sábado, 16 de janeiro de 2016

OPTAR PELOS POBRES E PELA POBREZA TAMBÉM, por Dom Pedro Casaldáliga

OPTAR PELOS POBRES E PELA POBREZA TAMBÉM
Dom Pedro Casaldáliga

A opção pelos pobres é uma opção sempre atual, pelo menos para um cristianismo que mereça este nome. Atual e essencial. Por dois motivos: porque é a opção do Deus de Jesus e porque é uma opção que afeta estruturalmente a vida da sociedade humana e a missão da Igreja.
É justo reconhecer que a Igreja, genericamente falando, sempre optou pelos pobres em termos de caridade beneficente, de assistência pontual, às vezes também de misericórdia heroica. Comblin, sempre incisivo e lucidamente demolidor, como um profeta bíblico, escreve que “a opção pelos pobres ainda é uma invenção a ser posta em prática”; e que “não podemos imaginar toda a transformação que implica para uma Igreja habituada a se adaptar às classes dominantes”. Acrescenta ainda, duro e veraz: “Como é sabido, a fórmula opção pelos pobres foi imediatamente corrigida pelo magistério. Disseram: “Opção preferencial, não exclusiva, pelos pobres”. O que se quer dizer com a expressão não exclusiva? Na prática se quer dizer; Não até o ponto de que tenhamos que mudar nossos comportamentos, nossas estruturas fundamentais, que são de classe média”. “Fazer a opção pelos pobres é hoje um desafio quase impossível, porque supõe uma ruptura com a cultura dominante e não há nenhum signo de que a Igreja católica queira se distanciar da cultura dominante.”
Hoje a opção pelos pobres deveria ser mais provocativamente atual, porque a pobreza é maior e mais globalmente estruturada. Porque os pobres são pobres como pessoas e como povos, vivem na pobreza e estão sem poderes e são sempre mais empobrecidos e despojados. Já não são apenas pobres, são também excluídos, sobrantes, não existem para o sistema.
A tentação, que Comblin aponta como pecado real, é forte mesmo e consiste em relativizar essa opção e fazer dela uma entre outras opções cristãs.
É interessante observar, em vários textos de Comblin, como ele faz questão de proclamar, com o Evangelho na mão, que os ricos também podem se salvar. Jesus, vem dizer Comblin, não ignorou os ricos nem os condenou simpliciter: apenas ... lhes exigiu, lhes exige e lhes exigirá sempre que deixem de ser ricos privilegiados e excluidores. Conjugar isso honestamente, na vida prática, eis a questão! Coração de pobre e vida de rico, isso parece uma contradição nos termos, evangelicamente falando.
Trata-se então de firmar a opção pelos pobres; de retoma-la, lucidamente, atualizadamente, mundialmente, estruturadamente.
E essa estruturação da opção pelos pobres, essa sua mundialização, exige optar-se também pela pobreza. Para a Humanidade, submetida hoje como nunca a tentação do ter e do consumir, do lucro e do privilégio, se impõe uma virada radical: da civilização do capital para a civilização do trabalho, da civilização acumulação para a civilização da partilha, da civilização do privilégio para a civilização da igualdade fraterna. Desta civilização, que chamamos ocidental ( e às vezes “ocidental-cristã”), para a “Civilização da pobreza”, como pedia o teólogo mártir Ellacuría, nos tempos heroicos de El Salvador. Ou a “Civilização da sobriedade”, para ajudar a entender a pobreza sem a acusação – desculpa de “pauperismo”.
Evidentemente, não estamos a favor da pobreza dos pobres. Estamos contra sua pobreza injusta e contra a riqueza iníqua dos ricos. Optamos pelo testemunho de vida e morte do pobre Jesus de Nazaré. Optamos pela pobreza do Reino, proclama feliz no código das bem – aventuranças.
A opção pela pobreza que o Evangelho nos exige inclui necessariamente uns valores profeticamente contestatários. Rafael Aguirre, em seu livro Ensayo sobre los Orígenes Del cristianismo, destaca três grandes valores centrais preconizados por Jesus, que simultaneamente contestavam e contestam antivalores de seu tempo e de todos os tempos. Diante do prurido da honra, a simplicidade e “o último lugar”; diante da paixão pelo poder, a constante disponibilidade para o serviço; da cobiça do ter, o despojamento e a partilha; diante da lógica da força, o instinto divino da doação e do amor desinteressado.
Optar pelos pobres e pela pobreza, assim entendido, é lutar pela justiça, pela fraternidade, pela paz. Quando se proclama nos fóruns alternativos que “um outro mundo é possível”, quer se dizer que é possível e necessário um mundo significativamente “outro”. Sem agressões à natureza, tão brutalmente depauperada por esta nossa civilização industrial; sem prepotências pessoais, ou nacionais, ou imperiais, para possibilitar o concerto dialogante e pacífico dos povos e das culturas; sem consumismo desenfreados que necessariamente produzem a fome e a exclusão. Um mundo sem Lázaros e sem Epulões. “Uma família de mais ou menos todos iguais”, como pedia generosamente o patriarca sertanejo da ilha do Bananal.
Deve-se lutar pela justiça, pela paz, “pobremente”, com a simplicidade do coração e com meios popularmente e evangelicamente pobres. Não se vence a riqueza injusta com uma militância rica! A própria evangelização não justifica o poderio, a ostentação, o marketing.
A tentação, dizíamos, é encostar a opção pelos pobres, como uma opção secundária, opcional. E é mais tentação ainda, por mais sofisticadamente apresentada, a tentação de considerar anacrônica antimoderna, desfuncional, a opção pela pobreza evangélica – nas pessoas cristãs, nas famílias cristãs, nas congregações religiosas, nas cúrias e nas excelências eclesiásticas. São tentações muito atuais e sedutoramente formuladas. Teria passado a época do Evangelho “sem glosa” , a época dos entusiasmos de Medellín e a época dos martírios pelo Reino. Agora estamos na modernidade pós – moderna e no carismatismo apaziguador. Não estão na moda nem os grandes relatos, nem os grandes paradigmas, nem as grandes opções ...
Bernhard Häring, depois de ter revolucionado a visão e o ensino da moral cristã, nos deixou, em seu livro Rezo porque vivo, vivo porque rezo, este pedido testamentário: “Não temos outra alternativa, se queremos ser cristãos: devemos fazer nossas as opções do pobre de Javé, esposar a pobreza e estar atentos a todos os pobres que vivem ao nosso redor, depois de termos traçado uma vida em virtude da qual se suavize a miséria em todas as partes do mundo”.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Ordenação sacerdotal de frei Gilvander Moreira, em Arinos, MG, dia 30/07...

Ordenação sacerdotal de frei Gilvander Moreira, Arinos, dia 30/07/1994 (...

Carlos Campos, o Carlinhos do PSOL/MG, ex-presidente da CUT/MG partiu para a vida em plenitude.

Carlos Campos, o Carlinhos do PSOL/MG, ex-presidente da CUT/MG partiu para a vida em plenitude.
Ontem, dia 12/01/2016, de surpresa, a irmã morte levou nosso com-panheiro de muitas lutas por justiça social: Carlos Campos, o Carlinhos do PSOL/MG, ex-presidente da CUT/MG e companheiro de vida, de amor e de luta da nossa grande guerreira e lutadora Maria da Consolação Rocha.
Vai aqui, em nome das Ocupações urbanas de BH e RMBH, e em nome da CPT, a expressão de nossa eterna gratidão ao Carlinhos e à Maria da Consolação. Em todas nossas lutas, Carlinhos e Maria da Consolação sempre estiveram presentes comprometidos também com a luta por moradia digna, própria e adequada, por reforma urbana também.
Eu, frei Gilvander, tive a alegria de gravar alguns depoimentos do Carlinhos no calor das lutas das ocupações urbanas. Estão no youtube. Carlos Campos, presente, sempre em nós, na luta!
Obrigado, irmão de luta! Você continuará vivo em nós na luta!
Pelas ocupações urbanas de BH e RMBH e pela CPT, frei Gilvander Moreira.
P.S.: Na foto, abaixo, Carlinhos marcha ao lado de sua grande companheira e lutadora Maria da Consolação Rocha.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Toda solidariedade à greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Cemig. Nota Pública. BH, 07/01/2016.

Toda solidariedade à greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Cemig. Nota Pública. BH, 07/01/2016.

Acompanhamos com grande descontentamento a implementação ao longo dos governos de Aécio Neves e Antonio Anastasia de uma política de precarização dos serviços da Cemig. Esses governos incentivaram medidas que trouxeram grandes prejuízos ao desenvolvimento do estado, à sociedade e aos trabalhadores. É uma vergonha para todo o Brasil a média de um trabalhador terceirizado morto em serviço para a Cemig a cada 45 dias.
Assistimos ainda a empresa repassar 100% dos lucros aos acionistas e atingir a incrível marca de 18 mil trabalhadores terceirizados contra 8 mil efetivos. Os governos neoliberais conseguiram a façanha de tornar a diferença entre o menor e o maior salário dentro da empresa, que era de 18 vezes, em 32 vezes, graças à distribuição da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de forma a priorizar os salários mais altos. 
Era grande a expectativa dos movimentos sociais, sindicais, populares, estudantis e dos trabalhadores em geral de mudança na gestão da Cemig. O então candidato Fernando Pimentel assumiu o compromisso de colocar fim à terceirização e a rever as políticas da empresa. Porém, o governador assumiu a postura de virar as costas às reivindicações dos trabalhadores e recuou das próprias promessas, transformando nossas expectativas em frustração e indignação.
Por tudo isso, entendemos que a greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Cemig, que já ultrapassa 40 dias, é legítima, oportuna e representativa da demanda do conjunto dos movimentos sociais por uma gestão verdadeiramente preocupada com o interesse público.
Nos somamos à categoria dos eletricitários, ao Sindieletro e demais sindicatos na reivindicação por uma política de primarização, com contratação imediata dos aprovados em concurso, além do estabelecimento de um Acordo Específico de Primarização, contra a retirada de direitos, e pelo repasse de 100% do PLR de forma igualitária a todos trabalhadores e trabalhadoras.
Nos somaremos aos eletricitários e eletricitárias nas mobilizações e na difusão da verdade sobre a greve e a Cemig e pedimos o imediato atendimento das reivindicações. Defendemos que a Cemig precisa estar a serviço do povo mineiro.

Assinam essa Nota:
 ASSEPEMGS
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas - AMES BH
Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB
Central Única dos Trabalhadores  - CUT
Comitê Igrejas
Confederação Nacional dos Urbanitários – CNU
Coletiva Flor de Cacto - Uberlândia
Coletivo Carcará - São João Del Rei
Coletivo Henfil de Comunicação
Coletivo Maria Maria - Juiz de Fora
Coletivo Quilombo - Sul de Minas
Coletivo Retalho de Fulô - Diamantina
Coletivo Terra Roxa - Juiz de Fora
Consulta Popular
DCE UFMG
Federação dos Empregados Rurais Assalariados de Minas Gerais
Federação Estadual dos Metalúrgicos de MG - FEM - CUT 
Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil – FIT METAL
Federação Nacional dos Estudantes de Escolas Técnicas - FENET
Federação Nacional dos Trabalhadores Gráficos
Federação Nacional dos Urbanitários - FNU
Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Minas Gerais - FETRAF MG
Fórum Político Inter-religioso/BH
Grupo Coexista
Kizomba
Levante Popular da Juventude
Luta Popular e Sindical - LPS
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos - MTD
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas - MLB
Movimento de Mulheres Olga Benário
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Movimento Luta de Classes
Movimento Mundo do Trabalho Contra a Precarização
Movimento pela Soberania Popular Frente a Mineração - MAM
Partido Comunista Revolucionário
Pastorais Sociais
Quem Luta Educa
Rede Nacional de Advogados Populares - RENAP
Rede Nós Amamos Neves
Sindados MG
Sindágua MG
SindMetal Mário Campos
SindRede BH
Sindibel
Sindicato dos Aeroviários de Minas Gerais
Sindicato das Enfermeiras de MG
Sindicato dos Funcionários na Administração em Jornais e Revistas
Sindicatos dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais 
Sindicato dos Metalúrgicos BH Contagem
Sindicato dos Metalúrgicos de JF
Sindicato dos Psicólogos de Minas Gerais
Sindicato dos Radialistas de Minas Gerais
Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de JF
Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Extrema e Região - STIMEC
Sindicato dos Trabalhadores nos Correios - Sintect MG
Sindimetro MG
Sindicato dos Refratários MG
Sindicato dos Sociólogos
Sindifes
Sindipetro MG
SindUTE MG
Sinjus MG
Sinpro JF
Sinttel MG
União Colegial de Minas Gerais – UCMG
União da Juventude Rebelião – UJR
União da Juventude Socialista - UJS
União Estadual dos Estudantes - UEE MG
União Nacional dos Estudantes - UNE
Unidade Popular pelo SocialismoDigite uma mensagem