segunda-feira, 4 de abril de 2016

Reocupação da fazenda Marilândia, em Manga/MG: 84 famílias não podem sob...

80% da fazenda Marilândia, em Manga, Norte de Minas Gerais, é território quilombola. Nota da CPT/MG.

80% da fazenda Marilândia, em Manga, Norte de Minas Gerais, é território quilombola.
Nota da CPT/MG.
A Fundação Cultural Palmares já expediu certificado atestando que cerca de 80% da fazenda Marilândia, no município de Manga, norte de Minas Gerais, faz parte de quatro territórios quilombolas: comunidades de Bebedouro, Justa I, Justa II e Brejo de São Caetano, todos no município de Manga.
Essa informação comprova a inconstitucionalidade, injustiça e ilegalidade do 12º despejo realizado dias 29 e 30/03/2016, de 84 famílias Sem Terra que há 18 anos ocupam a fazenda Marilândia. Por ser território quilombola, a Vara Agrária de Minas/TJMG não teria competência para decidir sobre reintegração de posse da fazenda Marilândia, em Manga, para beneficiar o fazendeiro Thales Dias Chaves, autor do processo de reintegração de posse, que já tinha vendido a fazenda para Antônio Taco ou Válter Arantes (o Valtinho), que é dono da Rede de Supermercados BH, que já comprou mais de 50 fazendas no norte de Minas, segundo informações correntes na região. Sobre terras quilombolas é a justiça federal que tem competência.
Eis, abaixo, cópias dos quatro Certificados expedidos pela Fundação Cultural Palmares e cópia do Mapa delimitando os quatro territórios quilombolas no município de Manga, no norte de Minas. Pelo Mapa se vê que cerca de 80% da fazenda Marilândia é território quilombola. Os quilombolas do quilombo de Praia, de Matias Cardoso, visitaram as famílias que reocuparam pela 12ª vez a fazenda Marilândia, após o inconstitucional, injusto e covarde despejo dos dias 29 e 30/03/2016.

Assina essa nota,
Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 de abril de 2016.








“Queremos terra, pão e água. Só isso! Vamos conquistar.” Manga, norte de MG, 03/04/2016.

“Queremos terra, pão e água. Só isso! Vamos conquistar.”
Manga, norte de MG, 03/04/2016.

As famílias da Ocupação Baixa Funda, na fazenda Marilândia, em Manga, norte de Minas, no quarto dia de Ressurreição.
“Queremos terra, pão e água. Só isso! Vamos conquistar. Reocupamos a terra pela 12ª vez para daqui não mais sair. Essa terra é terra de Deus, terra nossa.” (Sr. Wilson, camponês de 73 anos).
A Vara agrária de MG/TJMG + Governo de MG + PMMG + latifundiário do da Rede de Supermercado BH despejaram 84 famílias que ocupavam há 18 anos a fazenda Marilândia, no município de Manga, no Norte de Minas Gerais. Derrubaram e destruíram todas as moradias e cercas, mas não levaram a esperança e o sonho das 84 famílias camponesas que aguerridamente lutam pela terra há 18 anos. Esse foi o 12º despejo, seguido, três dias após da 12ª reocupação.
Estão sem as cercas que protegiam suas roças, mas cercados de vigias e espiões. Vejam como a vida vai renascendo nessas imagens depois do terceiro dia de reocupação e ressurreição.
Ontem, dia 03/04/2016, as famílias receberam visita dos irmãos  camponeses do quilombo de Praia, de Matias Cardoso. As famílias, em mutirão, estão colhendo a roça de milho que não foi destruída. Mulheres e homens prepararam comida e lanche para partilhar com os irmãos quilombolas visitantes.
Final de tarde: peregrinação sobre toda a área devastada. Uma constatação emocionante: muitas pessoas choraram aos ver as dezenas de casas destruídas pelos tratores do TJMG, do Governo de MG, PMPM e do latifundiário Rede de Supermercado BH.
Chegamos aos entulhos da casa do Sr. Biato Salu, onde o encontramos molhando as plantas e tratando dos cachorros que não abandonaram o local. Sr. Biato disse: “Não sei mais o que fazer. Retirei os animais por várias vezes, mas eles voltam e estão muito tristes e abatidos. Sinto que eles continuam protegendo a casa e me esperando chegar da roça.”
Vimos o tanque de água de pé e algumas plantas sobreviventes ao 12º despejo da Ocupação da fazenda Marilândia dias 29 e 30/03/2016: maracujá e laranjeiras.
Ao retornar da peregrinação do reconhecimento da realidade, aconteceu uma bonita partilha. No terreiro onde derrubaram a primeira moradia, todos agradeceram a Deus e ofertou ao Deus da vida a alegria cantando e dançando. Jovens, adultos e Sr. Wilson, 73 anos, enquanto dançava, repetia sem parar: “Queremos terra, pão e água. Só isso! Vamos conquistar. Reocupamos a terra pela 12ª vez para daqui não mais sair. Essa terra é terra de Deus, terra nossa.”
As famílias caminham pela terra revendo os rastros da destruição e juntando as forças. 84 famílias foram despejadas covardemente, de forma injusta e inconstitucional, mas todas as famílias reocuparam a fazenda Marilândia, no município de Manga, no norte de Minas Gerais.
A situação é muito tensa no local, pois o gerente da fazenda já fez várias ameaças. Exigimos que a PM de Manga cumpra sua missão constitucional, que não se coloque ao lado do latifúndio e que garanta a paz na ocupação. A CPT já denunciou várias vezes atuação suspeita de policiais de Manga protegendo o latifúndio e assim aumentando os riscos de atuação de jagunços sobre as 84 famílias que agora reocuparam pela 12ª vez a fazenda Marilândia, em Manga, no norte de Minas Gerais.

Veja três vídeos-denúncias nos links, abaixo:

1)   Denúncia do despejo da Ocupação da fazenda Marilândia, em Manga, norte de MG: https://www.youtube.com/watch?v=uKoNY3ORlzM

2)   Veja a violência do despejo da fazenda Marilândia, em Manga, MG: https://www.youtube.com/watch?v=xv8d5FAKlBk

3)   As 84 famílias reocuparam a fazenda Marilândia, em Manga, dia 02/04/2016:

Informe da Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG, em 04/04/2016.