Vote pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Por Frei Gilvander Moreira[1]
Que beleza que o povo estadunidense na
última eleição derrotou Donald Trump, chefe da barbárie, adepto de Mussolini e
Hitler e elegeu os candidatos do partido opositor, Joe Biden e Kamala Devi Harris
como presidente e vice, respectivamente, dos Estados Unidos, sendo ela a
primeira mulher negra a assumir tal posição. O mundo inteiro acompanhou algum
tempo antes o assassinato do negro George Floyd, barbaramente morto por um
policial branco que, após algemá-lo, pisou com truculência em seu pescoço
durante quase 10 minutos e o asfixiou. Tudo isso em um dos países entre os
considerados mais “desenvolvidos”, os Estados Unidos da América. Floyd clamou
muitas vezes: "Eu não posso respirar".
O Deus da vida ouviu o clamor de Floyd e suscitou no mais profundo da história
um grande e intenso processo de luta exigindo Justiça, ancorado no lema “Vidas negras importam!” George Floyd
teve sua vida ceifada, mas a justiça divina animou a derrubada do chefe da
barbárie, Trump, que tripudiou em cima desse crime bárbaro e de tantos outros
que ele cometeu, tais como: construir muro na divisa com o México, separar
crianças das mães de imigrantes que tentavam entrar nos Estados Unidos em busca
de sobrevivência, tratar de modo anticientífico e criminoso a pandemia do novo
coronavírus, entre inúmeros outros. Trump e quem está com ele serão jogados na
lata de lixo da história. George Floyd se tornou um grande símbolo da injustiça
e da resistência do povo negro e dos demais povos massacrados em todo o mundo.
Seu martírio não foi em vão. George Floyd vive e viverá sempre em nós e em
nossa luta por tudo o que é justo.
Politicagem e política coronelista,
clientelista e assistencialista são estratégias para manter e aumentar todas as
formas de dominação. Já Política com P maiúsculo é um jeito crítico e criativo
de amar se colocando ao lado de quem é injustiçado e lutando para retirar as
armas das garras dos opressores. As pessoas que fazem Política com ética agem de
forma emancipatória, propondo e construindo políticas públicas com participação
popular, visando organizar uma sociedade justa no campo e na cidade, com
respeito socioambiental e admiração pela imensa diversidade cultural presentes
no Estado laico. Entretanto, política é osso duro de roer. Se não roermos esse
osso, somos roídos por ele. Quem diz “não gosto de política”, se considerando
neutro e apolítico, assume a pior postura política: a da omissão cúmplice das
atrocidades protagonizadas pela classe dominante com seus políticos
profissionais que não representam o povo, e sim o capital e os grandes
interesses do mercado idolatrado. Quem opta por ficar neutro, não votar, votar
em branco ou anular o voto, na prática, apoia os piores candidatos que são os
que têm mais dinheiro para fazer campanhas milionárias, utilizando muita
propaganda mentirosa e até mesmo comprando voto, mesmo sendo legalmente
proibido. Procure
conhecer a história do/a candidato/a. “Diga-me com quem andas...”. Quem o
financia? Fujam das candidaturas ricas, as que têm as maiores campanhas. Fujam
dos/as candidatos/as que pagam cabos eleitorais. Esses fazem política como
negócio. Investem na campanha para lucrar depois com as benesses que ganharão
do poder público.
Na última eleição presidencial, se os
mais de 42 milhões de eleitores (31%) que se abstiveram, ou votaram em branco ou
anularam o voto, tivessem votado, talvez não teria sido eleito como presidente
do Brasil o pior dos 13 candidatos, alguém que tem um torturador como ídolo, apoiador
de milícias, que só pensa em disseminar fake
news, ódio e incrementar o lucro da indústria de armas incentivando o
armamentismo na sociedade. Na última eleição presidencial nos Estados Unidos,
mesmo com voto facultativo, aumentou o número de votantes. Muita gente vendo Trump,
o chefe da barbárie, semear guerra, discriminação e violentar os direitos
humanos e ambientais, votou por sua derrubada, o que considero correto para
estancar a espiral de ódio e de intolerância que Trump estimulou durante quatro
anos. O resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos “adia o fim do
mundo”, conforme diz Ailton Krenak, e por algum tempo “impede a queda do céu”,
conforme diz o xamã ianomâmi Davi Kopenawa.
Em uma democracia burguesa, que é formal
e caricatural, se diz que os eleitos passam a ser representantes do povo. Na
realidade, 80% dos eleitos não representam o povo, mas, sim, grandes interesses
do capital, grandes empresas que fazem lobby para manter a maioria dos
políticos subservientes aos seus idolátricos interesses. Jesus Cristo e as primeiras
comunidades cristãs já denunciavam: “Os
reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados benfeitores”
(Lucas 22,25). Em uma sociedade capitalista com lógica e estrutura para
reproduzir a desigualdade social, trabalhador/a votar em empresário/a é o mesmo
que galinha votar em raposa para tomar conta do galinheiro. “Trabalhador/a deve
votar em trabalhador/a”, propõem a Pastoral Operária e as Comunidades Eclesiais
de Base (CEBs) há muitas décadas.
Em uma sociedade racista e escravocrata
como é o Brasil, negro/a não deve votar em branco/a da classe dominante, pois,
se assim fizer, estará votando em quem lhe superexplorará e reproduzirá as
políticas opressoras. Negro/a deve votar em negro/a que participa do Movimento
Negro e é militante da causa do povo negro: superar todo tipo de escravidão e
de racismo reinante na sociedade. Os presídios atualmente no Brasil são na
prática novos Navios Negreiros, antros de tortura e de pisoteamento na
dignidade da pessoa humana. Logo, quem vota em militaristas e quem defende endurecimento
de penas e repressão policial está condenando os próprios irmãos e irmãs que
serão presos e jogados para detrás das grades e violentados de muitas formas.
Em uma sociedade com 51% da população constituída
por mulheres, o que garantirá um grau efetivo de representação nos Executivos municipais
e nas câmaras de vereadores, será a eleição de pelo menos 51% de mulheres para
compor os poderes Executivo e Legislativo municipais. Em Belo Horizonte, por
exemplo, em uma Câmara Municipal com 41 vereadores, apenas quatro são mulheres.
Por isso, em Belo Horizonte precisam ser eleitas, no mínimo, 21 mulheres como
vereadoras. Basta de 90% dos parlamentares serem homens e na maioria das vezes
machistas e patriarcais. Pesquisas demonstram que países governados por
mulheres estão conseguindo salvar muito mais vidas durante a pandemia do novo
coronavírus.
Se na sociedade existe cerca de 14% das
pessoas com orientação sexual homoafetiva, 14% dos eleitos para prefeitos/as e
vereadores/as precisam ser de pessoas LGBTQIA+. Se no Brasil há quase um milhão
de indígenas resistindo bravamente diante do genocídio que lhes é imposto pelos
capitalistas, onde há indígenas candidatos/as devem receber os votos
necessários para se elegerem. Se na sociedade há mais de 10% das pessoas com
alguma deficiência física ou mental, 10% das vagas das câmaras municipais
precisam ser para este grupo social que humaniza as relações humanas e sociais.
E assim por diante para conquistarmos de fato representatividade entre os/as
eleitos/as.
Atenção! Não acredite em candidatos/as
que utilizam o discurso “Deus e a família acima de todos e de tudo”. Deus não
quer estar acima de tudo e de todos. O Deus da vida está em nós, no nosso meio,
caminha com o povo oprimido nas suas lutas libertárias. Quem fica acima quer
poder para dominar. Deus não quer isso. Deus é amor e por amor fica ao nosso
lado, jamais acima. Alardear também “família acima de tudo” é outra mentira
esfarrapada, pois atualmente existem mais de 40 tipos de família na sociedade
brasileira e precisam ser respeitadas na sua dignidade e na sua forma plural se
ser e existir. Não dá mais para impor aquele modelo de família tradicional
arcaica e que tinha o marido patriarcal e machista e anulava a dignidade da mulher
que, submissa e resignada, mantinha uma aparência de família modelo. A
pluralidade de valores precisa ser acolhida, admirada e respeitada na
sociedade. Acabou-se o tempo de imposição de um modelo que insistia em
uniformizar a sociedade. Os que usam e abusam do nome de Deus e levantam a
bandeira da defesa da família são na realidade os que mais desrespeitam a
vontade do Deus da vida e violentam as famílias, pois impedem a realização de
reforma agrária, porque não aceitam a partilha e democratização da terra. Impõem
políticas de repressão às injustiças sociais, porque querem reproduzir
especulação imobiliária e um sistema de moer vidas. Cortam direitos
trabalhistas, sociais e previdenciários, porque estão a serviço dos banqueiros
que furtam 24 horas por dia de mil formas o povo. Agindo assim, são falsos
religiosos e violentam as famílias que ficam sem terra, sem moradia, sem
direitos. Os cem pastores que foram eleitos deputados federais estão, salvo
exceções, junto com as bancadas da bala e do boi, na Câmara Federal aumentando
a latifundiarização e apoiando agronegócio que dissemina epidemia de câncer com
o uso abusivo de agrotóxicos e desertifica os territórios. Pessoa religiosa que
defende isso é falsa, hipócrita e, pior, opressora.
Enfim, não seja Analfabeto Político, nos
pede Bertolt Brecht, porque “o pior
analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões
políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância
política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os
bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos
exploradores do povo”.
E,
atenção! Dia 15 de novembro de 2020, vote observando as recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS) para não pegar e nem transmitir coronavírus;
e vote nos partidos de esquerda e em candidatos que têm história de compromisso
com a luta por justiça social. Senão você poderá sair da cabine de votação com
as mãos sujas de sangue, como milhões saíram na eleição de 2018. Vote pela
democracia, pela justiça, paz e pela vida! Oxalá sejam eleitos/as
os/as melhores candidatos/as – se não, os/as menos piores e que respeitem o que
pede Jesus Cristo: “Governe como aquele/a
que serve!” (Lucas 22,26) construindo e efetivando políticas públicas que
gerem uma sociedade com justiça, paz, solidariedade, amor ao próximo e respeito
ao meio ambiente e às próximas gerações, sem discriminações[2].
10/11/2020.
Obs.: Os vídeos nos links e o áudio,
abaixo, ilustram o assunto tratado acima.
1 - Live: A Inter-Religiosidade, as Eleições
Municipais e o "Fora, Bolsonaro"! - Por Justiça! 08/11/2020
2 - Greg News: Eleições Municipais. O que está em
jogo nas eleições de 2020? Poder do prefeito. 09/10/20
3 - 7a Live: A "Fratelli Tutti" do Papa
Francisco e o papel dos Cristãos na Política: Fora, Bolsonaro?
4 - Live 4: Fora, Bolsonaro e o (des)governo
federal! 100.000 mortos pela COVID-19 – Debate Ecumênico
5 - Dom Vicente Ferreira na Live "Fora,
Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso
6 - 3ª Live do Movimento Inter-Religioso do Vale do
Aço, MG: Fora, Bolsonaro? – Debate Inter-Religioso.
7 - Live - Fora Bolsonaro e o (des)governo federal?
- Debate inter-religioso
8 - Live Cristãos também gritam: “FORA
BOLSONARO!" - Frei Gilvander, Pastor Daniel, Renata, Sara/Paulo
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo
ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma,
Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de
“Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica
no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira III
[2]
Gratidão à Carmem Imaculada de
Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.
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