública à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para que seja realizado o debate desses graves problemas (principalmente a violência), enfrentados pelos Povos Indígenas na RMBH) e sejam, consequentemente, definidas diretrizes eficientes que garantam aos Povos Indígenas seus direitos de ir e vir com segurança, de manifestar sua cultura e, sobretudo, garantam o respeito à sua dignidade humana. Nesse vídeo, Kapua Lana, liderança indígena do Povo Puri, que trabalha como biólogo na Prefeitura de Ibirité/MG, fala da necessidade de apoio para que seja estruturada a Aldeia Indígena em São Joaquim de Bicas, MG, de forma a assegurar às famílias indígenas da aldeia condições digna de vida.

*Reportagem do frei Dr. Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 23/4/2018.

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terça-feira, 19 de junho de 2018

Povos Indígenas da RMBH (Belo Horizonte): luta necessária. 6a parte. CED...

Povos
Indígenas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH): consciência da luta
necessária. Roda de Conversa no CEDEFES. 6a parte. 23/4/2018.

Um rico e necessário debate
foi realizado no CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – www.cedefes.org.br
), dia 23/4/2018, em Belo Horizonte/MG, 
inserido no “Abril Indígena”, com o tema: “Direitos Indígenas e a
questão ambiental: partilhando reflexões para a luta”.  O debate se deu em uma Roda de Conversa da
qual  participaram várias lideranças
indígenas, a Professora Dra. Alenice Baeta, historiadora e arqueóloga, e
outros/as integrantes do CEDEFES, o frei Dr. Gilvander Moreira, da CPT, o Pablo
Camargo, historiador e indigenista, da FUNAI (Fundação Nacional do Índio),
entre outros.  Nesse vídeo, a professora
Izabel Missagia, membro integrante do CEDEFES, Doutora em Ciências Sociais
(Área: Sociedades Indígenas), professora na Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro, fala da importância de se ampliar e fortalecer a Rede de
Articulação na luta com e pelos Povos Indígenas, lembrando que as dificuldades
e os problemas enfrentados pelos indígenas na capital mineira e Região
Metropolitana de Belo Horizonte são comuns a todos os Povos Indígenas do
Brasil. Kapua Lana Puri, liderança indígena do Povo Puri, biólogo trabalhando
na Prefeitura de Ibirité, MG, relata ações da Comunidade Indígena no Distrito
de Padre Brito, município de Barbacena/MG, como o 2º Festival da Cultura do
Povo Puri de Padre Brito, da organização e luta da Comunidade pelo resgate e
reconhecimento de sua cultura, e por direitos. 
Pablo Camargo, historiador e indigenista da FUNAI (Fundação Nacional do
Índio), apresenta uma visão geral dos indígenas em Minas Gerais e no Brasil, o
enfrentamento constante com empresas, grileiros, latifundiários que avançam
sobre suas terras, destroem o meio ambiente, e destaca também a importância da
luta para a retomada de terras e garantia de direitos dos Povos Indígenas.

*Reportagem do frei Dr.
Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da
Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 23/4/2018.

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segunda-feira, 18 de junho de 2018

Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio, em Pedro Leopoldo, MG: luta por território e pelo direito de ser cigano/a. 18/6/2018.


Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio, em Pedro Leopoldo, MG: luta por território e pelo direito de ser cigano/a. 18/6/2018.


O Acampamento Cigano localizado ao lado da Lagoa de Santo Antônio, no município de Pedro Leopoldo, Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), luta e resiste em defesa de seus direitos. Diversas forças vivas da sociedade organizada têm apoiado esta luta. No dia 14 de junho último (2018), mais uma visita foi realizada à comunidade. Lideranças da Comunidade Cigana de São Pedro (em Ibirité, MG), da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e representante do Kaipora (Laboratório de Estudos Bioculturais (UEMG – Unidade Ibirité) foram muito bem acolhidos pela comunidade, que relatou seus principais desafios. Visitamos as tendas das 14 famílias da Comunidade. Percorremos toda a área. Reunimo-nos com a Comunidade e fizemos uma longa reportagem, em vídeo e fotos, que será divulgada em breve. Isso para fortalecer a luta pelos sagrados direitos da Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio, em Pedro Leopoldo. E, também, para fortalecermos a luta pela revitalização da Lagoa de Santo Antônio.
A cidade de Pedro Leopoldo foi fundada em 27 de janeiro de 1924, todavia, uma das ocupações humanas mais antigas em Minas Gerais foi identificada exatamente neste município, na caverna Lapa Vermelha, que data de 11.500 anos atrás. Trata-se, assim, de uma cidade com uma história milenar onde homens, mulheres e crianças de grupos culturais e étnicos distintos em passado remoto percorreram e utilizaram as grutas e lagoas calcárias da região como ponto de apoio em busca da sua subsistência, deixando impressas as marcas e vestígios da sua produção cultural e passagem. Hoje uma grande relíquia e herança patrimonial de todos!  Segundo o IBGE – dados de 2017 -, Pedro Leopoldo abriga uma população de 63.837 habitantes, entre os quais estima-se a existência de mais de 200 famílias ciganas. A presença cigana em Pedro Leopoldo é, assim, histórica, e marcadamente tradicional. Da mesma maneira que os munícipes e o poder público têm demonstrado tanto orgulho das terras de Pedro Leopoldo terem servido de abrigo para a comunidade da mulher “Luzia”- fóssil humano que reacendeu questionamentos acerca da teoria da origem do homem americano - deveriam também ter muito orgulho em acolher as tradicionais comunidades ciganas. Mas o quadro tem sido outro, lamentavelmente. Via poder judiciário e pressão da Polícia Militar, a prefeitura de Pedro Leopoldo já expulsou 31 famílias de ciganos de outro Acampamento na cidade, onde outras quatro famílias resistem em casas de alvenaria, mas respondendo processo judicial movido pela prefeitura para expulsá-las.
A beleza da Comunidade Cigana contrasta com a grande precariedade de condições reais de vida. Estão sobrevivendo com migalhas e improvisos de água e de energia, e sem nenhuma estrutura de saneamento básico.
A Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio vem sendo alvo do descaso e da discriminação do poder público desde quando se instalou no local, há 10 anos. Não há nenhum tipo de atendimento de serviços públicos como saneamento e fornecimento regular de energia e água – direito garantido deste vulnerável povo tradicional! Há vários casos de ciganos/as com necessidades graves e urgentes de tratamentos de saúde que não estão sendo atendidos no sistema SUS. Assim como as demais comunidades ciganas espalhadas pelo país, as ciganas e os ciganos do Acampamento da Lagoa de Santo Antônio enfrentam o preconceito e a discriminação racial. Não bastasse a situação de violação de direitos humanos básicos em que sobrevivem, no início de 2018, a comunidade foi notificada pela Polícia Militar e Prefeitura de Pedro Leopoldo para que saíssem do local. Desde então, a comunidade relata que há constante vigilância e perseguição, tornando o seu cotidiano ainda mais angustiante e incerto. Grupos de defesa do meio ambiente também têm acusado a comunidade de impactar negativamente o ecossistema da Lagoa de Santo Antônio. Todavia, o que se percebe na região é que os principais impactos ambientais facilmente identificados na Lagoa de Santo Antônio, e que são muitos, são puramente resultados da ausência de políticas públicas efetivas de saneamento, expansão urbana desordenada e de preservação ambiental na mesma e seu entorno, além da degradação de áreas de nascentes, possivelmente decorrentes também de atividades de mineração. O Acampamento Cigano, portanto, é vítima e não a causa da degradação da Lagoa de Santo Antônio. É importante lembrar ainda que esta localidade encontra-se no coração da Área de Preservação Ambiental - APA Carste Lagoa Santa[1], unidade de conservação federal que visa garantir a conservação do patrimônio paisagístico do seu sistema hídrico e cultural, visando o uso racional dos recursos naturais da região. Vi e ouvimos os clamores da Lagoa de Santo Antônio gritando por revitalização. Fomos informados que a Lagoa era “mil vezes maior” e está sendo secada, vítima de injustiça socioambiental. É urgente revitalizar toda a bacia da Lagoa de Santo Antônio.
Diante disso, denunciamos a ausência de políticas públicas que garantam o direito ao território e outros direitos humanos fundamentais para a comunidade cigana da Lagoa de Santo Antônio. Reivindicamos que o Poder Público arrume terreno adequado, em tamanho e qualidade, para que todas as Comunidades Ciganas possam viver com dignidade e cultivando sua linda tradição cultural. Ao mesmo tempo, anunciamos a vida, a força, a beleza e a coragem da Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio: mulheres, homens e crianças que lutam, junto com uma Rede de Apoio, pelo direito à vida e de viver a partir de sua própria cultura!
Acolhendo os clamores também da Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio, em Pedro Leopoldo, MG, uma Rede de Apoio se formou, constituída pelo CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – www.cedefes.org.br ), pela CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra – www.cptmg.org.br ), pela Associação Nacional das Etnias Ciganas do Brasil (ANEC), por Advogadas e Advogadas Populares da RENAP (Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares – www.renap.org.br ), pela Procuradoria Geral do Ministério Público Federal (MPF), por meio do Dr. Edmundo Antônio Dias Neto Júnior, Núcleo de Prática Jurídica (NPJURIH) do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, Professoras/res da UEMG Unidade de Ibirité, Núcleo de Estudos Ciganos  da UFMG, Defensorias pública estadual (DPE/MG) e da União (DPU);  e MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), entre outros, mobilizando-se em defesa da Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio. 
Alertamos para os direitos ciganos prescritos na Constituição Federal, no Estatuto dos Povos Ciganos (em tramitação no Congresso Nacional), tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, como a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que exige respeito aos direitos dos Povos Tradicionais, entre os quais estão os Povos Ciganos. Reivindicamos que a prefeitura crie uma Política Pública Municipal voltada especificamente para as Comunidades Ciganas, o que é exigência da Política Nacional de Povos Tradicionais e, agora também, estadual, pois há alguns meses o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, regulamentou a Lei que trata dos Povos Tradicionais. Portanto, o poder público municipal tem o dever, pra ontem, de garantir território para assentamento de todas as famílias ciganas existentes no município e todas as políticas públicas nas áreas de saúde, educação, assistência social etc. Criar um Centro de Tradições Ciganas é também um dever do poder público e direito do povo cigano.
Feliz quem reconhece as belezas milenares da cultura cigana e se compromete na luta em defesa destes povos que dignificam a plural cultura brasileira!
Todo apoio e solidariedade aos Povos Ciganos nessa luta por terra e por respeito aos seus direitos, à sua dignidade!

Assinam essa Nota Pública:
Liderança da Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio, em Pedro Leopoldo, MG;
Lideranças da Comunidade Cigana de São Pedro (em Ibirité, MG);
CPT (Comissão Pastoral da Terra);
Kaipora (Laboratório de Estudos Bioculturais (UEMG – Unidade Ibirité);
CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva).

Pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte, MG, 18 de junho de 2018.















 Fotos feitas pelo prof. Emanuel Almada, dia 14/6/2018, na Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio, em Pedro Leopoldo, MG.



[1] A APA foi criada pelo Decreto Federal n. 98.881 de 25 de Janeiro de 1990, em função da relevância que as associações cársticas têm em âmbito nacional, em termos paisagísticos, de fauna e flora, de riquezas subterrâneas cênicas, minerais e fossilíferas, em aspectos históricos, pré-históricos, culturais e nas particularidades de seu sistema hídrico. O objetivo da APA é garantir a conservação do conjunto paisagístico e da cultura regional, proteger as cavernas e demais formações cársticas, sítios arqueológicos e paleontológicos, a vegetação e a fauna, conciliando o patrimônio natural e científico às condições de intenso desenvolvimento urbano e industrial próprias à região. Confira o link, a seguir:



Povos Indígenas da RMBH/MG: Luta por reconhecimento e por direitos/CEDEF...

Povos Indígenas da RMBH/MG: Luta por reconhecimento e por direitos. Abril Indígena no CEDEFES. 5ª Parte. 23/4/2018.

O CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – www.cedefes.org.br ), em Belo Horizonte/MG, promoveu o “Abril Indígena”,  valorizando o mês dedicado aos indígenas, legítimos guardiães das terras brasileiras, com o debate: “Direitos Indígenas e a questão ambiental: partilhando reflexões para a luta”.  Desse debate participaram várias lideranças indígenas, a Professora Dra. Alenice Baeta, historiadora e arqueóloga, e outros/as integrantes do CEDEFES, o frei Dr. Gilvander Moreira, da CPT, o Pablo Camargo, historiador e indigenista, da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), entre outros.  Nesse vídeo, kapua Lana Pori, liderança indígena do Povo Puri, biólogo que trabalha na Prefeitura de Ibirité/MG, fala  da organização e da luta do povo Puri, sobrevivente ao genocídio imposto aos povos indígenas no Brasil. De modo particular, Kapua  fala dessa luta em um Distrito de Barbacena, MG, e região, para resgatar suas origens, sua cultura e fazer valer seus direitos à retomada de terras, ao acesso às políticas públicas, entre outros. Eni Carajá Filho, do Povo Carajá, fala de sua ancestralidade e aborda também a luta constante dos Povos Indígenas por reconhecimento, por direitos e sugere ações concretas para que essa luta tenha visibilidade e, assim, mais pessoas tenham conhecimento das dificuldades enfrentadas pelos indígenas em Belo Horizonte e RMBH. Em tempo de retomada do que lhes foi tirado pela colonização, os Povos Indígenas de Belo Horizonte e Região Metropolitana de BH contam com expressiva Rede de Apoio no fortalecimento dessa luta.  Por dignidade, por respeito, por direitos, Povos Indígenas e Rede de Apoio seguem firmes na luta e na resistência!

*Reportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, Dr. em Educação pela UFMG. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 23/4/2018.

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