terça-feira, 24 de novembro de 2020

Há racismo estrutural, SIM! Por Frei Gilvander

 Há racismo estrutural, SIM!  Por Frei Gilvander Moreira[1]

 


Na noite de 19 de novembro de 2020, véspera do Dia da Consciência Negra, nosso irmão negro JOÃO ALBERTO SILVEIRA FREITAS foi barbaramente linchado e assassinado, em Porto Alegre, RS, em um supermercado da Rede Carrefour. Primeiro, nosso abraço solidário à família do João Alberto, ao pai João Batista Freitas, aos filhos, à companheira Milena Borges Alves, aos amigos e amigas. João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, outro George Floyd brasileiro, barbaramente assassinado por um segurança e um policial militar que trabalhava como segurança (na prática, jagunços, que de humanos só têm a aparência). João Alberto Silveira Freitas, mais um irmão NEGRO assassinado e martirizado no Brasil racista.

Repudiamos com veemência mais esse assassinato e também repudiamos o vice-presidente General Mourão e o fascista lá do Palácio do Planalto que deveriam ter vergonha de afirmar que “no Brasil não há racismo”. É assim que um Governo racista, fascista e genocida mata: de mil formas. O general Mourão e o que adora torturadores não dizem apenas uma mentira deslavada, mas agem criminosamente incitando a reprodução de outras barbáries. Se 50% da terra brasileira está sequestrada nas mãos de apenas 2% de latifundiários, empresários e chefes do agronegócio, é porque há racismo estrutural no Brasil. Se no Tribunal de (In)Justiça de São Paulo só tem desembargadores brancos como nos demais tribunais do país, com raras exceções, é porque vivenciamos, sim, o racismo estrutural. Se entre os 140 ou 150 novos médicos que se formam semestralmente na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) só há um ou dois negros, é porque há racismo estrutural. Se é reservado ao povo negro os trabalhos manuais com apenas salário-mínimo e milhões de irmãos e irmãs de cor preta são obrigados a sobreviver na informalidade, é porque há racismo estrutural. Se no Bairro Mangabeiras, zona nobre de Belo Horizonte, em um quilômetro quadrado vivem folgadamente e luxuosamente apenas 1.000 pessoas, enquanto no Aglomerado da Serra, geograficamente ao lado, sobrevivem quase 50 mil pessoas em apenas 1 quilômetro quadrado, é porque há racismo estrutural. Se há poucos os negros e negras eleitas para ocupar posições nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, é porque há racismo estrutural. Se apenas um em cada 10 alunos de escolas privadas da cidade de São Paulo é negro, é porque há racismo estrutural. Se nos bairros luxuosos moram só brancos, salvo exceções, e nas favelas está o povo preto, é porque há racismo estrutural. Se entre os 800 mil presos jogados nos presídios brasileiros, que na verdade são novos navios negreiros, mais de 95% dos internos são pretos, é porque há racismo estrutural. Se ... Se continuarmos citando os exemplos de racismo estrutural, a lista será interminável.

Na barbárie de uma sociedade capitalista, uma máquina de moer vidas, muitas vezes temos que dizer o óbvio para desmascarar as mentiras (fake News) criminosas ditas e repetidas por integrantes da classe dominante para pavimentar a reprodução da superexploração que campeia no nosso querido país. Que fazer para superarmos o capitalismo, a desigualdade social e o racismo estrutural? A superação deste status quo que violenta e mata de mil formas passa pela classe camponesa realizar, “na lei ou na marra” uma revolução agrária, que é a partilha, a democratização, a socialização da terra. Enquanto continuar o Cativeiro da Terra (Leia o livro de José de Souza Martins), com a estrutura latifundiária se reproduzindo e ampliando, teremos as condições materiais objetivas que sustentam o racismo estrutural. Os Povos e Comunidades Tradicionais precisam retomar todos os territórios que lhes pertencem ancestralmente. Os Povos Originários, Povos Indígenas devem resgatar todos seus territórios que foram invadidos por brancos capitalistas. Uma das tarefas do povo da cidade é boicotar a Rede Carrefour em todo o Brasil. Não entre em nenhum Carrefour! Não compre e não consuma nada desta transnacional racista e criminosa. Paremos de comprar nas lojas e empresas que sustentam e reproduzem o racismo estrutural existente na sociedade capitalista do Brasil, país com umas maiores desigualdades sociais e raciais do mundo.

Faz bem inspirar-nos em alguns relatos bíblicos. Os evangelhos da Bíblia (Mt 21,12-13; Mc 11,15-19; Lc 19,45-46 e Jo 2,13-17) relatam que Jesus Cristo, jovem galileu rebelde, próximo à maior festa judaico-cristã, a Páscoa, impulsionado por uma ira santa, furioso, ocupou o Templo de Jerusalém - lugar considerado o mais sagrado -, fez um chicote de cordas, “chutou o pau da barraca” e expulsou todos os vendilhões do Templo, bem como as ovelhas e bois, destinados aos sacrifícios. Derramou pelo chão as moedas dos cambistas e virou suas mesas. Aos que vendiam pombas (eram os que diretamente negociavam com os mais pobres porque os pobres só conseguiam comprar pombos e não bois), ordenou: “Tirem estas coisas daqui e não façam da casa do meu Pai uma casa de negócio”. O Planeta Terra é “templo sagrado” que está sendo invadido e saqueado pela idolatria do mercado e do capital. Fazer boicote às grandes empresas racistas, que violentam a dignidade da pessoa humana e a dignidade de toda a biodiversidade se tornou uma necessidade para a sobrevivência da humanidade sobre nossa única casa comum.

Segundo a Bíblia, as mulheres parteiras do Egito, em Êxodo 1,8-22, diante de um “Decreto Lei/Medida Provisória” que, para controlar a natalidade, mandava matar as crianças do sexo masculino, se organizaram e fizeram greve e desobediência civil. “Não vamos respeitar uma lei autoritária do império dos faraós. O Deus da vida quer respeito à pessoa e não concorda com a matança de crianças e com nenhuma opressão e violência”, diziam, em seus corações, as Mulheres do “Movimento de saúde pública” do Egito. Diz a Bíblia: “Deus estava com as parteiras”. O povo se tornou numeroso e muito poderoso (Êxodo 1,20), isto é, crescia em quantidade e em qualidade.

Os pobres organizados que seguiram Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr., mártires dos violentados, fizeram desobediência civil: desafio às leis injustas sem agredir pessoas. Como gestos extremos, acordaram consciências anestesiadas, cúmplices de sistemas opressivos. A não-violência de Gandhi e Luther King não diz respeito às coisas, mas, sim, às pessoas humanas. O boicote do sal e do tecido inglês, na Índia, o dos ônibus segregacionistas, nos Estados Unidos, e tantos outros movimentos de desobediência civil em todo o mundo causaram grandes prejuízos materiais aos capitalistas, mas trouxeram para a humanidade exemplos de enfrentamento a um sistema de relações sociais preconceituosas e racistas assentadas em um passado escravocrata.

Oxalá o povo brasileiro se revolte como aconteceu nos Estados Unidos com o assassinato de George Floyd que animou e inspirou um massivo movimento antirracista que foi decisivo para derrubada do fascista Trump nas urnas. Basta de racismo! Malditos sejam todos os racistas! Que João Alberto Silveira Freitas, martirizado, continue animando e inspirando o movimento antirracista! Oxalá a morte deste nosso irmão não caia no esquecimento e que este movimento continue crescendo e nos ajude a derrubar do poder todos os fascistas, genocidas e racistas![2]

 

24/11/2020

Obs.: Os vídeos nos links e o áudio, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Morte de João Alberto provoca onda de protestos contra o racismo pelo Brasil


2 - No Recife, manifestantes pedem fechamento do Carrefour


3 - Luta contra Racismo/Violência contra as Mulheres/Opressão do Capital. "Uni-vos!" (Frei Gilvander)


4 - Três Comissões da OAB/MG em defesa do Quilombo dos Luízes, Belo Horizonte/MG. Racismo, não! 04/8/17


5 - Comunidade Quilombola dos Luízes, em Belo Horizonte, vítima de invasão/violência/racismo. 01/8/2017


6 - CPT-MG 40 anos - Madalena: "Nossa luta é contra o latifúndio, arma mortífera" - Vídeo 5 - 07/3/2018


7 - Ameaçado por lutar contra o latifúndio, DIM CABRAL, da Cooerco.SD, Uberlândia/MG. Justiça! 24/5/18


8 - Violência do latifúndio cresce no norte de MG/Audiência Pública/ALMG/Toninho do MST. 25/4/2018



 

 

 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

A verdade está com os/as atingidos/as pela Vale e Estado. Por Frei Gilvander

A verdade está com os/as atingidos/as pela Vale e Estado. Por Frei Gilvander Moreira[1]

Foto: Divulgação - www.redebrasilatual.com.br 
 

Após acompanharmos a Live com quase quatro horas de duração, transmitida via Youtube no canal Extensão PUC Minas, no dia 10/11/2020, e uma Audiência Pública da Comissão dos Direitos Humanos da ALMG, com mais de seis horas de duração, sobre proposta de Acordo, ainda sob sigilo de confidencialidade, que o Governo de Minas Gerais, Ministério Público de Minas (MP/MG), Defensoria Pública de Minas (DPE/MG) e TJMG[2] estão negociando com a mineradora Vale, estarrecidos e indignados, percebemos que a verdade está com os/as atingidos/as pelo crime-tragédia da mineradora Vale e do Estado de MG que sepultou vivos 272 pessoas e sacrificou o rio Paraopeba, responsável por 5,7% da bacia do Rio São Francisco. O pior é que este é um crime que continua se reproduzindo todo dia e disseminando violência e morte de mil formas. Ouvir os clamores dos/as atingidos/as se tornou mais do que nunca necessário: é um imperativo ético. Por isso, ecoaremos aqui vários argumentos, perguntas, reivindicações e clamores expressos durante a Live e a Audiência Pública.

Sem ouvir os/as atingidos/as e sem reconhecê-los como sujeitos com direitos e com voz decisiva, esse Acordo que está sendo combinado entre a mineradora Vale, Governo de Minas e “Instituições de Justiça” (MP/MG, DPE/MG e TJMG) é, segundo os/as atingidos/as, “acordão, negociata, é leiloar os direitos dos/as atingidos/as, é sentença de morte”. Acordos secretos, velados e obscuros afrontam a democracia e implicam em tolerar a cumplicidade do judiciário moroso para julgar a ré Vale S.A reincidente. Eis alguns trechos dos pronunciamentos dos/as atingidos: “Fora, ACORDÃO que, se aprovado, passará um trator por cima dos direitos dos/as atingidos/as!” “Com este acordo vocês estão assinando nossa sentença de morte. O Estado foi mais do que omisso, foi cúmplice e, por isso, tem as mãos sujas de sangue, pois deu o licenciamento para a Vale S.A e não fiscalizou. A vale é criminosa, tem que ser julgada e condenada. O Estado também precisa ser julgado e condenado, pois é criminoso também. A Vale é assassina em série. Acordo sem os atingidos é terrorismo, é carta branca para a Vale nos humilhar. Chega de atrocidades!

"Não podemos deixar a Vale criminosa à vontade para escolher que tipo de “punição” ela receberá”. "Nós temos que ser ouvidos. Nós exigimos o atendimento às nossas reivindicações. Se os senhores doutores não nos ouvem, vocês estão desrespeitando a Carta Magna. Os homens dos poderes públicos não deveriam se apequenar diante do poderio do capital”. “Quem nos representa nas “Instituições de Justiça” parece que tem nojo de nós e tem medo do que vamos falar. Por isso, não querem nossa participação. “Cadê um juiz no TJMG que faça a Vale calar e pagar tudo o que nos deve?" "Senhor Juiz, tem, sim, problema o sigilo. Não tem cabimento esse acordão!"

Os argumentos apresentados pelo juiz mediador não justificam o sigilo do acordo. Os/as atingidos/as não podem ser tutelados/as pela DPE/MG e nem pelo MP/MG e têm o direito de participar como protagonistas nessa luta. "É uma atrocidade atrás da outra.” Esse arremedo de acordão é um novo crime que estão perpetrando. O justo é o judiciário julgar rápido todos os crimes cometidos pela Vale. O mínimo que o TJMG precisa fazer é julgar “pra ontem”, todos os crimes cometidos por essa empresa”.

Alguém da Assessoria Técnica Independente alerta: “É fundamental que toda a documentação e os trabalhos científicos sejam todos disponibilizados em um sítio na internet para consulta pública. Esta base de dados é fundamental para que haja participação informada dos atingidos”. Até o momento nada foi feito para evitar que as pessoas ao longo da Bacia do Paraopeba continuem sendo contaminadas por metais pesados tóxicos que estão matando peixes, cavalos, vacas, cachorros, gatos, capivara, enfim, os animais que bebem água no rio sacrificado pelo crime-tragédia da Vale com a cumplicidade do Estado.

A Vale não é parceira, é criminosa, assassina, e "sonega" imposto pela Lei Kandir. Assim sendo, não há legitimidade nesse eventual acordo. Não é justo usar os/as atingidos/as para se barganhar verbas para o Governo de Minas que deveria defendê-los/as. É mentira o Estado de MG dizer que “ou faz acordo com a Vale ou terá demanda judicial infindável”, porque se o Estado suspendesse as licenças da Vale, ela seria forçada a pagar imediatamente tudo o que deve aos atingidos/as. Discutir nas cúpulas do poder, sob sigilo, um eventual acordo e só na antessala de sua conclusão perguntar para os/as atingidos/as qual deve ser "a cor da parede do prédio" não é ético e nem justo. Isso violenta os direitos dos/as atingidos/as. Tudo o que está sendo questionado e proposto pelo procurador Helder Magno, do Ministério Público Federal (MPF), precisa ser levado em conta. A palavra principal e final deve ser dos/as atingidos/as.

Acusamos que não está sendo cumprida a maior parte do “Acordo Governamental” firmado pela Vale com o Governo de MG e “Instituições de Justiça” no caso do crime-tragédia ocorrido em Mariana, MG. Quem garante que a Vale S.A cumprirá um novo acordo? FORA, ACORDÃO SEM O PROTAGONISMO DOS/AS ATINGIDOS/AS! É imoral e injusto ignorar a participação prévia, esclarecida e protagônica dos/as atingidos/as, qualificada pelas Assessorias Técnicas Independentes. Acordo de cúpula e sob confidencialidade, que é sigilo parcial, tem tudo para ser cavalo de Tróia para os/as atingidos/as.

Um dos maiores impactos do crime da Vale é a contaminação por metais pesados. Os metais contaminam os ecossistemas e as pessoas com severos efeitos para a saúde. Requer-se um amplo projeto de pesquisa e monitoramento de longo prazo tanto nos ecossistemas como nas populações. Como poderá uma pessoa dizer que foi ou está sendo contaminada se não há linha base inicial? É muito estranho que representantes do Governo de MG, do MP/MG e da DPE/MG usem argumentos semelhantes tentando justificar o acordo. Por que o crime ambiental da Vale S.A não foi levado para dentro da legislação ambiental? Por que não considerar tal como previsto na lei máxima do país que o meio ambiente seja visto de modo integral incluindo a dimensão social e econômica? Por que não usar todos os instrumentos necessários para apurar os danos e propor mitigação e reparação integral?

Durante a Live e a Audiência Pública, a postura do Ministério Público de MG e da Defensoria Pública de MG, semelhante em parte à posição do Governo de MG, causou-nos indignação e preocupação. Lamentável a posição da DPE/MG e do MP/MG pró-acordo, esquecendo que os/as atingidos/as devem ser protagonistas nesse processo. Como confiar em “Instituições de Justiça” que são lentíssimas para condenar os grandes criminosos do capital e velocíssimas a mandar prender pobre? Como confiar na Defensoria Pública que fez acordão por cima com a Vale, priorizando ações individuais e com efeito colateral grave: inibir ações coletivas que são mais potentes? A missão da DPE/MG precisa ser defender os empobrecidos e violentados, mas atuando com e não para eles e elas. Por que e para que a proximidade de postura entre MP de MG e o Governo de MG, atrelado ao grande capital em MG? Por que MP/MG e Defensoria Pública não exigem que o Judiciário julgue e condene a Vale a pagar, prender os assassinos e confiscar o patrimônio que garanta os recursos necessários para quitar o que a Vale deve aos atingidos/as e a toda a sociedade mineira? Se não for condenada pelo judiciário, a Vale continuará explorando, enrolando e sacrificando os territórios, povos e toda a biodiversidade.

Se tivesse havido justiça no caso do crime-tragédia das mineradoras em Mariana, não teria acontecido o crime-tragédia em Brumadinho, possivelmente. Um efeito colateral desse eventual acordão será inibir lutas populares para pressionar o Judiciário a fazer JUSTIÇA. Com esse eventual acordão a Vale pagará obras que são responsabilidade do Governo de MG às custas dos/as atingidos/as. Esse acordão proposto é na prática uma Parceria Pública Privada (PPP) do Governo de MG com Vale - privatização das responsabilidades do Estado de MG -, usando a dor e os direitos dos/as atingidos/as. Repassar dinheiro da Vale para o Governo de MG é PPP na prática. Trocar a Fundação Renova pelo Governo de MG em um novo acordo é trocar seis por meia dúzia. Caso os atingidos venham a concordar com algum tipo de acordo, "tem que tirar da mão da Vale o controle do dinheiro", sim, mas tem que pôr nas mãos dos/as atingidos/as e jamais pôr no caixa do Governo de MG. “As obras do rodoanel são de responsabilidade do Estado de MG. A indenização da Vale deve ser investida em prol de melhorias no meio ambiente impactado em toda a Bacia do Rio Paraopeba”, alertam os/as atingidos/as. Todas as ações listadas no eventual acordão são responsabilidade do Governo de MG. Por que e para que usar a dor e os direitos dos/as atingidos/as para isso? Na prática é uma PPP do Governo de MG com a Vale S.A usando os/as atingidos/as como balcão de troca. Injustiça que clama aos céus! A proposta do acordo é recriar uma “Renova” com roupagem pública da mesma forma que aplicada pela Renova sem a participação dos atingidos e violando direitos fundamentais! A Vale só assinará um acordão que seja benéfico para ela e lesivo para as milhares de famílias atingidas. Essa é a lógica injusta desse acordo. Se o Governo de MG estivesse ao lado dos/os atingidos/os, não estaria concedendo todas as licenças de projetos de mineração devastadores que estão todos sendo aprovados. Como fazer acordo com Vale criminosa reincidente que já matou mais de 300 pessoas e dois rios, colocando vítimas para acordar com mineradora assassina? Isso é inadmissível.

A Vale S.A paga o auxílio emergencial para uns e não para outros da mesma residência, sendo que os documentos foram enviados junto”, denuncia atingidos/as. “O que eu e minha família rebemos hoje de auxílio emergencial não é nem um quarto da renda que tínhamos antes do rompimento da barragem”, denunciam outros. Se a Vale recorrer judicialmente, por que não podemos recorrer e pressionar as instâncias superiores do Judiciário para concluir logo a condenação? Se Ministério Público, Defensoria Pública e o poder Judiciário não condenarem logo a VALE criminosa, estarão sendo cúmplices de impunidade. É um absurdo os bloqueios do Auxílio Emergencial que a empresa vem fazendo hoje, quase dois anos após o crime, com a desculpa esfarrapada de inconsistência de documentos. O Auxílio Emergencial deve ser pago até que a Vale S.A conclua todas as indenizações e faça a reparação integral dos danos impostos aos atingidos/as. E mais,  o valor deste auxílio emergencial deveria ser estabelecido pelas pessoas afetadas. Cortar o Auxílio emergencial é reproduzir e ampliar a violência do crime.

Por que as pessoas atingidas, que são sujeitas e protagonistas, devidamente representadas por suas Comissões, não estão participando com direito à voz e direito de deliberação na construção deste acordo? Porque ele está sendo feito com sigilo de justiça?” Um Programa Social Emergencial será usado como moeda de troca para tornar o acordão “palatável”? “Sou moradora do bairro Citrolândia, em Betim. Está faltando água todo dia. As crianças estão adoecendo com a péssima qualidade do pouco de água que chega para nós. Exigimos direito de participação popular e direito à informação! NADA POR NÓS SEM NÓS!! “A nossa vida e a percepção do que atende nossos direitos agora pertencem ao sistema judiciário e de Estado? Não aceitamos ser tutelados, pois não somos incapazes.” Os/as atingidos/as têm direito de ter advogados/as que os representem no processo.

Os direitos dos povos tradicionais estão sendo violados. Por isso também, é inconstitucional esse pretenso acordo. Quilombolas clamam: “Queremos que nossas raízes quilombolas sejam respeitadas, nossa cultura e toda nossa ancestralidade. Queremos participar das decisões! Não basta de ver os direitos dos nossos irmãos indígenas e quilombolas ser desrespeitados pelo governo federal? Não somos descendentes de escravos! Somos um povo nobre e a nossa descendência é de reis e rainhas da mãe África e que foram trazidos para cá e escravizados”.

Eu quero perguntar ao Governo de MG e às “Instituições de Justiça”: Vocês estavam lá no Córrego do Feijão ou ao longo do Rio Paraopeba dia 25 de janeiro de 2019? Vocês passaram por tudo o que nós atingidos passamos? Quanto a Vale e o Estado devem nos indenizar por terem matado nossos irmãos e irmãos, o nosso rio, o nosso lugar e os nossos sonhos? Vale assassina reincidente tem que ser excluída de eventual acordo. Ela precisa ser julgada e condenada. Acordo sem o protagonismo dos/as atingidos/as é acordão lesivo aos direitos dos/as atingidos. O Governo de MG está junto com agronegócio, FIEMG[3] e mineradoras. Logo não pode ser o gestor de um eventual acordo.

Os atingidos/as já vivenciam cotidianamente as violações de direitos desde o rompimento da barragem e agora sofrerão ainda mais pela ação do Estado ao propor a construção deste acordo desconsiderando a participação dos/as principais interessados e seu direito à informação.

Feliz quem ouve e leva a sério os clamores dos/as atingidos/as! Maldito/a quem ignora os clamores de quem sofre cotidianamente os rastros de morte que o crime-tragédia continuado da Vale e do Estado segue disseminado. Maldito quem não defende com intrepidez os sagrados direitos dos/as atingidos/as! Ai de quem não respeita os/as mártires do crime-tragédia e viola os seus direitos. Basta de atrocidades! Exigimos justiça![4]

Em tempo: Dia 13/11/2020, a CNBB[5] por meio da Comissão de Ecologia Integral e Mineração protocolou um Documento no TJMG com oito páginas de questionamentos ao juiz da 2ª Vara sobre esse Acordo em curso.

Obs. 1: Nos vídeos nos links, abaixo, atingidos/as pelo crime-tragédia da Vale e do Estado em toda a Bacia do Rio Paraopeba falam a pura verdade com cabeça erguida. Vejam e ouçam com atenção o que dizem e exigem os/as atingidos/as!

1 - Silas Fialho e Natália, atingidos pelo crime da Vale/Estado de MG: clamores por Justiça! –10/11/20

2 - Fernanda Perdigão, atingida pelo crime da Vale/Estado: Palavras de fogo - Acordão, NÃO! - 10/11/2020

3 - Acordo? -Tomás Nedson e Joelísia Feitosa, dos/as atingidos/as do crime da Vale e do Estado. 10/11/20

4 - Capitã Pedrina, atingida pelo crime da Vale/Estado: “Não se apequene diante do capital”. 10/11/2020

5 - "Basta de tanta crueldade!" José Raimundo, Ângela e Fernanda, dos/as atingidos/as do crime da VALE

6 - Acordo sem poder decisivo com atingidos/as é negociata: Patrícia, Renato e Silvéria/Área 3. 10/11/20

7 - Carlos Henrique: atingidos Área 5 pela VALE/Estado exigem JUSTIÇA aos atingidos/as. Julguem a Vale!

8 - Eliana Marques, atingida Áreas 4 e 5 pelo crime da Vale/Estado, mete o pé no barranco: ACORDÃO, NÃO!

9 - Renato Moreira, atingido pelo crime da Vale/Estado, questiona indignado o ACORDÃO com a Vale11/11/20

10 - Pedrina e Patrícia Regina, atingida Área 2: “Por que temos que suportar tanta injustiça?” ACORDÃO?

11 - Capitã Pedrina, atingida: “Respeitem nossos ancestrais. O Rio e as matas são sagrados. Acordão?”.

12 - Fernanda Perdigão: “Acordão do Governo de MG/MP/MG e Vale é leilão dos direitos dos/as atingidos/as"

13 - Michelle Regina, atingida de Betim: "Até quando vamos sofrer esperando JUSTIÇA? Acordão, NÃO!"

14- Fernanda, Olízia e Joseane, atingidas pelo crime da VALE/Estado: "Respeito! Julguem logo a Vale"

15 - Silas de Paula, atingido do Parque da Cachoeira, indignado diante do ACORDÃO da Vale e Governo de MG

16 - Natália, atingida da Área 1 (Brumadinho) questiona Acordão de Vale com Governo de MG/MP/DPE/MG/TJMG

17 - Arthur e Adriana, da Área 5, atingidos/as pelo crime da VALE/Estado, clamam por Justiça - 10/11/2020

18 - Lionete, da Área 4, atingida pela VALE/Estado: “Mataram nossos sonhos tb. Acordão, NÃO!" - 10/11/20

19 - Tatiane e Eunice, atingidas pela VALE, Área 4: “Cadê nossos direitos? Basta de nos matar!” -10/11/20

20 - Grito de dor por Direitos -Áreas 4 e 5 da Bacia do Paraopeba: Eliana Marques, atingida - 10/11/2020



 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

[3] Federação das Indústrias de Minas Gerais.

[4] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

 

[5] Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Acordo para leiloar direitos dos/as atingidos/as pelo crime da Vale e do Estado? Injustiça que clama aos céus!

 Acordo para leiloar direitos dos/as atingidos/as pelo crime da Vale e do Estado? Injustiça que clama aos céus!

 


Nota de repúdio ao Acordão que Governo de MG, MP/MG, DPE/MG e TJMG estão negociando com a mineradora Vale.

 

Após acompanharmos atentamente a Live de quase quatro horas via Youtube no canal Extensão PUC Minas, dia 10/11/2020, e a Audiência Pública da Comissão dos Direitos Humanos da ALMG, presidida pela Dep. Beatriz Cerqueira, dia 11/11/2020, mais de seis horas de duração, sobre proposta de Acordo que o Governo de Minas Gerais, Ministério Público de Minas (MP/MG), Defensoria Pública de Minas (DPE/MG) e TJMG estão negociando para celebrar com a mineradora Vale, temos o direito e o dever de repudiar com veemência o pretenso Acordo com a mineradora Vale, assassina reincidente e ré em vários processos judiciais.

Foi anunciado que o eventual Acordo seria entre o Governo de Minas Gerais e a Vale, mas isso não é a verdade inteira, pois ficou claro que o Ministério Público de Minas (MP/MG), a Defensoria Pública de Minas (DPE/MG) e o TJMG, pelas falas de representantes destes, estão sendo copromotores desta proposta de Acordo que na realidade é acordão, negociata e atropelamento dos direitos dos/as atingidos/as pelo crime tragédia da mineradora Vale e do Estado que aconteceu dia 25 de janeiro de 2019, às 12h28 e continua se reproduzindo e ampliando as violências e mortes. Aplaudimos a postura firme, corajosa, plena de verdade e arrojada com que os/as atingidos/as se pronunciaram em nome das cinco regiões atingidas ao longo da Bacia do Rio Paraopeba. De cabeça erguida, repudiaram a proposta de Acordo que está sendo tramada sem a participação cidadã deles e delas. Assinamos embaixo dos questionamentos legítimos, justos e necessários que os/as atingidos/as fizeram ao longo das mais de dez horas de Live e Audiência Pública. Não é ético o Ministério Público de Minas Gerais e a Defensoria Pública de MG sentarem com o Governo de MG e com a mineradora Vale SEM ANTES OUVIR ATENTAMENTE E SEM LEVAR A SÉRIO AS REIVINDICAÇÕES DE TODAS AS PESSOAS, FAMÍLIAS E COMUNIDADES ATINGIDAS. Grande parte dos argumentos elencados pelo representante do Governo de MG, pelo MP/MG, pela DPE/MG e por um juiz do TJMG – parte dos argumentos semelhantes - não justificam buscar um acordão à revelia das pessoas atingidas, que são quem devem ser sujeitos e protagonistas em um eventual acordo. É muito estranho ver e ouvir MP/MG e DPE/MG com argumentos e posturas, em parte, semelhantes às do Governo de MG, pois promotores de justiça, por missão constitucional, precisam ser promotores de Justiça e jamais de injustiça; e defensores públicos também devem ser defensores de Justiça ao lado de quem está em situação de violação de seus direitos fundamentais, no caso os/as atingidos/as pelo crime tragédia da Vale e do Estado. Concordamos com os questionamentos e propostas que o Ministério Público Federal fez ao eventual Acordo, inclusive alertando que não pode haver retrocesso nos direitos já conquistados por meio do Acordo de Governança celebrado no caso do crime tragédia da Samarco/Vale/BHP Billiton e do Estado em Mariana.

Consideramos gravíssimo e injusto, em meio à pandemia e à campanha eleitoral, sem ouvir previamente e sem garantir a participação qualificada dos/as atingidos/as, violando os sagrados direitos que essas pessoas têm de ser protagonistas na luta pelos seus direitos, à revelia das vítimas, o MP/MG, a DPE/MG, o TJMG e o Governo de MG tratar de forma acelerada e tentar empurrar goela abaixo um Acordo que na prática será um acordão, uma negociata e uma grave violação aos direitos dos/as atingidos/as pelo crime tragédia da Vale e do Estado. Na prática o eventual Acordo, se celebrado, será uma Parceria Público Privada (PPP) do Governo de MG com a Vale, com anuência do MP/MG, DPE/MG e TJMG que viabilizará a realização de obras pelo Governo de MG, que são de responsabilidade exclusiva do Governo, tais como: rodoanel, ampliação do metrô em Belo Horizonte, cuidar da rede estadual de educação etc. Não é justo propor  a troca da Fundação Renova pelo Governo de MG em um eventual Acordo alegando que a Fundação Renova é braço das mineradoras e que Governo de MG garantirá isenção, lisura e justa administração dos recurso na implementação dos projetos. O Governo de MG tem sido cúmplice da Vale e das outras mineradoras. Exemplo disso é que na Câmara de Atividades Minerária (CMI) do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), todos os projetos de mineração devastadora estão sendo aprovados a toque de caixa por representantes do Governo de Minas Gerais e representantes dos interesses das mineradoras. O justo e ético, caso os/as atingidos/as, após estudo e discussão aprofundada, resolvam aceitar algum tipo de Acordo é que a Organização dos/as Atingidos/as juntos com os Movimentos Sociais e as Assistências Técnicas dos mesmos sejam os responsáveis pela execução dos projetos e gestão dos recursos, claro com fiscalização do Ministério Público.

Com sensatez a Dep. Estadual Beatriz Cerqueira questionou durante a Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais: “Como pode um acordo sem a participação da Assembleia Legislativa propor que se contrate uma empresa para auditar e fiscalizar o uso do dinheiro, sendo que é a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Contas que têm essa responsabilidade legalmente? Como ampliar o orçamento do Governo de MG à revelia da ALMG, que é quem decide sobre o Orçamento do Governo? Essa proposta de Acordo parece querer criar estruturas paralelas sob o argumento repetido várias vezes aqui, que o Judiciário e as Instituições do Estado não funcionam e, por isso, devem se fazer Acordos por fora. Muito estranho e injusto isso”.

Os/as atingidos/as gritaram forte exigindo que o Poder Judiciário julgue sem mais delongas os processos judiciais que têm a Vale no banco dos réus. E que todas as justas e legítimas reinvindicações dos/as atingidos/as sejam atendidas pela Vale criminosa e pelo Estado que muitas vezes é cúmplice das ações criminosas da Vale. Estarrecedor também foi a informação que dia 17 de novembro próximo já está agendada reunião que pode fechar o Acordo. Fazemos coro ao clamor dos/as atingidos/as para que sejam suspensas as tratativas desse eventual Acordo e que se ouçam e levem a sério as justas, legítimas e necessárias reivindicações dos/as atingidos/as.

Reforçamos o PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO dos/as Atingidos/as, em relação a DECISÃO DE CUMPRIMENTO DE PRAZO PARA ELABORAÇÃO DE NOVOS CRITÉRIOS PARA CONTINUIDADE DO AUXILIO EMERGENCIAL, solicitando: 1) A suspensão do prazo para ação das Assessorias Técnicas Independentes nos territórios, para a formulação dos novos quesitos, acrescentando-se mais 5 (cinco) meses após ser decretado o fim da pandemia; 2) O prosseguimento do Direito de recebimento do auxílio emergencial pelos Atingidos que já o vinham recebendo, e que a empresa Ré cumpra com a obrigação de manter os pagamentos até o fim da pandemia ou estabelecimento dos novos critérios se assim entender; 3) Requer ainda que a empresa Ré seja intimada para a reabertura do cadastro de novas solicitações e saneamento de pagamentos bloqueados, nos canais de atendimento da empresa Vale S/A, para que todas as pessoas que se sintam Atingidas tenham o seu Direito ao auxílio emergencial respeitado e analisado.

Feliz quem ouve e leva a sério os clamores dos/as atingidos/as! Maldito/a quem ignora os clamores de quem sofre cotidianamente os rastros de morte que o crime tragédia continuado da Vale e do Estado segue disseminado. Basta de atrocidades! Justiça profunda exigimos!



EM TEMPO! Hoje, dia 13 de novembro de 2020, a Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, o Grupo de Trabalho Igreja e Mineração da região Leste II da CNBB e a Rede Igrejas de Mineração de Minas Gerais, que abrangem várias pastorais sociais, PROTOCOLARAM na 2ª vara da fazenda pública estadual da comarca de Belo Horizonte, MG, um DOCUMENTO COM VÁRIAS PREOCUPAÇÕES SOBRE O ANUNCIADO ACORDO entre Vale, Governo de Minas e “Instituições de Justiça (MP/MG, DPE/MG etc), no caso do crime da Vale e do Estado a partir de Brumadinho dia 25/01/2019 às 12h28. O Documento protocolado apresenta uma série de questionamentos, como a não participação da população atingida, a “gestão paralela” do estado na administração dos recursos, a exclusividade do Ministério Público nas indicações das auditorias e outras questões, que como apontado pelo documento, desrespeitam a legislação brasileira e violam os direitos das populações atingidas. A manifestação da CNBB é um apelo para que os órgãos do Estado tenham transparência em qualquer tipo de negociação e que garantam a Justiça junto às comunidades atingidas e ao meio ambiente.

O acordo entre a Vale e Governo de Minas, que também tem a participação do MP/MG, DPE e DPU, ocorre a porta fechadas sem a participação da população atingida. No dia 17 de novembro  está prevista nova reunião entre Vale, Governo de Minas e “Instituições de Justiça” para acertar os termos do acordo. Em Live dia 10/11 e em Audiência Pública dia 11/11, a população atingida mostrou-se totalmente contra esse tipo de acordo e quanto a forma como isso vem ocorrendo. Mesmo que o acordo versa sobre os direitos difusos, a população reclama a participação.

Assina esta Nota:

Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)

Belo Horizonte, MG, 13 de novembro de 2020.

Obs. 1: Clique no link abaixo para acessar a íntegra do Documento que a CNBB protocolou junto ao TJMG hoje, 13/11/2020, questionando o eventual Acordo entre Vale, Governo de MG e “Instituições de Justiça”.

http://gilvander.org.br/site/%ef%bb%bfacordo-para-leiloar-direitos-dos-as-atingidos-as-pelo-crime-da-vale-e-do-estado-injustica-que-clama-aos-ceus/


Obs. 2: Nos vídeos nos links, abaixo, atingidos/as pelo crime tragédia da Vale e do Estado em toda a Bacia do Rio Paraopeba falam a pura verdade com cabeça erguida. Vejam e ouçam com atenção o que dizem e exigem os/as atingidos/as!

1 - Silas Fialho e Natália, atingidos pelo crime da Vale/Estado de MG: clamores por Justiça! –10/11/20

2 - Fernanda Perdigão, atingida pelo crime da Vale/Estado: Palavras de fogo - Acordão, NÃO! - 10/11/2020

3 - Acordo? -Tomás Nedson e Joelísia Feitosa, dos/as atingidos/as do crime da Vale e do Estado. 10/11/20

4 - Capitã Pedrina, atingida pelo crime da Vale/Estado: “Não se apequene diante do capital”. 10/11/2020

5 - "Basta de tanta crueldade!" José Raimundo, Ângela e Fernanda, dos/as atingidos/as do crime da VALE

6 - Acordo sem poder decisivo com atingidos/as é negociata: Patrícia, Renato e Silvéria/Área 3. 10/11/20

Obs.: Em breve publicaremos aqui também os vídeos dos/as outros/as atingidos/as que falaram na Live do dia 10/11/2020 e na Audiência Pública de 11/11/2020.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Vote pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Por Frei Gilvander

Vote pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Por Frei Gilvander Moreira[1]



Que beleza que o povo estadunidense na última eleição derrotou Donald Trump, chefe da barbárie, adepto de Mussolini e Hitler e elegeu os candidatos do partido opositor, Joe Biden e Kamala Devi Harris como presidente e vice, respectivamente, dos Estados Unidos, sendo ela a primeira mulher negra a assumir tal posição. O mundo inteiro acompanhou algum tempo antes o assassinato do negro George Floyd, barbaramente morto por um policial branco que, após algemá-lo, pisou com truculência em seu pescoço durante quase 10 minutos e o asfixiou. Tudo isso em um dos países entre os considerados mais “desenvolvidos”, os Estados Unidos da América. Floyd clamou muitas vezes: "Eu não posso respirar". O Deus da vida ouviu o clamor de Floyd e suscitou no mais profundo da história um grande e intenso processo de luta exigindo Justiça, ancorado no lema “Vidas negras importam!” George Floyd teve sua vida ceifada, mas a justiça divina animou a derrubada do chefe da barbárie, Trump, que tripudiou em cima desse crime bárbaro e de tantos outros que ele cometeu, tais como: construir muro na divisa com o México, separar crianças das mães de imigrantes que tentavam entrar nos Estados Unidos em busca de sobrevivência, tratar de modo anticientífico e criminoso a pandemia do novo coronavírus, entre inúmeros outros. Trump e quem está com ele serão jogados na lata de lixo da história. George Floyd se tornou um grande símbolo da injustiça e da resistência do povo negro e dos demais povos massacrados em todo o mundo. Seu martírio não foi em vão. George Floyd vive e viverá sempre em nós e em nossa luta por tudo o que é justo. 

Politicagem e política coronelista, clientelista e assistencialista são estratégias para manter e aumentar todas as formas de dominação. Já Política com P maiúsculo é um jeito crítico e criativo de amar se colocando ao lado de quem é injustiçado e lutando para retirar as armas das garras dos opressores. As pessoas que fazem Política com ética agem de forma emancipatória, propondo e construindo políticas públicas com participação popular, visando organizar uma sociedade justa no campo e na cidade, com respeito socioambiental e admiração pela imensa diversidade cultural presentes no Estado laico. Entretanto, política é osso duro de roer. Se não roermos esse osso, somos roídos por ele. Quem diz “não gosto de política”, se considerando neutro e apolítico, assume a pior postura política: a da omissão cúmplice das atrocidades protagonizadas pela classe dominante com seus políticos profissionais que não representam o povo, e sim o capital e os grandes interesses do mercado idolatrado. Quem opta por ficar neutro, não votar, votar em branco ou anular o voto, na prática, apoia os piores candidatos que são os que têm mais dinheiro para fazer campanhas milionárias, utilizando muita propaganda mentirosa e até mesmo comprando voto, mesmo sendo legalmente proibido. Procure conhecer a história do/a candidato/a. “Diga-me com quem andas...”. Quem o financia? Fujam das candidaturas ricas, as que têm as maiores campanhas. Fujam dos/as candidatos/as que pagam cabos eleitorais. Esses fazem política como negócio. Investem na campanha para lucrar depois com as benesses que ganharão do poder público.

Na última eleição presidencial, se os mais de 42 milhões de eleitores (31%) que se abstiveram, ou votaram em branco ou anularam o voto, tivessem votado, talvez não teria sido eleito como presidente do Brasil o pior dos 13 candidatos, alguém que tem um torturador como ídolo, apoiador de milícias, que só pensa em disseminar fake news, ódio e incrementar o lucro da indústria de armas incentivando o armamentismo na sociedade. Na última eleição presidencial nos Estados Unidos, mesmo com voto facultativo, aumentou o número de votantes. Muita gente vendo Trump, o chefe da barbárie, semear guerra, discriminação e violentar os direitos humanos e ambientais, votou por sua derrubada, o que considero correto para estancar a espiral de ódio e de intolerância que Trump estimulou durante quatro anos. O resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos “adia o fim do mundo”, conforme diz Ailton Krenak, e por algum tempo “impede a queda do céu”, conforme diz o xamã ianomâmi Davi Kopenawa.

Em uma democracia burguesa, que é formal e caricatural, se diz que os eleitos passam a ser representantes do povo. Na realidade, 80% dos eleitos não representam o povo, mas, sim, grandes interesses do capital, grandes empresas que fazem lobby para manter a maioria dos políticos subservientes aos seus idolátricos interesses. Jesus Cristo e as primeiras comunidades cristãs já denunciavam: “Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados benfeitores” (Lucas 22,25). Em uma sociedade capitalista com lógica e estrutura para reproduzir a desigualdade social, trabalhador/a votar em empresário/a é o mesmo que galinha votar em raposa para tomar conta do galinheiro. “Trabalhador/a deve votar em trabalhador/a”, propõem a Pastoral Operária e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) há muitas décadas.

Em uma sociedade racista e escravocrata como é o Brasil, negro/a não deve votar em branco/a da classe dominante, pois, se assim fizer, estará votando em quem lhe superexplorará e reproduzirá as políticas opressoras. Negro/a deve votar em negro/a que participa do Movimento Negro e é militante da causa do povo negro: superar todo tipo de escravidão e de racismo reinante na sociedade. Os presídios atualmente no Brasil são na prática novos Navios Negreiros, antros de tortura e de pisoteamento na dignidade da pessoa humana. Logo, quem vota em militaristas e quem defende endurecimento de penas e repressão policial está condenando os próprios irmãos e irmãs que serão presos e jogados para detrás das grades e violentados de muitas formas.

Em uma sociedade com 51% da população constituída por mulheres, o que garantirá um grau efetivo de representação nos Executivos municipais e nas câmaras de vereadores, será a eleição de pelo menos 51% de mulheres para compor os poderes Executivo e Legislativo municipais. Em Belo Horizonte, por exemplo, em uma Câmara Municipal com 41 vereadores, apenas quatro são mulheres. Por isso, em Belo Horizonte precisam ser eleitas, no mínimo, 21 mulheres como vereadoras. Basta de 90% dos parlamentares serem homens e na maioria das vezes machistas e patriarcais. Pesquisas demonstram que países governados por mulheres estão conseguindo salvar muito mais vidas durante a pandemia do novo coronavírus.

Se na sociedade existe cerca de 14% das pessoas com orientação sexual homoafetiva, 14% dos eleitos para prefeitos/as e vereadores/as precisam ser de pessoas LGBTQIA+. Se no Brasil há quase um milhão de indígenas resistindo bravamente diante do genocídio que lhes é imposto pelos capitalistas, onde há indígenas candidatos/as devem receber os votos necessários para se elegerem. Se na sociedade há mais de 10% das pessoas com alguma deficiência física ou mental, 10% das vagas das câmaras municipais precisam ser para este grupo social que humaniza as relações humanas e sociais. E assim por diante para conquistarmos de fato representatividade entre os/as eleitos/as.

Atenção! Não acredite em candidatos/as que utilizam o discurso “Deus e a família acima de todos e de tudo”. Deus não quer estar acima de tudo e de todos. O Deus da vida está em nós, no nosso meio, caminha com o povo oprimido nas suas lutas libertárias. Quem fica acima quer poder para dominar. Deus não quer isso. Deus é amor e por amor fica ao nosso lado, jamais acima. Alardear também “família acima de tudo” é outra mentira esfarrapada, pois atualmente existem mais de 40 tipos de família na sociedade brasileira e precisam ser respeitadas na sua dignidade e na sua forma plural se ser e existir. Não dá mais para impor aquele modelo de família tradicional arcaica e que tinha o marido patriarcal e machista e anulava a dignidade da mulher que, submissa e resignada, mantinha uma aparência de família modelo. A pluralidade de valores precisa ser acolhida, admirada e respeitada na sociedade. Acabou-se o tempo de imposição de um modelo que insistia em uniformizar a sociedade. Os que usam e abusam do nome de Deus e levantam a bandeira da defesa da família são na realidade os que mais desrespeitam a vontade do Deus da vida e violentam as famílias, pois impedem a realização de reforma agrária, porque não aceitam a partilha e democratização da terra. Impõem políticas de repressão às injustiças sociais, porque querem reproduzir especulação imobiliária e um sistema de moer vidas. Cortam direitos trabalhistas, sociais e previdenciários, porque estão a serviço dos banqueiros que furtam 24 horas por dia de mil formas o povo. Agindo assim, são falsos religiosos e violentam as famílias que ficam sem terra, sem moradia, sem direitos. Os cem pastores que foram eleitos deputados federais estão, salvo exceções, junto com as bancadas da bala e do boi, na Câmara Federal aumentando a latifundiarização e apoiando agronegócio que dissemina epidemia de câncer com o uso abusivo de agrotóxicos e desertifica os territórios. Pessoa religiosa que defende isso é falsa, hipócrita e, pior, opressora.

Enfim, não seja Analfabeto Político, nos pede Bertolt Brecht, porque “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

E, atenção! Dia 15 de novembro de 2020, vote observando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para não pegar e nem transmitir coronavírus; e vote nos partidos de esquerda e em candidatos que têm história de compromisso com a luta por justiça social. Senão você poderá sair da cabine de votação com as mãos sujas de sangue, como milhões saíram na eleição de 2018. Vote pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Oxalá sejam eleitos/as os/as melhores candidatos/as – se não, os/as menos piores e que respeitem o que pede Jesus Cristo: “Governe como aquele/a que serve!” (Lucas 22,26) construindo e efetivando políticas públicas que gerem uma sociedade com justiça, paz, solidariedade, amor ao próximo e respeito ao meio ambiente e às próximas gerações, sem discriminações[2].

10/11/2020.

Obs.: Os vídeos nos links e o áudio, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Live: A Inter-Religiosidade, as Eleições Municipais e o "Fora, Bolsonaro"! - Por Justiça! 08/11/2020

2 - Greg News: Eleições Municipais. O que está em jogo nas eleições de 2020? Poder do prefeito. 09/10/20



3 - 7a Live: A "Fratelli Tutti" do Papa Francisco e o papel dos Cristãos na Política: Fora, Bolsonaro?

4 - Live 4: Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal! 100.000 mortos pela COVID-19 – Debate Ecumênico

5 - Dom Vicente Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso

6 - 3ª Live do Movimento Inter-Religioso do Vale do Aço, MG: Fora, Bolsonaro? – Debate Inter-Religioso.

7 - Live - Fora Bolsonaro e o (des)governo federal? - Debate inter-religioso

8 - Live Cristãos também gritam: “FORA BOLSONARO!" - Frei Gilvander, Pastor Daniel, Renata, Sara/Paulo



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.