segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

“Tem que ser agora”- Zé Vicente em entrevista a frei Gilvander – Vídeo 4...



“Tem que ser agora” - Zé Vicente em entrevista a frei Gilvander – Vídeo 4 – 04/06/2018.

José Vicente Filho – Zé Vicente – cearense nascido em Orós, em 1954, filho de pai paraibano e mãe cearense, é o terceiro dos dez filhos do casal. Poeta, compositor, músico, cantor, é autor de centenas de letras de músicas cantadas por milhares de comunidades cristãs do Brasil e de vários outros países por onde passa, principalmente da América Latina. Em junho de 2018, Zé Vicente esteve em Belo Horizonte/MG, como assessor do Encontro de Leigos e Leigas do Estado de Minas Gerais e participou também do 4º ENA (Encontro Nacional de Agroecologia) e de Roda de Conversa na sede das Irmãs Paulinas. No dia 04/6/2018, Zé Vicente recebeu Frei Gilvander, da CPT e uma conversa boa aconteceu, regada a muita música. Zé Vicente apresenta sua música como expressão do que vive, acredita e defende: a fé no Deus da vida, libertador, a opção pelos pobres e explorados, a luta do povo pela vida, em toda sua biodiversidade, o chamado à ação, a esperança ativa, a utopia. Cantando, o artista defende a ideia que é preciso lutar pela “vida e vida em abundância para todos e todas” (cf. Jo 10,10), pelo amor, e “tem que ser agora”.

Reprodução:
http://acaoculturalse.blogspot.com/2008/03/z-vicente-quem-este-cantor.html

*Filmagem de Maria do Rosário de Oliveira Carneiro. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 04/6/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Zé Vicente – Olhos críticos para a realidade. Entrevista a frei Gilvande...



Zé Vicente – Olhos críticos para a realidade. Entrevista a frei Gilvander. Vídeo 3 -04/6/2018.

Zé Vicente, poeta, compositor, músico, cantor. Natural de Orós, Ceará. Canta e compõe desde 1981, fazendo de suas criações e voz, expressão de identidade e afirmação cultural, não só para o povo brasileiro, como também para os povos de vários outros países por onde tem passado. Zé Vicente é um artista apaixonado por seu povo, sua terra, suas raízes. Sua música está em sintonia permanente com as grandes causas humanas, sociais e ecológicas do nosso tempo. Durante sua estadia em Belo Horizonte/MG, no início de junho/2018, Zé Vicente abriu espaço em sua agenda, no dia 04/06/2018, para conversar com frei Gilvander, da CPT-MG. Na entrevista apresentou seu novo trabalho, o CD “Agora”, com músicas que dialogam com a atual conjuntura política, social e cultural do Brasil. Zé Vicente acredita que esse é o momento de somar forças e fortalecer a luta e a resistência por direitos.

Reprodução - http://arnaldosilvaradialista.blogspot.com

*Filmagem de Maria do Rosário de Oliveira Carneiro. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 04/6/2018.
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Frei Gilvander entrevista Zé Vicente: Música que alimenta a a utopia de ...



Zé Vicente em entrevista a frei Gilvander: Música que alimenta a esperança e a utopia de um povo. Vídeo 2 – 04/6/2018.

O poeta, compositor, músico e cantor Zé Vicente esteve em Belo Horizonte/MG, no início de junho de 2018, onde participou do grande Encontro de Leigos e Leigas do Estado de Minas Gerais - no Ano do Laicato -, do 4º Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA) e de Roda de Conversa na sede das Irmãs Paulinas. No dia 04/6/2018, em entrevista a frei Gilvander, da CPT-MG, Zé Vicente falou da mística e da espiritualidade profética de sua música, sempre voltada para a realidade da vida, do povo, animando sua caminhada na luta por direitos, por libertação. Música que alimenta a esperança e a utopia de um povo que caminha e luta fazendo Opção pelos Pobres.

Reprodução / www.paulinas.org.br

*Filmagem de Maria do Rosário de Oliveira Carneiro. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 04/6/2018.
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Zé Vicente: Um artista do nosso tempo, do nosso povo. Entrevista a fre...



Zé Vicente: Um artista do nosso tempo, da nossa hora, do nosso povo. Entrevista a frei Gilvander/Vídeo 1 - 04/6/2018.

Zé Vicente, José Vicente Filho, terceiro dos dez filhos de José Vicente Sobrinho e Susana de Oliveira Barros. Foi nessa família de lavradores, gente simples, festiva, religiosa, apaixonada pela poesia de Cordel e Luiz Gonzaga, que Zé Vicente foi criado, no sertão do Ceará, e mesmo hoje, aos 64 anos e muitas viagens a serviço das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Movimentos Populares, Pastorais Sociais, entre outros Encontros promovidos pelo Povo de Deus em caminhada, mantém-se ligado ao seu lugar, sua gente, suas raízes. No início de junho de 2018, Zé Vicente esteve em Belo Horizonte/MG, onde participou do Encontro de Leigos e Leigas do estado de Minas Gerais, do 4º Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA) realizado na capital mineira e esteve também em Roda de Conversa com as Irmãs Paulinas. No dia 04/6/2018, abriu espaço em sua agenda para conversar com frei Gilvander, da CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra). Zé Vicente, poeta, compositor, músico e cantor – um artista do nosso tempo, da nossa hora, do nosso povo.

Reprodução / letras.mus.br

*Filmagem de Maria do Rosário de Oliveira Carneiro e edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 04/6/2018.
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terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Pelo direito à moradia, despejo na Ocupação dos Carroceiros em BH, não! ...




Pelo direito à moradia, despejo na Ocupação dos Carroceiros em BH, não! Vídeo 2 - 30/12/2018.

Dia 30/12/2018, após reunião com as famílias da Ocupação dos/as Carroceiros/as de Belo Horizonte, MG, situada no bairro Tirol, na região do Barreiro, o advogado popular Thales Viote, do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e da RENAP (Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares) coordenou a gravação de uma reportagem em vídeo. O vídeo 2 dessa reportagem é o que segue aqui.

Mãe com criança na luta por moradia na Ocupação dos/as Carroceiros/as no Tirol,
em Belo Horizonte, MG. Foto: frei Gilvander
*Reportagem em vídeo de Thales Viote, do MLB e da RENAP.
Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 30/12/2018. 

Para maiores informações, consulte a Nota Pública no link, abaixo:


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‘Chico Rei’ e a luta pela superação do racismo e da escravidão.


‘Chico Rei’ e a luta pela superação do racismo e da escravidão.
Por Gilvander Moreira[1]

Reprodução / Zenaide Zenah e Mário Gusmão

“Feliz Ano Novo”, dizem pessoas, em uma padaria, enquanto compram o pão de cada dia. Em Brasília, com o maior aparato militar de segurança e repressão da história, Jair Bolsonaro toma posse como presidente do Brasil. Em 8 de dezembro de 1967, o papa Paulo VI propôs a criação do Dia Mundial da Paz a ser celebrado todo dia 1º de janeiro. Porém, como conquistar um “Feliz Ano Novo” e Paz como fruto de justiça social, agrária, ambiental, urbana e com respeito aos direitos humanos fundamentais diante do cenário e contexto político, econômico, religioso e social que atravessamos: imensa dívida histórica com o povo negro, racismo institucional, ascensão do fascismo e igrejas com teologia da prosperidade? Com 54% de sua população negra, segundo o IBGE, o Brasil continua reproduzindo uma das maiores desigualdades sociais e raciais do mundo. Essa questão nos remete à história do povo negro no Brasil e ao filme ‘Chico Rei’.
Dirigido por José Eugênio Muller, o belíssimo Filme ‘Chico Rei’ narra a história de um negro, Rei no Congo, África, mas trazido como escravo para o Brasil em navio negreiro e que, após trabalhar muito forçadamente como escravo em Ouro Preto - Antiga Vila Rica -, em Minas Gerais, teria comprado sua alforria e a de muitos outros negros escravizados. Chico Rei trata-se de uma lenda, mas que inspira muitas reflexões e posicionamento diante da escravidão contemporânea que continua crescendo de mil maneiras. Óbvio também que o filme não pode ser assistido como se fosse uma narrativa histórica simplesmente.
Enquanto assistimos ao filme ‘Chico Rei’, podemos viajar imaginariamente pela história da escravidão no Brasil. Artisticamente o filme foi muito bem feito, com músicas inebriantes e cenas inesquecíveis com crueldade de arrepiar! O soar dos tambores e as danças do povo negro revelam uma mística invencível: a certeza de que nascemos livres e pela liberdade sempre lutaremos. Toda opressão suscitará lutas libertárias.
Segundo o filme ‘Chico Rei’, arrancados à força da Mãe África, onde nasceram livres, após serem laçados e capturados por jagunços, durante vários séculos, milhões de negros e negras, com argolas de ferro no pescoço e nos pés, eram empurrados para os navios negreiros, que eram navios para transporte de cargas, também chamados de ‘navios tumbeiros’. Nos navios negreiros, os/as negros/as escravizados/as eram amontoados/as nos porões e amarrados/as em grupos, em média 400 por cada navio. Nos porões superlotados, o mau cheiro imperava, pois, embora fossem grandes porões, o espaço para se movimentar era mínimo, pois quanto mais se superlotava os porões mais lucro se adquiria em cada viagem. Em porões escuros, os negros e as negras escravizados/as passavam literalmente e existencialmente por noites escuras, nas quais uns enlouqueciam, outros suicidavam-se, outros/as tantos/as eram jogados/as ao mar, mas muitos sobreviviam. Historiadores atestam que “conviviam no mesmo local – nos porões -, a fome, a sede, as doenças, a sujeira, os agonizantes e os mortos” que continuavam por muitos dias junto aos vivos, pois o pessoal da tripulação passava muitos dias sem descer aos porões. As fezes e a urina continuavam nos locais onde os negros eram amarrados nos porões.
Em alto mar, em meio a grandes tempestades, muitos negros/as escravizados/as eram jogados/as ao mar para evitar naufrágios. Negro que se rebelava era amarrado no mastro do navio e açoitado impiedosamente. Mulheres negras escravizadas eram estupradas por brancos da tripulação nos navios negreiros. Na costa brasileira, famílias eram separadas, homens eram levados para o Rio de Janeiro ou para São Paulo e as mulheres, vendidas na Bahia, por exemplo. Os negros escravizados eram vendidos em mercados como ‘peças’, mercadoria importada que poderia gerar lucro para seus mercadores brancos. Sacerdotes europeus que vinham juntos nestes navios, ofendendo ao Deus da vida, abençoavam essa tamanha injustiça, trazendo a religião europeia como embaixadora da "civilização" e da "modernidade." Os negros escravizados eram submetidos a trabalhos forçados nos Engenhos da monocultura de cana e em áreas de mineração. Muitos não sobreviviam além de 7 anos de escravidão.
Com maestria poética, Castro Alves registrou no poema Navio Negreiro:
Que quadro d'amarguras! / É canto funeral! ... / Que tétricas figuras! [...] Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!  [...] / Se o velho arqueja, se no chão resvala, / Ouvem-se gritos... o chicote estala. [...] / Presa nos elos de uma só cadeia, / A multidão faminta cambaleia, / E chora e dança ali! / Um de raiva delira, outro enlouquece,  [...] / Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus! / Se é loucura... se é verdade / Tanto horror perante os céus?”
Com a expansão do comércio de negros, muitas grandes empresas foram constituídas para traficar negros da África e vender no Brasil. O tráfico de escravos só foi proibido com a Lei Eusébio de Queiroz, em 04 de setembro de 1950, 38 anos antes da abolição formal da escravatura no Brasil. Sobre os/as negros/as escravizados/as se impingia a ideologia dominante que dizia que se trabalhassem muito poderiam comprar sua própria alforria, liberdade. Porém, na realidade, o caminho para se conquistar a liberdade era fugir e construir quilombos. Dandara e Zumbi demonstraram que esse era o caminho da libertação, assim como os quilombos na região de Ouro Preto.
Em Alagoas, o Quilombo dos Palmares, em 1670, contava com mais de 20 mil pessoas e resistiu por mais de 100 anos ao sistema escravista. Recentemente, os 11 Acampamentos do MST, em Campo do Meio, MG, em homenagem à resistência quilombola no estado de Minas Gerais, batizou o nome da sua luta de “Quilombo Campo Grande”, em que cada Sem Terra é outro Zumbi e outra Dandara. O Quilombo dos Palmares é considerado um grande símbolo nacional de luta, mas é importante também ressaltar que a antiga Confederação dos Quilombos Campo Grande vem sendo considerada por historiadores ainda muito maior do que foi o Quilombo dos Palmares, tendo sido composta por, pelo menos, 27 núcleos de resistência, espalhados por territórios que abrangem hoje, em Minas Gerais, o Centro-Oeste, o Alto São Francisco, o Sudoeste e o Triângulo Mineiro e , em 1752, segundo o pesquisador Diogo de Vasconcelos, chegou a possuir vinte mil habitantes. Os líderes quilombolas Ambrósio e Pedro Angola da Confederação do Quilombo Campo Grande devem ser também lembrados por todos da luta. Na segunda metade do século XVIII, houve várias investidas repressivas que visavam desbaratar os principais núcleos quilombolas em Minas Gerais. A perseguição e a matança de negros escravizados foi grande e hedionda. O capitão do mato, Bartolomeu Bueno Prado, fez questão de trazer para mostrar ao governador da capitania de Minas Gerais 3.900 pares de orelhas de negros escravizados assassinados. Apesar da intensa perseguição, muitas pessoas quilombolas conseguiram fugir para as matas, pois a existência de rotas de fuga antes da chegada das milícias saqueadoras e repressivas era uma forte estratégia de resistência negra. A história oficial divulgou o extermínio total dos quilombolas, da mesma maneira que dizia não haver mais indígenas nas matas e nas vilas! Muitos indígenas e quilombolas se mantiveram na invisibilidade como forma de resistência ao sistema repressor e ao preconceito racial e social. Todavia, atualmente muitas comunidades remanescentes de quilombolas que estão se organizando e lutando por seus direitos em Minas Gerais têm a sua raiz na belíssima história dessa grande Confederação de Quilombos Campo Grande.
Uma história que foi por muito tempo escondida pelos poderosos e que temos o dever de revelar e de divulgar! Mas, sobretudo, entender que a escravidão não acabou. O que se vive atualmente no Brasil e na América Latina, com os inúmeros retrocessos e perdas de direitos conquistados pelo povo é uma forma concreta de manter o povo na escravidão. Não percamos a memória das lutas de resistência! Sobretudo a memória das nossas ancestralidades, de Dandara, de Zumbi, de Chico Rei – Ocupação Chico Rei em Ouro Preto atualmente -, dos povos indígenas, de quem resistiu ontem e resiste hoje. Assim, o Ano de 2019 se abre convidando toda a classe trabalhadora e camponesa, do campo e da cidade, a dar as mãos. “Ninguém largue a mão de ninguém!”, principalmente a mão dos povos indígenas, quilombolas, LGBTTQIs[2], pessoas em situação de rua, jovens de periferia; enfim, todos os injustiçados. Coragem e perseverança nas lutas de resistência e por conquista de direitos. Os opressores são poderosos, mas contraditórios e, por isso, têm pés de barro quebradiços.

Assista ao filme ‘Chico Rei’ e Reportagem em vídeo sobre Ocupação Chico Rei em Ouro Preto, nos links, abaixo.

1 - De Galanga no Congo a Chico Rei em Ouro Preto



2 - Ocupação Chico Rei/Ouro Preto/MG: O direito à moradia com segurança e dignidade - 04/7/2018



Belo Horizonte, MG, 1º/01/2019.



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers e Pessoas Intersex.

O poder da Caverna Sagrada Kamukuwaká – Mitos, Matas e Desafios.


O poder da Caverna Sagrada Kamukuwaká – Mitos, Matas e Desafios.

Por Alenice Baeta[1]

Destaque: Líder indígena mostrando 
detalhes e magias da caverna 
Kamukuwaká, vale do Batovi, 
Paranatinga-MT. 
Foto: A Alquimia da Cura

Em setembro de 2018 foi noticiada a depredação de conjuntos de grafismos rupestres antiquíssimos na caverna Kamukuwaká, situada no município de Paranatinga, estado do Mato Grosso, às margens do rio Tamitatoala ou Batovi, Alto Xingu, na Bacia Amazônica.
Esta caverna, que fica próxima de uma grande cachoeira, é considerada sagrada e de grande importância histórica e espiritual para as onze etnias indígenas que vivem no Xingu. Segundo a cosmologia do povo Wauja ou Waurá (falantes da língua maipure, da família arawak), esta gruta seria lar do ancestral guerreiro Kamukuwaká, que ali teria se defendido dos ataques do inimigo, o Kamo, que invejava a sua beleza e a sua força, transformando a sua casa em pedra, tentando atacá-lo; mas com a ajuda de pássaros foi aberto um buraco no teto rochoso, e assim Kamukuwaká e seus familiares conseguiram escapar para o céu, livrando-se da emboscada.
Os Wauja consideram que há algumas figurações esculpidas nas paredes de sua entrada que representam também a fecundidade da mulher e estas teriam o poder mágico de aumentar a fertilidade das coisas vivas. Ali seria ainda a residência de espíritos Wauja, chamados “Inyãkãnãu”, ou “aqueles que ensinam”.  Os espíritos guiam os xamãs, os Yakapa, que aparecem em visões ajudando a curar os doentes e a promover a harmonia nas aldeias, reativando por meio de terapias rituais as relações divinatórias.
Nos últimos anos, a caverna, apesar da distância das atuais aldeias, também estava sendo utilizada como local de ensinamentos para as crianças e jovens indígenas do Xingu por meio de recursos musicais e artísticos, dons que tão bem dominam, pois segundo eles, a música molda um padrão de convivência produtivo, místico e de grande sociabilidade (Mello, 1999; Barcelos Neto, 2001).
A arte impregna a concepção Wauja, pois este povo é considerado artesão excepcional, inclusive pelas outras etnias da região, possuidores de um repertório gráfico e processos complexos de produção de artefatos cerâmicos, cestaria, plumária, máscaras, miçangas e aerofones (flautas e clarinetes) para  rituais com marcada maestria e peculiaridade tecno-estílistica. A cerâmica Wauja é sua grande especialidade e distintivo, composta por peças com formatos zoomorfos, de diversas dimensões, decoradas por grafismos geométricos variados, mas que traduzem uma complexa cosmologia baseada na relação animais, coisas, humanos e seres extra-humanos, cruciais para a prática do xamanismo e de inúmeros rituais místicos. No trançado, produzem os melhores cestos cargueiros, além de objetos associados ao preparo da mandioca e seus derivados, como pilões, pás de beiju, torradores e peneiras.
Mas esta herança é considerada por eles uma grande dádiva, pois no século XX, o Alto Xingu sofreu grandes perdas demográficas devido às várias epidemias e ações violentas de fazendeiros e garimpeiros. Os índios Wauja foram reduzidos a poucas dezenas de indivíduos. Entretanto, apesar da brutal mortalidade e perseguições permanentes, os Wauja conseguiram guardar em segredo os conhecimentos fundamentais e memórias ancestrais para a sua reprodução étnica e sociocultural, enfim a sua resistência.
Pesquisas arqueológicas e etnográficas sobre a formação da cultura xinguana apontam (Heckenberger 2001; Fausto, 2005) que os grupos arawak teriam sido os primeiros a se estabelecer no Alto Xingu e que os Wauja atuais seriam, possivelmente, seus descendentes mais antigos, responsáveis pela formação das  imensas aldeias circulares e fortificadas que surgiram na periferia meridional da Amazônia entre os anos 1000 e 1450.
A caverna Kamukuwaká faz parte deste território imemorial tradicional tendo sido, inclusive, tombada em nível federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), cujo processo encontra-se registrado no ano de 2006 (Processo IPHAN T1535-MT) em função de seus fortes atributos no âmbito natural, arqueológico e etnológico, juntamente com outros sítios sagrados da região, tais como o lugar conhecido como Sagihenhu, que integra o Kwarup, a maior festa ritualística entre os povos do alto Xingu.  Mas, lamentavelmente, o tombamento destes sítios arqueológicos e imateriais magníficos não garante a sua proteção eficaz, inclusive, a partir de 2011 lideranças indígenas já vinham denunciando desmatamento, abertura de estradas, construção de barracões, ranchos, turismo predatório e pesqueiros nos rios Kuluene e Batovi, além de muito lixo, conforme denúncia feita por Tahugaki Kalapalo.
A destruição de figurações rupestres na gruta Kamukawaká indica assim o alto grau de vandalismo, de extrema violência e de desrespeito para com a cultura indígena, seus direitos, territórios e valores no Alto Xingu. Ainda se soma à importância simbólica da gruta o fato dos grafismos parietais serem considerados pela constituição federal patrimônio arqueológico, ou melhor, “Bem da União”, protegido por lei desde 1961 (Lei n. 3.924/61). 
O arqueólogo Michael Heckenberger, que desenvolve profícuas pesquisas sobre a arqueologia xinguana, em entrevista ao Jornal Estado de São Paulo, em setembro de 2018, alertou sobre as peculiaridades estilísticas dos desenhos da gruta de Kamukuwaká que ele considera, sob esta ótica, “absolutamente única”. Do ponto de vista gráfico seriam “nitidamente desenhos xinguanos”, por isto, ele considera um caso de tradição do passado que se liga definitivamente a um povo atual e que continua sendo um lugar dos espíritos de tempos primordiais. Alguns rituais como a “furação da orelha”, por exemplo, se baseiam no sistema imagético da gruta, bem como as pinturas corporais e as decorações plásticas dos artefatos que se assemelham com algumas figuras, motivos e formas inscritas em suas paredes rochosas. O pesquisador insiste na proteção efetiva da caverna e do seu entorno, informando sobre a existência de um local onde foi ainda encontrado um antigo ateliê de lascamento de pedra, quer dizer, uma antiga oficina onde se produzia pontas de flecha e outros instrumentos pétreos.
O desafio dos povos xinguanos continua sendo a defesa incessante das suas fronteiras contra invasores interessados em destruir ou degradar intencionalmente as suas múltiplas formas de memórias, as magias dos seus territórios tradicionais, das grutas, das suas encantadas matas e das suas poderosas águas sagradas.
Segundo dados atualizados publicados pelo Instituto Sócio Ambiental (ISA), mais de 6 mil hectares de floresta na Bacia do Rio Xingu foram devastados somente nos primeiros dois meses de 2018, dando lugar a monoculturas do agronegócio e ao garimpo ilegal. Somam-se ainda 800 hectares que foram abertos de forma clandestina em terras indígenas (TIs) e em Unidades de Conservação (UCs), pressionando ainda o Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental, que visa assegurar a proteção de locais vulneráveis e raros da região. 
Que os espíritos ancestrais da caverna Kamukawaká joguem luz e ensinamentos nas mentes da humanidade, muitas delas insanas e individualistas, protegendo e guiando as forças vivas da sociedade para o bem, visando à defesa permanente dos direitos humanos e da justiça social e ambiental.

Referências Bibliográficas:
BARCELOS NETO, Aristóteles. O Universo Visual dos Xamãs Wauja (Alto Xingu). In: Jornal de la Société des Americanistes, vol. 87, 2001.
FAUSTO, Carlos.  Entre o passado e o presente: Mil anos de História Indígena no Xingu. In: Revista Estudos e Pesquisa da Funai, Distrito Federal, Vol. 2, n. 2, dez. de 2005.
HECKENBERGER, Michael. Estrutura, história e transformação: a cultura xinguana na longue durèe, 1000-2000 d.C. In: FRANCHETTO, B. & HECKENBERGER, M. ( Orgs.) Os Povos do Alto Xingu. Rio de Janeiro:UFRJ, 2001.
MELLO, Maria Ignês Cruz. Música e mito entre os Wauja do Alto Xingu. (Dissertação de Mestrado) Centro de Filosofia e Ciências Humanas/UFSC, Florianópolis: UFSC, 1999.

Sites Consultados:



[1] Doutora em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia-MAE/USP; Pós-Doutorado no Departamento de Antropologia e Arqueologia na FAFICH/UFMG; Mestrado em Educação pela FAE/UFMG; Historiadora; Membro do ICOMOS/Brasil-Conselho Internacional de Monumentos e Sítios e do CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva).