quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Luta em defesa dos bens comuns na XXII Romaria das Águas e da Terra de MG: 2º Encontro da Cartilha.

Luta em defesa dos bens comuns na XXII Romaria das Águas e da Terra de MG: 2º Encontro da Cartilha.

Diálogo e troca de experiências entre crianças estudantes e missionário indígena do Povo Pataxó, em uma escola na cidade de Romaria, durante a Semana Missionária da XXII Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais, dia 06/11/2019. Fotos: Laiza Dutra.
Durante uma Semana de Missão da XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, de 02 a 9 de novembro de 2019, tendo como subsídio uma Cartilha com três Encontros (Roteiros Bíblicos) e uma Celebração, estamos refletindo sobre a mãe terra irmã e a irmã água como bens comuns e dons de Deus. A celebração final da XXII Romaria acontecerá na cidade de Romaria, no dia 10 de novembro desse ano de 2019, um domingo, das 8h30 às 16 horas. Eis, abaixo, um pouco do que consta no 2º Encontro da Cartilha das Missões.
O destino da criação inteira passa pelo mistério de Jesus Cristo, que está presente na natureza desde a sua origem: “Todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele” (Cl 1,16). Deus criou tudo por amor: “Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não as terias criado” (Sab 11, 24). Os bens da natureza são BENS COMUNS, e não do mercado. Contudo, são chamados de “recursos naturais”, reforçando uma ideia de que eles só têm valor em função do uso que fazemos deles. Assim eles se transformam em propriedade privada capitalista. Porém, os bens comuns são condições naturais da própria vida, como a água, os ventos, sol, clima, atmosfera, biodiversidade, solos e sua fertilidade, minerais. Eles são uma herança comum, bens comuns e não podem ficar concentrados nas mãos de poucos. São bens do próprio planeta e não só da humanidade. Como dizia São Francisco de Assis, o nosso planeta é “irmã e mãe, que nos sustenta e nos governa”. O Papa Francisco nos recorda: “Todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus. A história da própria amizade com Deus desenrola-se sempre em um espaço geográfico que se torna um sinal muito pessoal, e cada um de nós guarda na memória lugares cuja lembrança nos faz muito bem. Quem cresceu no meio de montes, quem na infância se sentava junto do riacho a beber, ou quem jogava numa praça do seu bairro, quando volta a esses lugares sente-se chamado a recuperar a sua própria identidade” (Laudato Si 84).
Há algumas décadas, muito se falava sobre a situação da mãe terra. Atualmente não se para de falar sobre a irmã água. O que muita gente não sabe é que água e terra caminham juntas, entrelaçadas. O problema da água não será resolvido sem o correto manuseio da terra, inclusive quanto ao problema do plantio em larga escala.
Deus criou o mundo e tudo que nele existe, a partir do seu grande amor. Diz o salmista: “Ao Senhor pertence a terra” (Sl 24/23,1). A Ele pertence “a terra e tudo o que nela se encontra” (Dt 10,14). O Deus da vida nos fala a partir da Bíblia e também a partir da realidade. A Bíblia nos revela a Sabedoria de Deus, que nos fez criaturas junto a toda criação. “Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada”, nossa responsabilidade é a de “cultivar e guardar”, essa é uma “responsabilidade perante uma terra que é de Deus implica que o ser humano, dotado de inteligência, respeite as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo” O papa Francisco reafirma tudo isso, na Encíclica Louvado Sejas e nos diz que tudo está interligado, que não há bem estar humano sem o uso responsável das coisas e sem reconhecer que todas as criaturas têm valor próprio diante de Deus.
O modelo atual de desenvolvimento não considera os bens comuns como necessários para vida e a Terra: “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la.” Você sabia que a lógica do agronegócio muda completamente a ideia da mãe terra e da irmã água como dons de Deus? Para o agronegócio a mãe terra é mercadoria, a irmã água é mercadoria, pois são utilizadas apenas para produzir acumulação de riqueza, e produzir o ano todo, como escravas, sem limites. A terra não tem descanso, a água vai sendo poluída, secada...
O agronegócio, além de explorar a terra e a água e torná-las mercadorias, faz com que as pessoas que trabalham na terra também sejam escravas. Sim, digo e repito: escravas! O agronegócio, na lógica capitalista, não respeita o ser humano. Toda vez que a terra é transformada em mercadoria, o ser humano também se transforma em mercadoria. Por isso, “em 30 anos, de 1985 a 2015, foram assassinados na luta pela terra no Brasil 1356 pessoas, uma média de 43,2 por ano” (MOREIRA, 2017, p. 88, em Tese de doutorado na UFMG).
E a mineração? A mineração está entre as atividades mais destrutivas do planeta. Na mineração em grande escala, enormes quantidades de terra e subsolo são processados e grandes quantidades de água são usadas e enormes quantidades de material tóxico são deixados para trás. Os efeitos podem durar várias gerações. Os impactos ambientais provocam destruição, mortes, e são mais comuns do que imaginamos. Em Minas Gerais, os crimes cometidos pelas mineradoras Samarco (Vale e BH Billinton) em Mariana, e pela Vale, em Brumadinho, são realidades que clamam por justiça socioambiental.
Quando uma empresa de mineração chega à sua comunidade, a conversa é legal com maravilhosas promessas de benefícios para todos, falam como a mineração moderna é muito melhor. Porém, escondem uma verdade cruel. Elas não dizem que muitas comunidades são forçadas a deixarem suas terras e seus modos de vida, como ocorreu com as famílias de agricultores da comunidade da Mata da Bananeira, em Patrocínio, que foram coagidas a saírem de suas terras pela então mineradora Vale Fertilizantes. As mineradoras não mencionam nem antes e nem depois de se instalarem a imensa destruição ambiental, como as das nascentes que secaram no município de Tapira, devido ao aprofundamento da cratera (buraco) de extração, na exploração de rocha fosfática, da hoje empresa estadunidense Mosaic Fertilizantes. Nem tampouco as mineradoras falam da contaminação de águas subterrâneas e superficiais, como acontece na região do Barreiro, em Araxá, com metais pesados, como o bário, na mineração de nióbio pela CBMM, causando muitos casos de pessoas com câncer.
A mineração é importante para muitas coisas do dia a dia, mas, da forma predatória como é feita, não respeita a natureza e as pessoas, ao contrário, violenta a dignidade humana e a dignidade de toda a biodiversidade. Sua riqueza fica concentrada nas mãos de poucos. A resistência à mineração está sendo cada vez mais feita a partir das próprias comunidades que buscam colocar limites maiores nas atividades de mineração. Os casos bem sucedidos de resistência são aqueles sustentados a partir das ações das próprias comunidades.
O Papa Francisco afirma: “Em qualquer discussão sobre um empreendimento, dever-se-ia pôr uma série de perguntas, para poder discernir se o mesmo levará a um desenvolvimento verdadeiramente integral: Para que fim? Por qual motivo? Onde? Quando? De que maneira? A quem ajuda? Quais são os riscos? A que preço? Quem paga as despesas e como o fará? Neste exame, há questões que devem ter prioridade. Por exemplo, sabemos que a água é um recurso escasso e indispensável, sendo um direito fundamental que condiciona o exercício de outros direitos humanos. Isto está, sem dúvida, acima de toda a análise de impacto ambiental duma região.”

Obs.: Acompanhe notícias, textos e vídeos sobre a XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais nos sites:



Obs.: Eis mais algumas fotografias, abaixo.

Momento de Oração dos/as missionários/as próximo ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, na cidade de Romaria, MG, dia 06/11/2019.

Momento de Oração dos/as missionários/as próximo ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, na cidade de Romaria, MG, dia 06/11/2019.

Continua a Semana de Missões da XXII Romaria em uma escola da cidade de Romaria, MG.

Missionários/as em reunião diante do Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja.


Missões da XXII Romaria das Águas e da Terra em Escola da cidade de Romaria, na região do Alto Paranaíba, MG, na Arquidiocese de Uberaba, MG, dia 06/11/2019. Fotos: Laiza Dutra.

Momento de Oração dos/as missionários/as próximo ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, na cidade de Romaria, MG, dia 06/11/2019.

Por uma Educação a partir da mãe Terra e da Irmã Água rumo à construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver, com estilo de vida simples e sóbrio.



Queremos Ibirité, MG, território livre de mineração! Vídeo 2 - 31/10/2019



Queremos Ibirité, MG, território livre de mineração! Vídeo 2 - 31/10/2019.

Esse vídeo aqui, vídeo n. 2, foi gravado dia 31/10/2019, durante a visita de uma Comissão integrada pelo Dom Vicente Ferreira, inclusive, conforme expresso na Nota, abaixo.
“Queremos o município de Ibirité, MG, território livre da mineração. Dia 31/10/2019, junto com dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, o padre Jean, coordenador dos padres de 69 paróquias da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (RENSA) e um grupo de lideranças do Movimento socioambiental Serra Sempre Viva, visitamos, na parte da manhã, o manancial de Taboões, manancial de abastecimento público de Ibirité e de parte de Belo Horizonte. No manancial Taboões pudemos contemplar a maravilha que é toda a criação, obra do Deus da vida que cria e age nas ondas da história. O manancial de Taboões é um santuário natural e sagrado, mas está ameaçado de extinção pela mineradora Santa Paulina – que de santa só tem o nome - que insiste em retomar projeto de mineração ao lado do manancial, onde já existem enormes crateras deixadas por essa mesma mineradora. Visitamos também com dor no coração essas crateras que a mineradora Santa Paulina deixou ao lado do manancial Taboões em Ibirité. Na parte da tarde do mesmo dia, 31/10/2019, fizemos uma longa reunião com os vereadores e uma vereadora de Ibirité, MG. Reivindicamos o apoio firme de todos os vereadores e da vereadora de Ibirité na luta para impedirmos a reabertura de mineração no município de Ibirité. Exigimos que o prefeito de Ibirité, Wiliam Parreira, volte atrás e cancele a Carta de Anuência e concordância com a reabertura de mineração no município. Apresentamos propostas de vários projetos de lei que precisam ser aprovados na Câmara municipal de Ibirité, MG, para que em breve possamos declarar o município de Ibirité território livre da mineração. Como vice-presidente da Comissão Episcopal de Mineração e Ecologia Integral da CNBB, o bispo dom Vicente Ferreira está firme na luta pela superação da mineração devastadora em MG e no Brasil.
Não podemos admitir a retomada de mineração em Ibirité pela mineradora Santa Paulina, na Serra do Rola Moça, dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça. A mineradora Santa Paulina já causou um enorme estrago socioambiental dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça, no município de Ibirité, região metropolitana de Belo Horizonte, MG, ao lado do manancial de Taboões, manancial de abastecimento público de Ibirité e de parte de Belo Horizonte. Além de ser área do Parque e manancial de abastecimento público, a área é APP (Área de Preservação Permanente). Pior, agora a mineradora Santa Paulina já construiu, de forma ilegal e imoral, uma estrada que servirá para escoar o minério que pretende voltar a explorar ao lado das crateras já deixadas em Ibirité, dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça. No manancial de Taboões encontram muitas espécies vegetais e animais raros. As crateras enormes já deixadas pela mineradora Santa Paulina são chagas e feridas da mãe Terra que geme em dores de parto ou de estertor de morte. As poucas flores que insistem em irradiar beleza ao redor das crateras da mineradora Santa Paulina profetizam que não podemos em nenhuma hipótese aceitar a reabertura de mineração na área já sangrada e declarada como zona de sacrifício ao ídolo mercado.
Diante da crise hídrica, do colapso hídrico chegando e dos crimes/tragédias das mineradoras em conluio com o Estado, é postura irresponsável e suicida aprovar reabertura de mineração. Por isso, exigimos Ibirité como território livre de mineração.

Visita de Dom Vicente Ferreira, padre Jean, frei Elionaldo, frei Gilvander e representantes do Movimento Socioambiental SERRA SEMPRE VIVA ao manancial Taboões, em Ibirité, MG, dia 31/10/2019, com o objetivo de fortalecer a luta pela preservação dos mananciais e impedir a reabertura de mineração no município de Ibirité, MG. Foto: CPT/MG.

*Filmagem: Alenice Baeta, 31/10/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
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terça-feira, 5 de novembro de 2019

Povo de Deus se organizando por meio da XXII Romaria das Águas e da Terra de MG: 1º Encontro da Cartilha.


Povo de Deus se organizando por meio da XXII Romaria das Águas e da Terra de MG: 1º Encontro da Cartilha.

Missão em uma Escola na Cidade de Romaria, MG, dia 05/11/2019. Fotos: CPT/MG.
 A fé em Jesus Cristo e no seu Evangelho nos dá coragem, anima nosso espírito para a construção do Reino de Deus entre nós. Durante uma Semana de Missão da XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, de 02 a 8 de novembro de 2019, tendo como subsídio uma Cartilha com três Encontros (Roteiros Bíblicos) e uma Celebração, estamos refletindo sobre a irmã água e a mãe terra, dons de Deus que motivam e inspiram. A celebração final da XXII Romaria acontecerá na cidade de Romaria, no dia 10 de novembro desse ano de 2019, um domingo, das 8h30 às 16 horas. Eis, abaixo, um pouco do que consta o 1º Encontro da Cartilha das Missões.
A Mãe Terra e a Irmã Água são dons de Deus, que não podem ser tratados como mercadorias por um grupo de pessoas e empresas. Todos nós temos o direito de ter acesso a estes dons. Sem água não podemos viver! Sem terra sadia não podemos viver! Temos consciência de que sem o verdadeiro cuidado com a mãe terra e com a irmã água, em vão será nossa luta. Temos que estar unidos, pois a luta será grande e a mudança só acontecerá com engajamento coletivo e verdadeiras atitudes proféticas. Se permanecermos unidos, nada poderá nos desanimar. Nosso desejo é lutar pela defesa do interesse de todos e todas. Sabemos que o sistema capitalista, presente em nossa região e no Brasil inteiro, é uma máquina de moer vidas. Existem pessoas que, sintonizadas com o sistema capitalista, visam uma produção cada vez mais mecanizada, matando as nascentes, secando as grotas, os córregos, as lagoas e nossos rios, envenenando a terra, acumulando latifúndios. A mãe terra está clamando para ser partilhada, livre de venenos. Irmã água está clamando para ser preservada! 
Na Bíblia, no livro do Êxodo, especialmente no capítulo 18, Moisés estava enfrentando muitas dificuldades na condução do povo Rumo à Terra Prometida. Moisés estava levando toda a responsabilidade em suas costas. Ninguém pode achar que os problemas sociais são gerados por uma só pessoa, muito menos, pensar que a solução também virá de uma única pessoa. Não precisamos de heróis, mas sim de fazermos aliança em nossa luta e sermos organizados. O sogro de Moisés, chamado Jetro, entrou com a voz da experiência e dos longos anos vividos orientando-o a descentralizar a autoridade. Jetro propõe organizar o povo em grupos, formando assim uma grande Assembleia. Moisés ouviu o conselho de seu sogro! Seja na atitude de Jetro, sogro de Moisés, seja nas atitudes de Josué, ou mais ainda na forma como Jesus de Nazaré conduzia o povo, em todos, o que há de comum é a organização do povo como forma de fortalecimento.
O Deus da vida nos fala a partir da Bíblia e também a partir da realidade. A região da Arquidiocese de Uberaba e das Dioceses de Uberlândia, Patos de Minas e Ituiutaba – Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro - está sendo violentada pela multiplicação inconsequente dos agentes da agroindústria, de mineração, agronegócio com monoculturas da cana, do café e do capim, tudo com irrigação na base do hidronegócio. Apesar das boas práticas e uso sustentável da terra, da água e outros recursos naturais realizadas de maneira consciente por algumas entidades e pessoas nesses municípios, predominam graves problemas visíveis e muito mais ainda invisíveis que afetam a vida de todos na nossa região. Antigamente, esperava-se que a chuva chegasse para plantar. Tinha um tempo e uma duração previsível naturalmente. Tínhamos menos pessoas para alimentar e muitas áreas a serem incorporadas ao sistema produtivo. Praticava-se uma agricultura e pecuária extensiva. Ou seja, para aumentar a produção, aumentavam-se as áreas produtivas. O cerrado era ignorado como região boa para produção agrícola e pecuária. A preferência era pela Mata Atlântica. Depois, com os avanços das pesquisas descobriram a riqueza e possibilidades de produção no cerrado. Com isso, houve acentuada devastação do cerrado de forma que os empresários do agronegócio, além de utilizar essas e outras áreas de mata atlântica para produzir, passaram a plantar várias vezes por ano suas lavouras e também fazer uso desordenado da água, com as práticas da irrigação, captando água das lagoas, dos córregos, dos rios e do lençol freático via poços artesianos. Só que a captação desordenada além de baixar o nível da água subterrânea em função da redução das chuvas, beneficia apenas alguns proprietários, empresários, deixando consequentemente milhares de famílias camponesas em dificuldades. Assim, a miséria está se alastrando no campo e na cidade no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Existem pessoas sérias, órgãos, entidades e lideranças comprometidas que atuam para preservar e reverter a realidade das áreas degradadas. Mas, há muita fala, muito papel, pouca ação. Até mesmo no poder público estatal e alguns órgãos ambientais existem protagonistas dessa devastação socioambiental. Não fiscalizam e concedem licenças ambientais que na prática são usadas para se captar muito mais água do que o permitido legalmente. Somos testemunhas dos maus tratos impostos à mãe terra pela fome de lucro que destrói nascentes, seca córregos e polui ribeirões, deixando com sede os dois grandes rios do Triângulo Mineiro: o Rio Grande e o Rio Paranaíba, e seus afluentes. Além disso, em geral, as regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba são conhecidas como prósperas e ricas; no entanto, há uma gritante concentração de riquezas que produz uma relação de exploração e pobreza da maioria de sua população no campo e na cidade. Como sinal disso, mais de 20 mil famílias foram para ocupações em Uberlândia nos últimos anos. Nesse sentido, acolhendo o grito profético do Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, para cuidarmos de nossa Casa comum; celebrando a Campanha da Fraternidade sobre os Biomas Brasileiros e a Defesa da Vida, em 2017 e a Campanha da Fraternidade sobre Políticas Públicas em 2019, vivenciamos e celebramos a XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, uma caminhada que desperta a consciência dos e das agentes para a dimensão socioambiental da fé cristã. São promotores desta caminhada o trabalho da Cáritas Arquidiocesana de Uberaba, a atuação histórica do povo trabalhador da região, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e de Pastorais Sociais, junto com os Movimentos Sociais Populares no campo e na cidade, buscando a construção da Sociedade do Bem Viver e Conviver.


Momento de oração e celebração da Equipe missionária durante a XXII Romaria das Águas e da Terra de MG.

Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, em Romaria, onde acontecerá a XXII Romaria das Águas e da Terra de MG, dia 10/11/2019.


Entre os/as missionários/as estão pessoal das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), de Pastorais Sociais e indígenas Pataxó, inclusive.


Paixão na bacia do rio ex-Doce: crime e impunidade crescem

Paixão na bacia do rio ex-Doce: crime e impunidade crescem
Por Gilvander Moreira[1]

Foto: Divulgação / MAM -Movimento pela Soberania Popular na Mineração
O dia 05 de novembro de 2015 entrou para a história como o dia do maior crime/tragédia socioambiental da história do Brasil e um dos maiores do mundo: o crime das mineradoras VALE/Samarco/BHP e do Estado acontecido a partir de Bento Rodrigues, no município de Mariana, MG, com o rompimento da barragem de Fundão, que despejou abruptamente 55 milhões de toneladas de lama tóxica – rejeito de mineração – na calha do rio ex-Doce, matando instantaneamente 19 pessoas, milhões de peixes etc. Dia 05 de novembro de 2015, a sexta-feira da paixão da Bacia do rio ex-Doce no altar do mercado idolatrado que mata rio, mata peixe, mata gente e tudo o que encontra pela frente. Ao celebrarmos com ‘luto e luta’ os quatro anos desse crime/tragédia de proporções inimagináveis, precisamos prestar atenção sobre o tamanho da devastação socioambiental que esse crime/tragédia vem causando de forma continuada. O crime continua se reproduzindo e, pior, aumentando. A impunidade também só cresce. Há um silenciamento que insiste no esquecimento. Fala-se do crime/tragédia da Vale e do Estado a partir de Córrego de Feijão, em Brumadinho, dia 25 de janeiro de 2019, mas não podemos deixar cair no esquecimento o crime/tragédia que se abateu sobre toda a Bacia do rio ex-Doce. Eis alguns dados imprescindíveis para as análises e para subsidiar a luta pela superação desse imenso rastro de devastação.
Do tamanho de Portugal, a Bacia do rio ex-Doce está localizada na região leste de Minas Gerais e deságua no norte do estado do Espírito Santo; é a 5ª maior bacia hidrográfica do Brasil com 850 quilômetros de extensão; nela vivem 3,5 milhões de habitantes e bilhões de outros seres vivos da biodiversidade. Na bacia, acima de 350 mil pessoas estão em grave insegurança hídrica e alimentar sem poder usar a ‘água vermelha’ do rio ex-Doce que está com lama tóxica. Existem 377 mil nascentes em toda a bacia e estão todas sendo matadas pela monocultura do eucalipto, pecuária extensiva e por projetos de mineração. Os 55 milhões de metros cúbicos - equivalentes a 20 mil piscinas olímpicas - de lama tóxica jogados no rio ex-Doce destruíram as 120 mil nascentes que existiam nas margens do rio ex-Doce e nos mangues na foz, no Espírito Santo. Mais de 11 toneladas de peixes foram mortos e a reprodução de peixe foi extinguida. O crime acabou com a possibilidade de se usar a areia do rio ex-Doce para a construção civil e amputou a as condições de vida das comunidades ribeirinhas, de pescadores e de assentamentos da reforma agrária. Além das 19 pessoas assassinadas instantaneamente, nos últimos quatro anos morreram muito mais pessoas por depressão, por ataque cardíaco ou por briga por migalhas de água.
Em conluio com as mineradoras, por um dos seus braços que é o Poder Judiciário, o Estado permitiu que as mineradoras criminosas continuassem cuidando da cena do crime, fazendo paliativos e postergando infinitamente o pagamento das necessárias indenizações e o atendimento às justas reivindicações dos milhares de famílias que não foram apenas atingidas, mas golpeadas. Por meio do poder judiciário, o Estado se colocou de joelhos diante das mineradoras ao conceder autorização judicial para se criar a Fundação Renova, que é a mineradora Samarco travestida de fundação. O justo seria confiscar os bilhões de reais necessários das mineradoras VALE/Samarco/BHP e repassar diretamente para as entidades da Sociedade Civil organizada para, com acompanhamento do Ministério Público e da Defensoria Pública, empreender assistência técnica autônoma, encaminhar o pagamento com urgência de todas as indenizações devidas e implementar os melhores projetos de resgate e revitalização de toda a Bacia do rio ex-Doce que foi sacrificada por uma máquina de moer vidas.
Não podemos esquecer a infame flexibilização das leis de licenciamento ambiental promovida em regime de urgência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, sob liderança do ex-governador Fernando Pimentel (PT), logo após o início do crime/tragédia a partir de Bento Rodrigues. Alertamos também que após muita luta dos movimentos socioambientais e sob a comoção do crime/tragédia que ocorreu a partir de Brumadinho, o projeto de lei “mar de lama” aprovado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais ainda faculta às mineradoras o autocontrole e a autofiscalização, o que deixa a porta aberta para a produção de outros crimes.
Repudiamos também a autorização que o Governo de Minas Gerais, de Romeu Zema (Partido Novo), por meio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMAD), concedeu para a Samarco voltar a explorar minério em Bento Rodrigues, pois significa apunhalar novamente os povos e a bacia do rio ex-Doce. Não esqueçamos: a) há mais de 700 barragens de rejeitos de minério em Minas Gerais e a maioria com risco de rompimento; b) a cidade de Belo Horizonte e sua Região Metropolitana estão em aguda crise hídrica e com os dias contados para entrar em colapso hídrico, devido também ao assassinato do rio Paraopeba pelo crime/tragédia da Vale e do Estado, a partir de 25 de janeiro de 2019.

No Evangelho de Jesus Cristo e em documentos do Concílio Vaticano II há um alerta elementar: prestem atenção nos sinas dos tempos. Acrescento: Ouçamos os sinais dos lugares e dos territórios sacrificados pela mineração: os povos de Minas Gerais e os seres vivos da biodiversidade só terão futuro se a mineração e as monoculturas forem reduzidas a um mínimo necessário. Honremos os mortos vítimas das mineradoras e do Estado, na luta para vencermos a guerra que as mineradoras estão fazendo contra a mãe terra, a irmã água, os povos e todos os seres vivos.  

Belo Horizonte, MG, 05/11/2019.

Obs.: Abaixo, vídeos que versam sobre o assunto apresentado, acima.

1 - Denúncia comovente/Marino/crime/SAMARCO/VALE/BHP/ESTADO/Audiência Pública da ALMG. Parte I/Vídeo 2



2 - "Crimes da VALE pioram com o passar do tempo" (Marino)/Audiência Pública/ALMG/MG. II parte/Vídeo 3



3 - Depoimento de Marino - 1a Parte -  Seminário Ecoteologia e Mineração - Mariana/MG - 06/11/2017



4 - Depoimento de Marino (2a Parte): Ecoteologia e Mineração - Crime da Vale, Mariana/MG - 06/11/2017



5 - Depoimento de Marino - 3a Parte- Seminário de Ecoteologia e Mineração - Mariana/MG - 06/11/2017





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; mestre em Ciências Bíblicas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; assessor da CPT, CEBI, SAB, CEBs e Movimentos Sociais Populares; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

Visita ao manancial Taboões, em Ibirité, MG. Preservar, SIM! Minerar em ...




Visita ao manancial Taboões, em Ibirité, MG. Preservar, SIM! Minerar em Ibirité, NÃO! Vídeo 1 - 31/10/2019.

Esse vídeo aqui, vídeo n. 1, foi gravado dia 31/10/2019, durante a visita de uma Comissão integrada pelo Dom Vicente Ferreira, inclusive, conforme expresso na Nota, abaixo.
“Queremos o município de Ibirité, MG, território livre da mineração. Dia 31/10/2019, junto com dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, o padre Jean, coordenador dos padres de 69 paróquias da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (RENSA) e um grupo de lideranças do Movimento socioambiental Serra Sempre Viva, visitamos, na parte da manhã, o manancial de Taboões, manancial de abastecimento público de Ibirité e de parte de Belo Horizonte. No manancial Taboões pudemos contemplar a maravilha que é toda a criação, obra do Deus da vida que cria e age nas ondas da história. O manancial de Taboões é um santuário natural e sagrado, mas está ameaçado de extinção pela mineradora Santa Paulina – que de santa só tem o nome - que insiste em retomar projeto de mineração ao lado do manancial, onde já existem enormes crateras deixadas por essa mesma mineradora. Visitamos também com dor no coração essas crateras que a mineradora Santa Paulina deixou ao lado do manancial Taboões em Ibirité. Na parte da tarde do mesmo dia, 31/10/2019, fizemos uma longa reunião com os vereadores e uma vereadora de Ibirité, MG. Reivindicamos o apoio firme de todos os vereadores e da vereadora de Ibirité na luta para impedirmos a reabertura de mineração no município de Ibirité. Exigimos que o prefeito de Ibirité, Wiliam Parreira, volte atrás e cancele a Carta de Anuência e concordância com a reabertura de mineração no município. Apresentamos propostas de vários projetos de lei que precisam ser aprovados na Câmara municipal de Ibirité, MG, para que em breve possamos declarar o município de Ibirité território livre da mineração. Como vice-presidente da Comissão Episcopal de Mineração e Ecologia Integral da CNBB, o bispo dom Vicente Ferreira está firme na luta pela superação da mineração devastadora em MG e no Brasil. Não podemos admitir a retomada de mineração em Ibirité pela mineradora Santa Paulina, na Serra do Rola Moça, dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça. A mineradora Santa Paulina já causou um enorme estrago socioambiental dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça, no município de Ibirité, região metropolitana de Belo Horizonte, MG, ao lado do manancial de Taboões, manancial de abastecimento público de Ibirité e de parte de Belo Horizonte. Além de ser área do Parque e manancial de abastecimento público, a área é APP (Área de Preservação Permanente). Pior, agora a mineradora Santa Paulina já construiu, de forma ilegal e imoral, uma estrada que servirá para escoar o minério que pretende voltar a explorar ao lado das crateras já deixadas em Ibirité, dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça. No manancial de Taboões encontram muitas espécies vegetais e animais raros. As crateras enormes já deixadas pela mineradora Santa Paulina são chagas e feridas da mãe Terra que geme em dores de parto ou de estertor de morte. As poucas flores que insistem em irradiar beleza ao redor das crateras da mineradora Santa Paulina profetizam que não podemos em nenhuma hipótese aceitar a reabertura de mineração na área já sangrada e declarada como zona de sacrifício ao ídolo mercado. Diante da crise hídrica, do colapso hídrico chegando e dos crimes/tragédias das mineradoras em conluio com o Estado, é postura irresponsável e suicida aprovar reabertura de mineração. Por isso, exigimos Ibirité como território livre de mineração.

Visita ao manancial Taboões, em Ibirité, MG, dia 31/10/2019: luta pela preservação dos mananciais e contra o retorno de mineração para o município de Ibirité. Foto: Arquivo CPT/MG.

*Filmagem: Alenice Baeta, 31/10/2019.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Boletim n.º 1 das Missões da XXII Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais


Boletim n.º 1 das Missões da XXII Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais



O quê? XXII Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais.
Onde? Na cidade de Romaria, no Alto Paranaíba, na Arquidiocese de Uberaba, MG.
Quando? Dia 10 de Novembro/2019.
TemaCom a Mãe Abadia, os filhos e filhas e toda a natureza clamam em dores de parto.
LemaDas águas sujas, em Romaria, na luta pela terra e pelas águas, fontes de vida.

Dias 2 e 3/11/2019, no Salão da Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Uberlândia, realizamos um Encontro de Preparação de quase 40 Missionários/as para uma Semana de Missões da XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, que acontecerá no próximo dia 10 de novembro de 2019, na cidade de Romaria, na região do Alto Paranaíba, na Arquidiocese de Uberaba, MG. Após a acolhida e apresentação de todos/as, houve Oração Inicial do Encontro e seguiu-se, com frei Rodrigo Peret, apresentação da realidade histórica e atual do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Foram apresentados o Cancioneiro (Livro de Cantos) da XXII Romaria e a Cartilha das Missões da XXII Romaria com quatro Encontros para reflexão e celebração nas Comunidades durante a Semana Missionária. Fizemos retrospectiva dos passos dados até aqui no processo de preparação para a XXII Romaria. Refletimos sobre a mística e a espiritualidade da Romaria das Águas e da Terra. Após a Constituição das Equipes Missionárias, fizemos uma Celebração de Envio para a Missão em várias Comunidades rurais e urbanas nas cidades de Uberlândia, Monte Carmelo, Indianópolis e Romaria. Haverá missão também nos Assentamentos Carinhosa e Taperão, no município de Uberlândia.
     Com a presença espiritual do nosso querido padre Ernesto e com as bênçãos de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, na parte da tarde do dia 03/11, os/as missionários/as partiram para a missão que acontecerá até o dia 08/11. Na manhã do dia 09/11, faremos, na cidade de Romaria, a avaliação das missões. Na parte da tarde do dia 09/11, realizaremos a organização dos últimos preparativos para a XXII Romaria. Na noite de 09/11, acontecerá uma Noite Cultural na Cidade de Romaria. E dia 10 de novembro, das 8h30 às 16 horas acontecerá a XXII Romaria das Águas e da Terra de MG, que terá início em uma das entradas da cidade de Romaria. Gratidão a todos/as os/as missionários/as que vieram de longe, com muito amor, esperança e fé no Deus da Vida e no Evangelho de Jesus Cristo. Gratidão a todos/as que têm contribuído na realização da XXII Romaria.

Obs.: Acompanhe notícias, textos e vídeos nos sites:

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Queremos o município de Ibirité, MG, território livre da mineração.

Queremos o município de Ibirité, MG, território livre da mineração.

Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e vice-presidente da Comissão Episcopal de Mineração e Ecologia Integral da CNBB, em visita ao Manancial Taboões, em Ibirité, MG, dia 31/10/2019: luta contra o retorno de mineração ao município de Ibirité, MG, e luta pela preservação dos mananciais do Parque Estadual Serra do Rola Moça, na região metropolitana de Belo Horizonte, MG.
Dia 31/10/2019, junto com dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, o padre Jean, coordenador dos padres de 69 paróquias da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (RENSA) e um grupo de lideranças do Movimento socioambiental Serra Sempre Viva, visitamos, na parte da manhã, o manancial de Taboões, manancial de abastecimento público de Ibirité e de parte de Belo Horizonte. No manancial Taboões pudemos contemplar a maravilha que é toda a criação, obra do Deus da vida que cria e age nas ondas da história. O manancial de Taboões é um santuário natural e sagrado, mas está ameaçado de extinção pela mineradora Santa Paulina – que de santa só tem o nome - que insiste em retomar projeto de mineração ao lado do manancial, onde já existem enormes crateras deixadas por essa mesma mineradora. Visitamos também com dor no coração essas crateras que a mineradora Santa Paulina deixou ao lado do manancial Taboões em Ibirité. Na parte da tarde do mesmo dia, 31/10/2019, fizemos uma longa reunião com os vereadores e uma vereadora de Ibirité, MG. Reivindicamos o apoio firme de todos os vereadores e da vereadora de Ibirité na luta para impedirmos a reabertura de mineração no município de Ibirité. Exigimos que o prefeito de Ibirité, Wiliam Parreira, volte atrás e cancele a Carta de Anuência e concordância com a reabertura de mineração no município. Apresentamos propostas de vários projetos de lei que precisam ser aprovados na Câmara municipal de Ibirité, MG, para que em breve possamos declarar o município de Ibirité território livre da mineração. Como vice-presidente da Comissão Episcopal de Mineração e Ecologia Integral da CNBB, o bispo dom Vicente Ferreira está firme na luta pela superação da mineração devastadora em MG e no Brasil.
Não podemos admitir a retomada de mineração em Ibirité pela mineradora Santa Paulina, na Serra do Rola Moça, dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça. A mineradora Santa Paulina já causou um enorme estrago socioambiental dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça, no município de Ibirité, região metropolitana de Belo Horizonte, MG, ao lado do manancial de Taboões, manancial de abastecimento público de Ibirité e de parte de Belo Horizonte. Além de ser área do Parque e manancial de abastecimento público, a área é APP (Área de Preservação Permanente). Pior, agora a mineradora Santa Paulina já construiu, de forma ilegal e imoral, uma estrada que servirá para escoar o minério que pretende voltar a explorar ao lado das crateras já deixadas em Ibirité, dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça. No manancial de Taboões encontram muitas espécies vegetais e animais raros. As crateras enormes já deixadas pela mineradora Santa Paulina são chagas e feridas da mãe Terra que geme em dores de parto ou de estertor de morte. As poucas flores que insistem em irradiar beleza ao redor das crateras da mineradora Santa Paulina profetizam que não podemos em nenhuma hipótese aceitar a reabertura de mineração na área já sangrada e declarada como zona de sacrifício ao ídolo mercado. Uma placa empoeirada da Mineradora Santa Paulinha está colocada distante apenas alguns metros de placa da COPASA anunciando que a área é manancial de abastecimento público. Aliás, a cerca de arame do manancial Taboões está literalmente ao lado das crateras causadas pela mineradora Santa Paulina. Uma placa da COPASA no local diz que a vazão do manancial Taboões é de 50 litros por segundo, o que equivale a 3.000 litros por minuto, 180.000 litros por hora, 4.320.000 litros por dia. Isso é muita água: mais de 20 caminhões por hora ou 480 caminhões de água por dia. Ou 14.400 caminhões por mês. Ou 172.800 caminhões de água por ano. Enfim, o Manancial Taboões garante o abastecimento de milhares de pessoas em Ibirité e Região metropolitana de Belo Horizonte, além de dessedentar milhões de seres vivos na área. Logo, é uma insanidade o projeto da Mineradora Santa Paulina que visa reabrir mineração na área já muito agredida. Basta de mineração em Ibirité! Exigimos o município de Ibirité, MG, como Território Livre de Mineração.
Ibirité só sobreviverá sem mineração. Com mineração, Ibirité não sobreviverá! Mineradoras não geram empregam, geram, sim, muito desemprego. E os poucos empregos que geram são à custa de muito sangue e devastação ambiental.
Diante da crise hídrica, do colapso hídrico chegando e dos crimes/tragédias das mineradoras em conluio com o Estado, é postura irresponsável e suicida aprovar reabertura de mineração. Por isso, exigimos Ibirité como território livre de mineração.

Assinam essa Nota:
Movimento SERRA SEMPRE VIVA
Comissão Episcopal da Mineração e Ecologia Integral da CNBB
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)
CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira).

Ibirité, MG, 01/11/2019.