Em Cuba o Socialismo democrático segue brilhando. Por frei Gilvander Moreira[1]
Em Havana, capital de Cuba, na Fortaleza
de San Carlos de La Cabaña, de 15 a
25 de fevereiro de 2024, aconteceu a 32ª Feira Internacional do Livro de Havana,
a maior Feira de Livro do mundo, que é realizada há 32 anos, anualmente. A
Fortaleza de San Carlos de La Cabaña foi
construída no século XVIII como uma das fortalezas que defendiam a cidade de
Havana contra ataques inimigos e saques piratas. La Cabaña foi declarada Patrimônio Mundial pela
UNESCO[2],
juntamente com a cidade velha de Havana, em 1982, ano em que foi realizada a
primeira Feira Internacional do Livro de Havana.
O Brasil foi o país convidado de honra
desta 32ª Feira. Com organização da Embaixada do Brasil em Cuba e do Ministério
da Cultura, sob a liderança da ministra Margareth Menezes, na delegação
brasileira estavam mais de 65 escritores, artistas e intelectuais, entre os
quais Conceição Evaristo, Frei Betto, Emicida, Aylton Krenak. Tive a alegria de
ir com algumas pessoas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo que
realizaram o sonho de conhecer e conviver um pouco com muitas pessoas cubanas,
em Cuba. Eu tinha estado em Cuba em dezembro de 2006, ocasião em que pude
conviver com muitas pessoas cubanas em Havana e escrever o artigo CUBA: os
desafios de um grande povo “ilhado”.[3] Digo ilhado entre aspas, porque o bloqueio que o
império estadunidense continua impondo a Cuba há mais de 60 anos é brutal, pois
tudo que o Povo Cubano precisa importar demora chegar a Cuba e custa de quatro
a seis vezes mais caro. Se não fosse o bloqueio, Cuba seria hoje um dos países
mais desenvolvidos economicamente do mundo, pois tem um povo guerreiro e muito
preparado sob todos os aspectos.
Após os dez dias da Feira do Livro em
Havana, a Feira do Livro acontece ao longo do ano nas 15 Províncias (estados)
de Cuba, nas escolas, universidades, hospitais, penitenciárias. Em 2024, a 32ª
Feira teve a participação de 45 países e apresentação de mais de mil novos
títulos de livros. Cerca de três milhões de livros foram doados ou vendidos em
preços variados e muitos podem ser baixados gratuitamente em pdf[4]. Com o tema Ler é construir identidade, a
Feira Internacional do Livro de Havana promove a leitura como uma das
principais atividades para a formação da consciência individual e coletiva e do
pensamento crítico autêntico.
Foi encantador e
inesquecível ver a multidão de jovens que participou ativamente da 32ª Feira
Internacional do Livro de Havana. Ver e ouvir escritores, tais como Conceição
Evaristo, Emicida, nos leva a dialogar com o mais profundo do nosso ser e nos
inspira a sermos melhores como humanos, pois diante da brutal Emergência
Climática com eventos extremos cada vez mais frequentes e letais, embora haja tempo
para muita coisa, só não há tempo a perder para superarmos a barbárie que é o
capitalismo e construirmos uma sociedade socialista, democrática, com
sustentabilidade ambiental e respeito à imensa pluralidade cultural.
Pela literatura e por
todas as artes, encontramos e convivemos com nossos ancestrais e com pessoas de
outros tempos, tal como José Martí, nascido em Havana e considerado o Apóstolo
da Pátria em Cuba, esteve
nas celas de La Cabaña em sua juventude
como prisioneiro político por sua atividade revolucionária. Martí foi um dos
maiores poetas e escritores da cultura hispânica, precursor da Revolução Cubana.
Seu compromisso político permeou toda a sua obra. Em 1891, José Martí escreveu
que "as trincheiras de ideias valem mais
do que as trincheiras de pedra" e “o
conhecimento liberta”. A ignorância e a cegueira impostas pela
ideologia dominante escravizam e matam, muitas vezes usando e abusando do nome
de Deus e de textos sagrados. Por exemplo, o absurdo que é crentes e (neo)pentecostais
apoiarem o Estado de Israel genocida, por estar dizimando o Povo Palestino há
mais de 76 anos com requintes de crueldade, porque imaginam que judeu é cristão
e crê em Jesus Cristo. Ledo engano! Salvo raras exceções, os judeus não
acreditam em Jesus Cristo como Filho de Deus. A Bíblia dos judeus não tem o
Novo Testamento Cristão, pois não acreditam que Jesus Cristo seja o Messias,
enviado de Deus. Os judeus não têm um “Novo Testamento”, têm a Mishná, que são comentários
de rabinos que ajudam na interpretação dos textos do Antigo Testamento.
Além de participar da 32ª Feira do Livro
em Havana, tivemos tempo para conviver com pessoas cubanas encantadoras. Viajamos
umas 17 horas de ônibus em Cuba, de Havana para Cienfuegos, Trinidad,
Varadero..., ida e volta. Que maravilha ver com nossos próprios olhos que em
Cuba não existe, ou quase não existe, engarrafamento de trânsito, não há rios
poluídos, não há agrotóxicos na alimentação – a comida é produzida com adubação
orgânica na linha da agroecologia e tem sabor de comida de verdade -, não há
violência social, não há drogas, as praças são do povo e continuam sendo
lugares de encontros e de boas conversas, sem medo de assaltos. Os jovens estão
sempre carregando, com os seus livros, instrumentos musicais e/ou uniformes de
esportes, demonstrando que têm acesso amplo à educação e, se quiserem, à música
e ao esporte. Saúde, educação, cultura e esporte são prioridades nas políticas
públicas.
Em todas as quadras de todos os bairros
de Cuba existem funcionando os Comitês de Defesa da Revolução (CDRs)[5]
que vigiam para que os imperialistas não minem o processo revolucionário
socialista em curso, organizam mutirões de limpeza das áreas públicas e ações
de apoio e solidariedade com as pessoas que precisam. Em Cuba existe de fato um
Sistema Único de Saúde, o público. Lá não tem planos de saúde, pois não existem
hospitais privados. Não há universidades privadas. A saúde e a educação do povo
não são mercadorias, mas bens comuns que precisam ser cuidados com absoluta
prioridade. O povo é culto, tem consciência histórica e de cabeça erguida
afirma “Fidel somos todos nós, os 11
milhões de cubanos”. O comandante Fidel vive e viverá sempre no Povo Cubano
inspirando e guiando na defesa da revolução socialista.
Em Cuba não tem a poluição visual do
exagero de propaganda que há aqui no Brasil e nos outros países capitalistas. O
patrimônio histórico e arquitetônico é muito rico e diversificado, pois há nas
cidades cubanas muitos hospitais, cinemas, teatros, museus e obras de
restauração de belíssimas ruínas e edificações únicas, prédios atribuídos aos
estilos barrocos, neoclássicos, ecléticos, art déco e art Nouveau. Cuba possui importantes núcleos arquitetônicos e
históricos considerados “Patrimônio da Humanidade” pela UNESCO. Em Cuba, o povo
admira e respeita a bandeira cubana, os mártires da revolução cubana, Fidel,
Che Guevara, Camilo Cienfuegos e a todos os homens e mulheres que doaram as
suas vidas pela causa revolucionária. Todos os/as lutadores/as da história são reverenciados/as.
Pessoas contaminadas pela ideologia
capitalista trombeteada aos quatro ventos pela mídia empresarial, propriedade
de algumas famílias riquíssimas, caluniam e difamam o socialismo democrático
vivenciado em Cuba, porque sabem que se o povo latino-americano e africano
descobrirem as belezas, as verdades, a justiça e a ética do socialismo democrático
praticado em Cuba, o capitalismo, máquina brutal de moer vidas, desabará como
um gigante com pés de barro. Emicida iniciou sua fala em Havana, na 32ª Feira
do Livro dizendo: “Muitos nos perguntam “por
que ir a Cuba?”, mas a melhor pergunta é “por que não ir a Cuba?””
Voltei de Cuba com a certeza de que o
império estadunidense está caindo e Cuba continuará sendo uma estrela
cintilante apontando o caminho que a humanidade deve trilhar para impedirmos a
“queda do céu”, na linguagem do xamã Yanomami Davi Kapenawa, e um Apocalipse,
não querido pelo Deus da vida, mas que está sendo causado pela idolatria do
mercado que é tocado a todo vapor pelas grandes mineradoras, pelos agronegociantes
e capitalistas do capital especulativo que não enxergam nem um dedo diante dos
olhos, além do luxo e do poder que os deixam obcecados.
Enfim, o heroico povo cubano faz-nos
acreditar que os ideais libertários, a utopia de emancipação da humanidade da
opressão capitalista de exploração humana e da natureza, é possível de se
realizar e necessária. Mesmo brutalmente bloqueada e perseguida pelo
imperialismo estadunidense, Cuba nos inspira e alimenta esta certeza. “Até a vitória, sempre!”, como bradava
Fidel e Che Guevara. E o povo revolucionário respondia em um só brado: “Venceremos!”
27/02/2024
Obs.: As videorreportagens nos
links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima. Em breve publicaremos no
youtube, no canal “Frei Gilvander luta pela terra e por direitos”, muitos
outros vídeos filmados em Cuba em fev./2024.
1 -
Visita a Cuba: Havana e Capitólio por dentro. Fev./2024. Video 1 (Visita a
Cuba: La Habana y el Capitolio desde dentro)
2 - Cuba:
visita guiada ao belíssimo e suntuoso Capitólio, em Havana. Fev./2024. Video 2
(Cuba: visita guiada al hermoso y suntuoso Capitolio, en La Habana)
3 - Cuba: bloqueio,
resistência e direitos sociais. Osvaldo Manuel Bosch entrevistado por frei
Gilvander Luís Moreira, em Belo Horizonte, MG, Brasil. 20/09/2016.
4 - Tributo a Tilden Santiago:
sua trajetória religiosa e na política - PT, embaixador do Brasil em Cuba
[1] Frei e padre da
Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel
em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese
Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT,
CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e
Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. Autor de livros e artigos. E
“cineasta amador” (videotuber) com mais de 6.000 vídeos de luta por direitos no
youtube, canal “Frei Gilvander luta pela terra e por direitos”. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
[4] Veja www.filcuba.cu
[5] Visitamos um CDR na cidade de
Trinidad, que é Patrimônio Histórico da Humanidade, e também o Museu dos
Comitês de Defesa da Revolução, em Havana.
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