ELOY FERREIRA DA SILVA: 41 ANOS DO SEU MARTÍRIO EM DEFESA DOS CAMPONESES POSSEIROS NA LUTA PELA TERRA - Por frei Gilvander Moreira[1]
Eloy Ferreira da Silva, mártir da luta em defesa dos camponeses posseiros em Minas Gerais.Dia 16 de dezembro de 2025, celebraremos
41 anos do martírio de Eloy Ferreira da Silva. Necessário se faz resgatarmos quem
foi Eloy e continua sendo, agora em vida plena e em nós na luta pela terra,
pela reforma agraria e pela demarcação dos territórios dos Povos Indígenas e
Tradicionais.
Como dirigente sindical, viveu
intensamente o apoio à luta de organização e resistência dos posseiros do município
de São Francisco e da região norte e noroeste de Minas Gerais. Eleito Delegado
Sindical do Distrito de Serra das Araras, em 1978, ele liderou a resistência
dos posseiros contra os invasores e grileiros de terra. Presidente do Sindicato
dos Trabalhadores/as Rurais de São Francisco, desde 1981, Eloy Ferreira da
Silva era uma das lideranças mais combativas no norte e noroeste de Minas
Gerais, conhecido e respeitado em todo o estado.
As ameaças de
morte que Eloy sofreu foram muitas. Foram constantes por parte dos grileiros e
até do Juiz de Direito da cidade, que várias vezes o ameaçou psicologicamente.
“Trabalhador
rural não é covarde”, dizia Eloy, que denunciava as pressões, os despejos e
as queimas de casas a todas as entidades que podiam dar algum apoio. Combatia
toda violência que recaia sobre os camponeses posseiros: “Nossa arma é união, organização e a verdade”,
Eloy sempre dizia.
Praxedes Ferreira da Silva, posseiro
sobrinho de Eloy Ferreira da Silva, assassinado no município de São Francisco,
em 28 de outubro de 1978. Eloy sentia a dor pelo assassinato do seu sobrinho
Praxedes. Eloy se indignava diante de toda e qualquer injustiça e violência. Eloy
não arredava o pé da luta pelos direitos dos camponeses posseiros. As ameaças
seguiam aumentando. Até que dia 16 de dezembro de 1984, Eloy Ferreira da Silva foi barbaramente
assassinado e se tornou mais um mártir da luta pela terra e pela Reforma Agrária.
Este assassinato atingiu não só o Eloy,
mas também a organização do povo camponês. Atingiu um líder que doou sua vida
como Jesus Cristo para que os pobres deixem de ser escravizados pelos
poderosos.
Eloy era um homem de fé profunda. A todo
momento ligava sua luta à libertação dos hebreus escravizados no Egito, sob o
imperialismo dos faraós. “Deus está do
nosso lado” era a fé que animava sua luta. Eloy buscava praticar a
utopia cantada no Cântico de Maria no Evangelho de Lucas: “Os poderosos serão derrubados dos seus tronos e os pobres serão
elevados. Os ricos serão despedidos de mãos vazias e os famintos serão saciados”
(Lc 1,52-53).
Eloy Ferreira da Silva foi martirizado
aos 54 anos, deixando a esposa e 10 filhos, também ameaçados pelos mesmos grileiros.
O norte e noroeste de Minas Gerais são
territórios de ocupação muito antiga. Havia muitas áreas cheias de posseiros
morando em terras devolutas. Nas décadas de 1970 e 1980, as grandes empresas e
o latifundiário descobriram o norte e noroeste de Minas Gerais, regiões dos
maiores latifúndios e dos maiores conflitos de terra do estado de Minas Gerais.
A monocultura do eucalipto e a pecuária extensiva de gado cresceram muito sob o
poder de fazendeiros e empresários mandando jagunços e capangas pisar em cima
dos camponeses posseiros. Isso com a cumplicidade do Estado.
Na Fazenda Vereda Grande, no município
de São Francisco, moravam 36 famílias de posseiros muito antigos. O maior
latifundiário de Minas Gerais, Antônio Luciano, tentou se apoderar dessas terras,
desviando o Rio Urucuia. Os posseiros impediram a entrada dos tratores e
exigiram uma posição do Governo de Minas Gerais. O INCRA desapropriou a fazenda
do pretenso dono em 1983. Mesmo com a desapropriação, o grileiro Antônio
Luciano continuou a pressionar e ameaçar os posseiros.
Ao lado da posse da família de Eloy
Ferreira da Silva, começa a fazenda Menino, megalatifúndio de 90 mil hectares, invadida
por grileiros que ameaçavam a posse de 220 famílias camponesas posseiras. Junto
com os posseiros, os sem-terra da região exigiram do governo que desarmasse os jagunços
dos grileiros. Em vez disso, o delegado especial fiscalizava a organização dos
posseiros e trabalhadores sem-terra. Os posseiros Januário Emídio dos Santos e José Natal
Romão foram assassinados dia 14 de novembro de 1990, na Fazenda Menino, no
município de Arinos, próximo de onde Eloy Ferreira tinha sido assassinado seis
anos antes.
Exigir que na Fazenda Menino haja PAZ e
TRABALHO para os Sem Terra da região é uma porção do legado extraordinário de
luta pela terra que ELOY deixou para nós. Graças à luta de Eloy Ferreira da
Silva na Fazenda Menino estão assentadas centenas de famílias de camponeses que
estavam sem-terra.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG) divulgou
um pequeno livro sobre a luta de Eloy Ferreira da Silva. ELOY: MORRE UMA VOZ,
NASCE UM GRITO, livro lançado pela SEGRAC, de autoria de Luiz Chaves, Luiz
Araújo e Jô Amado. Só em 1985 foram assassinados 16 lavradores na luta pela
terra em Minas Gerais.
Dona Luzia, viúva de Eloy dizia; “Eloy
vinha sempre lutando do lado dos pobres. Até deixou o que era dele mesmo mais
afastado para se doar aos pobres. Ele ajudou, ajudou...”. E a batata quente da
luta camponesa está em nossa mão. É dever ético continuarmos a luta pela terra,
por reforma agrária, pela demarcação dos territórios dos Povos Indígenas de
todas as Comunidades Tradicionais. Eloy Ferreira da Silva, presente em nós na
luta por direitos, sempre!
É evidente o quanto é sofrida a luta
pelo direito à terra, dom de Deus, direito de todos os camponeses e
camponesas, e o quanto é necessário intensificar a regularização
fundiária e promover a Reforma Agrária, com desapropriação das terras ociosas,
sem função social.
No vídeo “Assassinato
de Eloy Ferreira da Silva - Tribunal Nacional dos Crimes do Latifúndio”
está o relato do crime bárbaro que ceifou a vida de Eloy Ferreira da Silva, no
link abaixo.
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em
Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel
em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto
Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI e Ocupações Urbanas; autor de
livros e artigos. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– Canal no You Tube: https://www.youtube.com/@freigilvander – No instagram:
@gilvanderluismoreira – Facebook: Gilvander Moreira III – No https://www.tiktok.com/@frei.gilvander.moreira
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