quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A arapuca da COPA, artigo de Mauro Santayana, no Jornal HOJE EM DIA, 29/01/2014, p. 17.

A arapuca da COPA.
Mauro Santayana – santayana.mauro@gmail.com

Pudesse voltar atrás, e talvez o presidente Lula não tivesse apresentado a candidatura do país à COPA do Mundo de 2014. Os problemas que o Brasil tem enfrentado são tantos – e a resistência a tudo que cheire a Panem et Circenses tão grande, nos dia de hoje, que até a capital da Suécia, uma das nações mais ricas e civilizadas do mundo, acaba de recusar, com certeza alertada pelo que está ocorrendo em nosso país, o polêmico privilégio de sediar as Olimpíadas de Inverno de 2022, com a justificativa de economizar recursos públicos.
Com sua ingenuidade, lassidão e “salto alto” – pura arrogância e soberba, segundo seus inimigos -, o PT não percebeu, em 2007, que, em política, toda vitória aparente pode ser usada contra o vitorioso, até prova em contrário. Que o mel que se oferece hoje ao povo, pode se transmutar rapidamente em fel, quando não se presta atenção aos detalhes. E que – como no caminho da Chapeuzinho para a casa de sua avó – existem mais percalços que se possa imaginar entre o sonho e a realidade.
Considerando-se os recursos que envolvia, e sua importância estratégica para o governo e a nação, a Copa deveria ter sido tratada – sem licitação ou terceirização – do planejamento à execução, como uma operação de Estado.
Se o governo tivesse constituído uma estatal binacional com a China, aproveitando a experiência de Pequim na organização das Olimpíadas, os estádios, por exemplo, estariam prontos em poucos meses e seu custo não seria de um centavo a mais que o previsto. Na comunicação, a Copa continua sendo tratada como festa e não como um projeto nacional com investimento, retorno, criação de empregos e renda definida, e os altos e baixos na relação com a Fifa beiram o improviso.
Enquanto isso, cidadãos voltam às ruas, e com eles, episódios absurdos e constrangedores, como o protagonizado por soldados da PM contra um manifestante em São Paulo.
Os soldados envolvidos poderiam alegar que estavam sendo ameaçados, se estivessem correndo do rapaz – como foi o caso do coronel agredido por manifestantes em junho – e não o contrário.
Cercado por homens fardados, armados e perigosos, que o perseguiam, com a evidente intenção de agredi-lo, e – como se viu pelo vídeo – provavelmente, matá-lo, era o rapaz – mesmo que estivesse portando um estilete – que estava em situação de legítima defesa, e não os soldados. Nunca é demais repetir, enganam-se aqueles que pensam que os protestos conta a Copa irão beneficiar, de alguma forma, a oposição.
Primeiro, porque nos estados que comanda e que sediarão jogos, a oposição – a exemplo do próprio governo – virou vidraça para as pedras – que não possuem rumo certo ou filiação partidária – da ala mais radical dos manifestantes.
E, também, porque a oposição não pode fingir apoiar os “anti-Copa”, enquanto sua polícia persegue e acua, agride, ataca e atira em quem protesta contra o evento, como vimos em São Paulo.
Obs.: Texto publicado no Jornal HOJE EM DIA, 29/01/2014, Opinião, p. 17.




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