terça-feira, 30 de maio de 2017

Grande Sertão realiza 3ª pré-Romaria da 20ª Romaria da Águas e da Terra de Minas Gerais, em Chapada Gaúcha, no norte de MG.

Grande Sertão realiza 3ª pré-Romaria da 20ª Romaria da Águas e da Terra de Minas Gerais, em Chapada Gaúcha, no norte de MG.


Dia 27 de maio de 2017, na cidade de Chapada Gaúcha, norte de Minas Gerais, Diocese de Januária, aconteceu a 3ª Pré-Romaria da 20ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais, ação preparatória para a 20ª Romaria que acontecerá em Unaí, no dia 23 de julho de 2017, das 06h00 às 17h00.  A pré-Romaria em Chapada nasceu do desejo de romper com a ideia de fronteiras territoriais e eclesiais com intuito de construir ações conjuntas para o bem comum. Essa região é conhecida como Grande Sertão Veredas devido ser cenário vivo da obra de mesmo nome do escritor João Guimarães Rosa. No romance, Rosa descreve os rios como caminhos que levam aos pousos seguros da tropa de Riobaldo e o frescor da vida.
Esse foi o tom que a Comissão Organizadora trouxe para o evento: o encantamento pelas águas e com a cultura local para transformação social. Desta forma,  mobilizamos escolas, comunidades tradicionais, comércio local e agentes do poder público compondo um grande rio: “caminharemos pelas ruas de Chapada nos percebemos como as águas que correm para o Velho Chico. Desejaremos uma correnteza firme, viva e limpa”, afirmou uma das coordenadoras antes da saída dos romeiros e romeiras da irmã água e da mãe terra.
A 3ª pré-Romaria contou com a participação de 1.000 pessoas do campo e da cidade. Com representação das comunidades de Ribeirão de Areia, Buraquinhos, Barrocão, Rio dos Bois e distrito de Serra das Araras, como também, representantes das cidades de Paracatu, Unaí, Arinos, Capitão Eneias, Januária e Belo Horizonte.
Como metodologia, a pré-romaria utilizou-se de estações representando os afluentes do rio São Francisco, ao total, foram sete. A primeira foi aberta pelo superintendente da Fundação Pró-Natureza, César Victor, com o rio Carinhanha. Esse é um dos principais afluentes do rio São Francisco livre de barramento e nasce no Parque Nacional do Grande Sertão Veredas. É berçário de uma natureza profunda e lugar de vida de muitas comunidades do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu. 
Na 2ª estação foi trazido o rio Ribeirão de Areia, apresentado pelo ex-prefeito José Raimundo Ribeiro Gomes e José Adilson, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). O Ribeirão é tributário da bacia do rio Urucuia. Nessa estação foi chamada atenção para a concentração de terras e a importância da regularização fundiária. Foi recordado que a lendária Fazenda Menino foi palco de muitos conflitos agrários, sendo vários camponeses assassinados, entre eles os camponeses posseiros Januário Emídio dos Santos e José Natal Romão assassinados dia 14/11/1990, de emboscada, enquanto trabalhavam na carvoeira, na posse deles. E, Eloy Ferreira da Silva, presidente do STR do município de São Francisco, no norte de Minas, assassinado em 16 de dezembro de 1984.
Pelas águas do rio Acari, Chicão, secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Chapada Gaúcha, apresentou reflexões importantes para a convivência com o semi-árido e para os leitos já secos. Ainda, sobre a importância de se plantar árvores e de conhecer a realidade vivida.
Chamando as águas do rio Pardo, a 4ª estação foi aberta por José Correia Quintal, conhecido como Zezu, presidente do STR de Chapada Gaúcha. A parada foi na rua Eloi Ferreira, um dos principais sindicalistas de Minas Gerais. Nessa parada a reflexão foi sobre a organização e luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais por terra e por reforma agrária.
A penúltima estação foi do rio Urucuia, “o rio de mais amor” para Guimarães Rosa. Aqui foi lembrado a luta das mulheres camponesas representada por Camila Almeida, de Buritis. A mesma não pode estar presente, mas foi referendada pela organização como representação das águas pela vida.
A caminhada pelo grande rio finalizou no rio São Francisco, lugar que encontramos o arco-íris e a esperança de continuar a seguir nessa travessia proposta pelo movimento de Romarias das águas e da terra. A Praça Euclésio Gobbi já enfeitada para receber as romeiras e os romeiros foi povoada por enfeites, música, poesia e palavra de Deus, a partir da Bíblia e dos clamores da irmã água, da mãe terra e dos filhos e filhas da terra e das águas. A programação cultural contou com a curadoria de Daiana Campos e Lili Viana, mesclando tradição e apresentação artística. 
Em seguida, a abertura da celebração da palavra foi feita pelo terno de Folia de Reis da Comunidade Veredeira de São Joaquim. A oferta da palavra foi realizada pelo Padre Tiago, pároco da Paróquia de Santo Agostinho, e pelo Frei Gilvander Moreira, da CPT. Ouvimos o Evangelho da Partilha dos Pães (João 6,1-15), onde está a pedagogia emancipatória do camponês Jesus de Nazaré. Em seguida, os participantes foram encantados por uma grande roda mística e ecumênica, lançado aos corações atentos o chamado do Papa Francisco para cuidarmos da natureza que habita em nós, que nos rodeia e nos sustenta.
Para fechar a noite, nas violas do rio Pardo, Zezu e seus filhos, apresentação do Ponto de Cultura Seu Duchim com uma saudação ao Velho Chico e as brincadeiras de Reis. O show principal ficou por conta dos artistas Toninho e Batinha de Serra das Araras, Daiana Campos, Lili Viana e a banda Trio Sertanejo.
A coordenação geral foi realizada pela Comissão Organizadora formada por representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Chapada Gaúcha, Câmara Municipal, Prefeitura Municipal, Paróquia Santo Agostinho, Escola Municipal Onias Torres Guedes, Escola Municipal Santo Agostinho, Escola Estadual Moacir Candido, Escola Estadual Dário Carneiro, Escola Estadual Serra das Araras, Santuário de Santo Antônio, ADISC, Funatura, ICMBio e Instituto Rosa e Sertão.
Quem participou saiu de Chapada Gaúcha feliz da vida e grato por ter vivenciado um acontecimento histórico. Que beleza revolucionária!
A 4ª pré-Romaria será em Arinos dia 09 de junho próximo (2017). Estamos realizando 11 pré-romarias até chegarmos dia 23 de julho de 2017 para a Celebração “final” da 20ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, em Unaí, o município campeão do Brasil em área irrigada - em 2104, havia 663 pivôs irrigando 61.151 hectares (Dados da ANA, 2014), mas também em devastação socioambiental. E depois teremos pós-romaria. Não percam o Trem da Romaria das águas e da terra. Pule dentro e venha participar. Somos filhos e filhas do Deus da vida, mas também somos filhos e filhas da terra e das águas. Feliz quem ouve os clamores das águas e da terra tão violentada pelo capitalismo e pelos capitalistas, com agronegócio e hidronegócio.

Acompanhe o Blog da 20ª Romaria das águas e da terra de MG: www.xxromariadasaguasedaterramg.blogspot.com.br

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quarta-feira, 24 de maio de 2017

No Brasil, são 41 camponeses assassinados, em 2017, até hoje, dia 24/5/2017, segundo dados da CPT. Carta do Ato Denúncia Por Direitos e contra a Violência no Campo

No Brasil, são 41 camponeses assassinados, em 2017, até hoje, dia 24/5/2017, segundo dados da CPT.


CARTA DO ATO DENÚNCIA “Por Direitos e contra a Violência no Campo”.

Os casos de violência e barbárie no campo no mês de abril de 2017 chocaram a população brasileira e repercutiram mundo afora.
A Comissão Pastoral da Terra – CPT, que registra e analisa os conflitos no campo desde 1985, percebeu um aumento significativo no número de assassinatos no campo em 2015, quando sete camponeses foram assassinados num período de cinco meses, na Gleba Bacajá, Anapú, PA. Notou também que o número de assassinatos no campo aumentou sucessivamente, de 36 em 2014, para 50 em 2015 e 61 em 2016.
O ano de 2017 já apresenta um cenário desolador de violência que não se restringe apenas a algumas pessoas, mas adquiriu caráter de chacinas e massacres brutais. A CPT já confirmou 26 assassinatos no campo desde janeiro de 2017.
O Brasil todo viu o massacre de Colniza, MT, no dia 19 de abril de 2017, quando nove vidas foram ceifadas, e em Viana, MA, no dia 29 de abril de 2017, quando um ataque brutal deixou 22 feridos.
A região de Vilhena, RO, palco de conflitos violentos em 2015 e 2016, teve mais um caso em 2017: três pessoas foram encontradas carbonizadas, dentro de um veículo incendiado; o mesmo que se viu em Sta. Maria das Barreiras, PA, onde 4 pessoas foram encontradas carbonizadas dentro de um carro.
Esses casos assustam ainda mais pelo nível de crueldade e violência empregados. No ataque aos Gamela, um indígena teve as mãos decepadas e ferimentos graves à altura dos joelhos, e outro uma das mãos praticamente decepada. Em Colniza, MT, uma pessoa foi degolada e outras mortas depois de sofrerem tortura. O militante do MST, Etevaldo Soares Costa, assassinado no dia 5 de maio de 2017, na fazenda Serra Norte em Eldorado do Carajás, no Pará, teve os dedos cortados, as pernas cortadas em quatro partes, os olhos furados, e foi colocado num saco plástico e jogado fora da área da fazenda.
Vivemos uma situação de violência estrutural e recorrente. A impunidade das violações de direitos humanos ocorridas no campo garante a eficácia da repressão e aumenta a lista de pessoas e grupos ameaçados e assassinados. Para exemplificar este cenário, tendo como referência o período de 2007 a 2017, das 390 vítimas de assassinatos, 48 foram ameaçadas anteriormente. Neste mesmo período, tivemos 407 vítimas de tentativas de assassinato, destas, 55 foram ameaçadas anteriormente. De um total de 302 pessoas ameaçadas de morte, 254 foram ameaçadas mais de uma vez, 55 já sofreram tentativa de assassinato e 48 foram assassinadas.
A violência não se restringe às ameaças, tentativas e assassinatos, pois é igualmente preocupante a intensificação da criminalização de lideranças e movimentos do campo, com aumento de prisões preventivas e tentativas de aplicação de leis que tratam de organização criminosa como formas de coibir o protesto social.
As prisões de militantes do MST nos Estados de Goiás e do Paraná, com acusações de formação de organização criminosa, são graves e revelam a sanha punitivista de parte de nosso sistema de justiça.
O Estado não é apenas conivente e omisso, posição que perpetua a impunidade no campo pela ‘seletividade’, ‘morosidade’ e ‘inoperância’ do sistema de justiça que de um lado criminaliza os movimentos populares e de outro mantém impunes as ameaças, homicídios e violações de direitos humanos. O Estado é também agente ativo no fomento à violência, tanto pelas políticas e programas do Executivo que fomentam a acumulação de terras e de riquezas, como pelo Legislativo que, ao passo que destrói os direitos humanos conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras, faz uso de mecanismos, como a CPI da FUNAI e INCRA, para criminalizar as vítimas e defensores de direitos humanos.
Nos últimos tempos, especialmente após o golpe que retirou do poder uma presidenta eleita pelo voto popular, os ataques institucionais e físicos experimentaram crescimento acelerado. Entre as primeiras medidas, o governo usurpador extinguiu Ministérios e autarquias e seguiu o desmonte do Estado com diminuição de recursos e pessoal de órgãos responsáveis por garantir políticas sociais, como FUNAI e INCRA.
É longa, enfadonha e trágica a série de Medidas Provisórias, Projetos de Lei, Propostas de Emendas à Constituição e Decretos que afetam diretamente povos e comunidades do campo, entre as quais destacamos:
A PEC 215, que propõe transferir para o Congresso Nacional a prerrogativa de reconhecimento de terras indígenas, hoje competência do Executivo Federal;
Os 29 Projetos de Decreto Legislativo-PDCs, apresentados pelo deputado federal Jerônimo Goergen-PP-RS em junho de 2016, à Câmara Federal, para suspender decretos assinados pela presidenta afastada Dilma Rousseff, de desapropriação de imóveis rurais para a Reforma Agrária e regularização de territórios quilombolas e terras indígenas;
A MP 759/2016, que aniquila políticas de reforma agrária e do uso social da terra, municipaliza a prerrogativa de regularização fundiária urbana e rural e privatiza ainda mais as terras públicas.
O povo do campo clama por seus direitos e protesta:
Pelo cumprimento dos acordos internacionais assinados pelo Estado Brasileiro e respeito à Constituição Federal;
Pela autodeterminação dos povos originários e tradicionais;
Pela realização da Reforma Agraria com a ampliação das desapropriações de terras para assentar a todas as famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra e com pouca terra, atendendo emergencialmente aquelas que se encontram em áreas de conflito agrário, em ocupações e acampamentos;
Pela titulação dos territórios quilombolas;
Pela demarcação dos territórios indígenas;
Para que sejam assegurados recursos orçamentários e financeiros em quantidade suficiente para a execução das políticas de reforma agrária, titulação de territórios quilombolas, demarcação das terras indígenas, atendendo à demanda por ampliação dos recursos humanos, tecnológicos e operacionais de modo a permitir a realização das políticas públicas, programas e serviços destinados aos trabalhadores e trabalhadoras rurais;
Pela não aprovação da MP 759/2016 e dos demais instrumentos normativos que significam retrocessos nos direitos dos povos, comunidades tradicionais e trabalhadores rurais;
Pela atualização dos instrumentos normativos que possibilitem o fortalecimento do papel do Estado nos processos de fiscalização do latifúndio e das propriedades rurais que não cumpram a Função Social, especialmente quanto à Função Social da Propriedade, à Criminalização da Luta pela Terra, à atualização dos índices de Produtividade, e contra a estrangeirização das Terras;
Pelo pleno desenvolvimento econômico e social dos projetos de assentamento de reforma agrária, garantindo crédito, políticas públicas, infraestrutura e serviços de qualidade, em quantidade e com prazos adequados para que as famílias assentadas possam fortalecer seus processos organizativos e produtivos e viver com dignidade e segurança nas áreas reformadas;
Pela adoção emergencial de procedimentos e ações de combate à violência e impunidade no campo, em especial:
a) Retomada da Ouvidoria Agrária Nacional com caráter independente do INCRA, assegurando condições operacionais e financeiras para atendimento de toda a demanda;
b) Fortalecimento da FUNAI como autarquia responsável pela política indigenista garantindo o orçamento e estrutura necessária para dar celeridade aos processos de demarcação e atendimento aos povos indígenas;
c) Gestão junto aos órgãos do poder judiciário nos estados, junto aos tribunais regionais e aos ministros do STJ e STF, visando dar prioridade ao julgamento de ações pendentes e que tenham relação com os conflitos fundiários, uma vez que a demora no julgamento das mesmas faz acirrar os conflitos fundiários e geram imensos prejuízos financeiros ao Estado;
d) Gestão junto aos tribunais estaduais e regionais cobrando julgamento prioritário dos processos criminais relativos à violência no campo e ao trabalho escravo;
e) Reativação do Fórum de Assuntos Fundiários no âmbito do CNJ;
Pela urgente investigação e punição dos responsáveis pelos assassinatos, massacres e violências no campo!

Diante do exposto, nós participantes deste Ato Denúncia, nos comprometemos a:
Manter esta articulação com a sociedade para o desenvolvimento de ações urgentes;
Lutar pelo direito à terra e ao território dos povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais e camponeses;
Lutar pelo direito dos povos originários e tradicionais à autodeterminação;
Lutar contra a criminalização dos movimentos sociais e defensoras e defensores de direitos humanos;
Lutar por direitos e combater as violações de direitos humanos no campo!

Brasília, DF, 23 de maio de 2017

Assinam essa Carta Ato Denúncia:



Leia, no link, abaixo, Carta Ato Denúncia de 23/5/2017, Por Direitos e contra a violência no Campo. Leia e divulgue, sugerimos.
https://atodenuncia.wordpress.com/carta/

terça-feira, 23 de maio de 2017

A 3a Pre-Romaria da 20a Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, em Chapada Gaúcha, dia 27 de maio de 2017!

A 3a Pre-Romaria da 20a Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, em Chapada Gaúcha, dia 27 de maio de 2017!
A 3a Pré-Romaria da 20a Romaria das águas e da terra de Minas Gerais acontecerá em Chapada Gaúcha, no norte de MG, Diocese de Januária, com: a) Caminhada de compromisso com várias paradas para reflexão, denúncia e anúncio; b) Celebração Ecumênica; c) Apresentações Culturais e Show Ecológico.
Dia: 27 de Maio de 2017 (sábado);
Horário: a partir das 16 horas;
Local de Concentração às 15h30:
Escola Estadual Moacir Cândido;
Município: Chapada Gaúcha, no norte de MG, Diocese de Januária.
A Comissão Organizadora está de parabéns. Venha participar com seus amigos/as e familiares!

20ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, no noroeste de MG, coração do agronegócio

20ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, no noroeste de MG, coração do agronegócio[1].
Por frei Gilvander Luís Moreira[2], da CPT.


Com o Tema: “Povos da Cidade e do Sertão Clamando por Água, Terra e Pão”; e com o Lema: “Povos, Rios, Veredas e Nascentes são Dons de Deus em Romaria e Resistência”, a 20ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais está acontecendo de forma processual no Noroeste de Minas, na Diocese d
e Paracatu, e terá celebração final dia 23 de julho de 2017, na cidade de Unaí. Estão acontecendo várias pré-romarias nas seguintes cidades: Uruana, Buritis, Chapada Gaúcha, Arinos, Urucuia, Bonfinópolis, Unaí, Boqueirão, Paracatu, etc. Convocada pela memória subversiva do Evangelho da Vida e da Esperança, fiel ao Deus dos pobres, à terra, às águas de Deus e aos pobres da terra e das águas, também ouvindo o clamor que vem dos biomas violentados - Cerrados, Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga, Pampas e Pantanal - e seguindo a prática de Jesus, a Comissão Pastoral de Terra (CPT), há quatro décadas, vem realizando em todo Brasil, romarias da Terra, que com o passar dos anos, foi ampliada para Romaria das águas e da terra.
As romarias consistem em espaço importante de reflexão, de celebração, anúncio, denúncia e posicionamento frente à concentração de terras, a privatização das águas, dos direitos negados aos povos do campo e das cidades. Também anunciamos as conquistas e vitórias do povo organizado, o reencontro com a terra prometida e partilhamos saberes e sabores.
Para a realização das romarias das águas e da terra, a CPT conta com a participação das dioceses, paróquias, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Cáritas, Pastorais Sociais, STRs e Movimentos Sociais Populares (MST, MPA, Levante Popular da Juventude, etc.).
Em Minas Gerais acontecem romarias regionais com foco central nos problemas locais nas lutas dos camponeses e das camponesas. Desde 1996 a Romaria das águas e da terra vem sendo celebrada anualmente em caráter estadual como um momento forte de celebração da vida e reconhecimento da sacralidade da vida humana e de toda a biodiversidade, da Mãe Terra e de nossa irmã Água. São Francisco de Assis, patrono da romaria, é o símbolo da sociedade que queremos, onde tudo e todos devem agir como irmãos e irmãs, construindo fraternidade universal a partir dos oprimidos e super-explorados. O papa Francisco nos apoia e exorta: “Saiam para as ruas, para a luta!”.
Antes da 1ª Romaria estadual da terra e das águas de Minas Gerais, que aconteceu dia 04 de outubro de 1996, na cidade de Manga, no Norte de Minas, à beira do rio São Francisco, aconteceram duas Romarias da terra no noroeste de Minas. A 1a, dia 25 de julho de 1991, em Igrejinha, distrito de Arinos, no meio de um grande conflito de terra na Fazenda Menino – que já serviu no passado de esconderijo de muitos líderes de esquerda, como Brizola, Oscar Niemayer, Lamarca e outros, que fugiam da perseguição dos tiranos da ditadura militar-civil-empresarial.
 Nessa Romaria, mais de mil romeiros/as marcharam a pé 12 quilômetros, da Igrejinha até a Fazenda Menino, onde o fazendeiro José Alfredo tinha mandado seu jagunço Milton matar os irmãos camponeses posseiros Januário e José Natal. O jagunço foi condenado a 22 anos e 6 meses de prisão e esta Romaria foi o ponto de partida para muitas conquistas de terra pelos movimentos sociais do campo no Noroeste de Minas. Naex-fazenda Menino estão assentadas mais de 500 famílias camponesas nos Caminhos do Sertão de Guimarães Rosa. A 1ª Romaria da terra de Arinos mostrou aos fazendeiros que matar posseiros e trabalhador rural para tomar suas terras já não ficariam mais impune como os assassinatos dos camponeses Praxedes, Sr. Júlio de Miranda e dezenas de outros no norte e noroeste de Minas.
A 2ª Romaria da terra do noroeste de MG aconteceu na cidade de Arinos dia 25 de julho de 1993 com aproximadamente 5.000 romeiros/as.  Os fazendeiros, com o poder do coronel Jarbas, organizaram 250 policiais para prender os caminhões que traziam os/as romeiros/as e tentar proibir a entrada dos/as romeiros/as na cidade de Arinos, os quais tiveram que seguir a pé por até 20 quilômetros. A desculpa era: “caminhão sem toldo não pode carregar ninguém na carroceria.” Revistaram todas as bolsas das mulheres, jovens e idosas. Depois desta Romaria, todas as grandes fazendas de Arinos se tornaram assentamentos, que hoje são 27 ao todo. Nos 14 municípios do noroeste de MG, os camponeses Sem Terra, sob liderança dos STRs (FETAEMG) e MST, já conquistaram 77 assentamentos de reforma agrária. “Conquistamos a terra, mas agora estão nos roubando as águas para o agronegócio e hidronegócio”, lamentam os camponeses.
Todas as Romarias têm, no geral, os mesmos problemas e reações e tem, acima de tudo, como missão ouvir os clamoresdos/as camponeses/as, das terras e das águas como princípio e sustentabilidade da vida. A região noroeste de Minas Gerais, marcada pela luta pela terra, pela reforma agrária e por direitos básicos no campo, está sendo violentada pela multiplicação dos agentes do agronegócio e do hidronegócio. Os municípios de Unaí e Paracatu são os campeões do Brasil em número de pivôs de irrigação e em área irrigada, mais de 150 mil hectares. O exagero de agrotóxico jogado na agricultura empresarial tem causado uma “epidemia” de câncer, alzaimer e outras doenças.
As fontes de água, que eram abundantes, estão sendo dizimadas pelo capitalismo e pelos capitalistas do campo. Barragens construídas em nascentes de córregos, voltadas para a irrigação das terras dos grandes empresários, têm secado córregos de água que serviam aos moradores locais, o que provocou crise hídrica gravíssima na região. Sob a liderança do Comitê de Defesa da Bacia do Rio Urucuia (COMDHRU), o povo camponês de Buritis fez vigília durante nove meses na nascente do Córrego Barriguda (a cerca de 50 km da cidade de Buritis, MG), denunciando a injustiça agrária e hídrica vivida no noroeste de Minas, as dificuldades impostas aos moradores locais/camponeses e alertando para a necessidade de lutas coletivas para a superação da crise hídrica desde a sua raiz  - neste caso, o Rio Urucuia, um dos principais afluentes do Rio São Francisco.
Antigamente, esperava-se vir a chuva para plantar, mas agora os empresários do agronegócio plantamvárias vezes por ano. E para isso captam água das lagoas, dos córregos, dos rios e do lençol freático via poços artesianos. Só que a captação está beneficiando apenas alguns proprietários empresários e deixando milhares de famílias camponesas na dificuldade. Assim, a miséria está se alastrando no campoe na cidade no noroeste de Minas também.
 O que acontece no noroeste mineiro é que os grandes fazendeiros praticantes da agricultura empresarial têm avançado na consolidação de seus projetos de irrigação, de forma abusiva. Ocorre que se tornou rotina na região a construçãode barragens nas cabeceiras dos principais córregos, em nascentes e lagoas, com o objetivo de captar água para a irrigação. Isso funciona com uma quantidade enorme de água sem que eles sejam autorizados ou licenciados pelos órgãos ambientais. E esses córregos são responsáveis pelo abastecimento dos rios Urucuia, Preto, Paracatu e outros afluentes do rio São Francisco. O poder público/Estado e os órgãos ambientais estão sendo cúmplices dessa devastação socioambiental. Não fiscalizam e concedem licenças ambientais que na prática são usadas para se captar muito mais água do que o permitido legalmente. A 20ª Romaria das águas e da terra de Minas vem denunciar isso e anunciar que o caminho justo e ecologicamente sustentável é reforma agrária, agricultura familiar agroecológica em comunhão com preservação ambiental. Isso precisa ser garantido através de lutas coletivas em nome da responsabilidade socioambiental e geracional que temos.
Belo Horizonte, MG, Brasil, dia 13/5/2017.




[1] Texto publicado no Jornal A VERDADE, ano 17, n. 194, 05/5 a 05/6/2017, p. 8.
[2] Frei e padre da Ordem dos Carmelitas; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Movimentos Populares urbanos de luta por moradia; e-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.freigilvander.blogspot.com.br - www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Padre Josimo Tavares, outro Cristo no nosso meio: 31 anos de martírio (em 10/05/1986), na luta pela terra.

Padre Josimo Tavares, outro Cristo no nosso meio: 31 anos de martírio (em 10/05/1986), na luta pela terra.
Frei Gilvander Moreira[1]



“Feliz de um povo que não esquece seus mártires” (Dom Pedro Casaldáliga).

Dia 10 de maio de 2017, dia que o ex-presidente Lula está depondo diante do juiz Moro, em Curitiba, PR, celebramos 31 anos do martírio do padre Josimo Tavares. Por isso o recordamos. Após tentativa de assassinato contra padre Josimo Moraes Tavares, no dia 15 de abril de 1986, quando cinco tiros foram disparados contra a Toyota em que ele viajava na defesa dos camponeses, profundamente ameaçado de morte - e de ressurreição! -, incompreendido por colegas padres e agentes de pastoral, inclusive, padre Josimo foi convocado a elaborar um relatório de suas atividades e a esclarecer as circunstâncias que levaram a tantas ameaças de morte contra ele.
Em seu belíssimo Testamento Espiritual e profético, pronunciado durante a Assembleia da Diocese de Tocantinópolis, MA, no dia 27 de abril de 1986, poucos dias antes de seu assassinato, dizia Josimo que sua morte estava anunciada, encomendada e prescrita nos anais das correntes que desejavam ardentemente eliminá-lo. Fazendeiros e empresários do campo já o haviam condenado sumariamente à pena de morte. Mas Josimo se encontrava firme, impulsionado pela força do Evangelho, pois havia assumido sua missão pastoral de compromisso com a causa dos camponeses oprimidos e injustiçados. Josimo declarou: “Pois é, gente, eu quero que vocês entendam que o que vem acontecendo não é fruto de nenhuma ideologia ou facção teológica, nem por mim mesmo, ou seja, pela minha personalidade. Acredito que o porquê de tudo isso se resume em três pontos principais: a) Por Deus ter me chamado com o dom da vocação sacerdotal e eu ter correspondido; b) Pelo senhor bispo, dom Cornélio, ter me ordenado sacerdote; c) Pelo apoio do povo e do vigário de Xambioá, então Padre João Caprioli, que me ajudaram a vencer nos estudos. “O discípulo não é maior do que o Mestre. Se perseguirem a mim, hão de perseguir vocês também.” Tenho que assumir. Agora estou empenhado na luta pela causa dos pobres lavradores indefesos, povo oprimido nas garras dos latifúndios. Se eu me calar, quem os defenderá? Quem lutará a seu favor? Eu pelo menos nada tenho a perder. Não tenho mulher, filhos e nem riqueza sequer, ninguém chorará por mim. Só tenho pena de uma pessoa: de minha mãe, que só tem a mim e mais ninguém por ela. Pobre. Viúva. Mas vocês ficam aí e cuidarão dela. Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma justa causa. Agora quero que vocês entendam o seguinte: tudo isso que está acontecendo é uma conseqüência lógica resultante do meu trabalho na luta e defesa dos pobres, em prol do Evangelho que me levou a assumir até as últimas conseqüências. A minha vida nada vale em vista da morte de tantos pais lavradores assassinados, violentados e despejados de suas terras. Deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar. É hora de se levantar e fazer a diferença! Morro por uma causa justa[2]
Padre Josimo Tavares sabia que ‘os filhos das trevas’ – latifundiários amantes do deus capital – estavam na iminência de matá-lo. Ele não quis fugir. Como Jesus subindo para Jerusalém, Josimo, enquanto coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), continuou sem arredar um milímetro do seu compromisso com os camponeses injustiçados. Dia 10 de maio de 1986, dia das mamães, padre Josimo foi assassinado covardemente enquanto subia as escadas do prédio da Mitra Diocesana de Imperatriz, MA, onde funcionava a sede da CPT Araguaia-Tocantins. Ainda teve forças para entrar no hospital andando. Isso foi o presente que fazendeiros e jagunços deram a dona Olinda, mãe do padre Josimo, no dia das mães.
Padre Josimo era coordenador da CPT, na região do Bico do Papagaio. O pistoleiro Geraldo Rodrigues da Costa efetuou contra o corpo do padre Josimo dois tiros com uma pistola de calibre 7,65. Outro jagunço que participou do assassinato de Josimo foi Vilson Nunes Cardoso, que até hoje está foragido.
Em 1993, nova denúncia, apontou como mandantes do assassinato de padre Josimo: os fazendeiros Geraldo Paulo Vieira, Adailson Vieira, Osmar Teodoro da Silva, Guiomar Teodoro da Silva, Nazaré Teodoro da Silva, Osvaldino Teodoro da Silva e João Teodoro da Silva. Em 1998 Adailson Vieira, Geraldo Paulo Vieira (pai do Adailson) e Guiomar Teodoro da Silva foram julgados e condenados. Os dois primeiros foram condenados a 19 anos de reclusão e Guiomar, a 14 anos e 3 meses. João Teodoro da Silva faleceu antes de ser levado a julgamento. Geraldo morreu alguns meses depois da sentença. Osmar Teodoro da Silva ficou foragido durante anos, sendo capturado pela polícia somente em 2001, depois de ter sido alvo do programa Linha Direta, na TV gLobo. Em setembro de 2003, ele foi condenado, por unanimidade, a 19 anos de reclusão.
Geraldo Rodrigues da Costa, o executor do crime, foi condenado, em 1988, a 18 anos e 6 meses de reclusão. Conseguiu fugir da penitenciária por três vezes, mas, depois da última fuga, nunca mais fora encontrado. Há informações de que faleceu durante fuga após um assalto na cidade de Guaraí, Tocantins.
Em 2006, Claudemiro Godoy do Nascimento, no artigo “20 anos com Josimo”, recordava: “Há 20 anos atrás, o Brasil vivia momentos de transformações políticas e econômicas que dinamizavam o cenário das relações políticas. Na região do Bico do Papagaio a situação não se diferenciava. Com o anúncio do fim do regime ditatorial havia uma rearticulação política das oligarquias rurais na chamada Nova República. A luta social se encontrava diante de fortes momentos de tensão e conflito por parte de fazendeiros e trabalhadores rurais que tinham na Igreja, na CPT, nos sindicatos e nos novos movimentos sociais do campo uma esperança em ver realmente a terra partilhada para todos e todas. Josimo é a testemunha fiel e nos ensina de que vale a pena dar a vida pela causa do Reino, das comunidades e do povo. Sua morte significou o compromisso assumido em denunciar as estruturas de morte alimentadas pelas injustiças políticas de mandos e desmandos de uma oligarquia rural que ousava (ou ainda ousa) se estabelecer no poder da República. É neste sentido que Josimo se torna o padre mártir da Comissão Pastoral da Terra ao selar com seu sangue uma opção, um compromisso e um engajamento na defesa dos oprimidos, em especial, os trabalhadores rurais. Poderíamos relembrar os versos de Pedro Tierra escritos por ocasião do martírio de Padre Josimo em maio de 1986: “Quem é esse menino negro / Que desafia limites? / Apenas um homem. / Sandálias surradas. /Paciência e indignação. / Riso alvo. / Mel noturno. / Sonho irrecusável. / Lutou contra cercas. / Todas as cercas./ As cercas do medo. / As cercas do ódio. / As cercas da terra. / As cercas da fome. / As cercas do corpo. / As cercas do latifúndio”.
Diante de tanta fé e de uma teimosia do Reino inexplicável, Josimo sentia-se fortalecido pela experiência de Deus, pois se encontrava dentro do próprio Deus. Com certeza, Josimo fez a experiência de Deus que somente os grandes místicos da humanidade fizeram. Um homem que chega a ponto de saber que terá seu sangue derramado em defesa dos pobres e pela causa do Reino só pode ter tido a experiência concreta do Deus que se fez gente entre os homens e mulheres.
Para Josimo ser padre significava sentir a vida brotando como serviço justo a Deus e aos pobres, sobretudo. Para ele, o culto, a eucaristia, a teologia do sacrifício significava o agrado que fazemos a Deus no serviço aos pobres, aos doentes e marginalizados da sociedade. Percebemos nos escritos, nos poemas e nos registros de Josimo uma profunda intimidade com sua opção primeira, a saber: a Diakonia, ou seja, o serviço profético emancipatório, o estar sempre servindo aos empobrecidos do Bico do Papagaio, que eram os trabalhadores rurais expulsos e espoliados da terra pelos grandes fazendeiros locais e pelos políticos ao estilo coronelista. Portanto, ser padre segundo Josimo era ser Profeta da Justiça, Pastor na Caminhada e Sacerdote humilde que procurava oferecer a Deus oferendas justas. Josimo é a própria oferta. Tornou-se um ofertório vivo para nossas comunidades e para a construção do Reino.
Com certeza, a memória dos 31 anos do martírio de Padre Josimo nos traz à luz a experiência das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), da Igreja Povo de Deus, enquanto sinal do Reino de Deus no mundo. Outros Josimos surgiram e surgirão mais ainda quando a Igreja novamente for sinal vivo do Reino de Deus, quando estiver ao lado dos pobres e oprimidos e perseguidos; quando denunciar as injustiças e as opressões cometidas contra o povo; quando anunciar a esperança, a fé, o amor e a alegria aos pobres.
Padre Josimo, em vida plena, continua vivo em nós na luta. Vivo nas memórias do povo, nas experiências dos educadores populares, nos escritos da Teologia da Libertação e no compromisso dos poucos agentes de pastorais que continuam reafirmando o mesmo compromisso com o Reino, com a construção de um mundo com a justiça social, ambiental, urbana e sustentabilidade ecológica. Padre Josimo está vivo no martirológio latino-americano, alternativo por excelência, sem nenhuma ligação e reconhecimento por parte da estrutura eclesial oficial. A história não pode perder a figura de Josimo. Ele é importante na história porque promoveu com o povo a história. Com Josimo, os dominados contam suas histórias. Com Josimo, a história não é feita segundo a lógica da classe dominante. Com Josimo, os dominados são os sujeitos históricos.
O nome de Padre Josimo está hoje em centenas de Acampamentos de Sem Terra, de Assentamentos de Reforma Agrária e de Comunidades Eclesiais de Base. Ele está muito vivo e presente nos corações e nas mentes de milhões de pessoas que lutam para que a Mãe terra seja libertada das garras do latifúndio e partilhada com milhões de sem-terra através de uma reforma agrária popular, massiva e democrática.
Algumas pessoas perguntam: “Por que valorizar o martírio, o sofrimento…?” Devemos ser criteriosos para não incentivarmos um martírio voluntário. É claro que existem muitas pessoas que, de mil e uma formas, e não raro, de um jeito eficaz e abrangente, dão testemunho, dinamizam a vida, atuam na cidadania e constroem o bem comum. Não podemos também jamais esquecer a memória dos inúmeros mártires da caminhada. Ai de um povo que esquece os seus mártires!
Zé Vicente, compositor e cantor das CEBs, diz sobre padre Josimo: “Padre Josimo sofreu várias ameaças, dois atentados e foi executado à bala, por um pistoleiro, a mando de um grupo de fazendeiros da região chamada Bico do Papagaio no Tocantins, onde ele acompanhava toda a situação de conflitos pela posse da terra e pelos direitos dos trabalhadores, como membro da coordenação da CPT”.
Como cantor da Caminhada nas noites escuras da opressão, movido pelo testemunho de Josimo, Zé Vicente compôs a música “Renascerá” em sua homenagem.
“Renascerá, renascerá, o teu sonho, Josimo,
De um novo destino renascerá!
E chegará, e chegará tempo novo sagrado
Há tanto esperado, pra nós chegará!”

Dona Olinda, mãe de padre Josimo ainda vive e mora na região do Bico do Papagaio. Ao contemplar sua imagem tão pequena, cabelos brancos, silenciosa, vestindo a camiseta comemorativa, com a frase do testamento do filho: “morro por uma Causa justa!”, o nosso coração arde de emoção. Quem conviveu com Josimo diz: “Ele era um poeta, tocava violão, gostava de escutar as histórias das pessoas, tinha um jeito humilde de ser, gostava de usar aquelas chinelas havaianas…”
Recordando o pôr-do-sol na beira do grande Rio Tocantins, sob lua nova, a última estrofe do Samba pra Josimo irrompe na lembrança, como utopia teimosa, assinada com seu sangue há 31 anos.
“Cada rio formoso lá do Tocantins
Levará teu sonho a todos os confins
E cada braço erguido, conquistando o chão
Terá as energias do teu coração!”

Assim seja! Amém, Aleluia, Auerê, Uai!
Belo Horizonte, MG, Brasil, 10 de maio de 2017, 31 anos com padre Josimo Tavares vivendo vida plena e muito vivo em nós, na luta pela terra.



[1] Frei e padre carmelita, mestre em Exegese Bíblica, doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Movimentos urbanos de luta por moradia; e-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.freigilvander.blogspot.com.br - www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis – facebook: Gilvander Moreira III

[2] LE BRETON, Binka. Todos Sabiam, a morte anunciada do Padre Josimo. São Paulo: Loyola, 2000, p. 129-130.

IRMÃ GERALDINHA, MISSIONÁRIA DA CONGREGAÇÃO DAS DOMINICANAS de São Romão E OUTROS TRABALHADORES RURAIS CORREM RISCO DE MORTE NA CIDADE DE SALTO DA DIVISA, MG.

IRMÃ GERALDINHA, MISSIONÁRIA DA CONGREGAÇÃO DAS DOMINICANAS de São Romão E OUTROS TRABALHADORES RURAIS CORREM RISCO DE MORTE NA CIDADE DE SALTO DA DIVISA, MG.

A Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG vem denunciar que FAMÍLIAS CAMPONESAS DA CABECEIRA DO PIABANHA, NO PARQUE ESTADUAL ALTO CARIRI, NO MUNICÍPIO DE SALTO DA DIVISA, NO BAIXO JEQUITINHONHA, MG, ESTÃO SOFRENDO AÇÕES DE VIOLÊNCIA FÍSICA, AMEAÇAS DE MORTE, INTIMIDAÇÕES E DESTRUIÇÃO DE PLANTAÇÕES por parte de fazendeiros da região.
A organização e a resistência das famílias camponesas tradicionais, que residem e trabalham na CABECEIRA DO PIABANHA, em Salto da Divisa, MG, representadas por: IRMÃ GERALDINHA, NIVALDO MORAIS NASCIMENTO, MARINEZ ALVES DA SILVA, LUZENI FERREIRA DA SILVA E JUAREZ FERREIRA DO NASCIMENTO, estão sendo respondida por meio de assédios e intimidações, sendo coagidos a fazerem acordos individuais extrajudiciais com o intuito de quebrar a organização comunitária.
Moradores relatam invasão de domicílio, obrigando-os a negociarem a sua saída numa clara demonstração de poder e força ao estilo do coronelismo das décadas de 1970. Placas foram colocadas na entrada da Comunidade Camponesa da Cabeceira do Piabanha com dizeres agressivos como “propriedade privada. Proibida a entrada!”, notificação extrajudicial de proibição da entrada de técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (EMATER) que presta assistência técnica à Comunidade. Destruição de bananeiras a mando dos fazendeiros Renato José Luar Pimenta e Olinto Herculano Pimenta, ação realizada pelos trabalhadores Renato Pereira de Almeida, Luciano André Ferreira e Reinaldo Longuinho de Araújo. Numa atitude de demonstração de força e desrespeito, os fazendeiros Olinto Herculano Pimenta e Renato José Luar Pimenta invadiram o domicílio do Sr. Agnaldo Teixeira dos Reis, morador da comunidade. Na ocasião entregou um boletim de ocorrência contra o Sr. Agnaldo fazendo acusações infundadas, dizendo que o mesmo havia estendido as cercas e realizado plantações em área de sua propriedade. Sendo que a Comunidade Camponesa está dentro de um parque estadual. Cadê o Estado para coordenar o parque e não deixar fazendeiro invadir o parque? Tudo, em razão de um processo judicial de Reintegração de Posse de número 0020421-44.2016.8.13.0347, na Comarca de Jacinto, MG, proposto por AFONSINA MARIA PIMENTA (esposa do fazendeiro Olinto Herculano Pimenta) e ESPOLIO DE SYLVIO ANTONIO PIMENTO, que alegam serem proprietários do imóvel ocupado pelas famílias, cujo processo está sendo acompanhado, em defesa dos membros da comunidade, pelo Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG, Dr. Ronaldo Moreira de Araújo, CPT/MG, Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos ameaçados, dentre outras entidades.
A mineradora Nacional do Grafite está minerando ao lado do Parque Estadual Alto Cariri e já fez prospecção mineraria no Parque e tem planos de minerar dentro do parque também. Para viabilizar isso o deputado Carlos Pimenta apresentou Projeto de Lei na ALMG para alterar os limites do Parque estadual Alto Cariri. E fazendeiros estão ameaçando e pressionando e ameaçando a Comunidade para abocanhar aquelas terras. A continuidade da Comunidade camponesa da cabeceira do Piabanha é condição para manter a preservação ambiental lá, que é um santuário ecológico com muitas nascentes.
Irmã Geraldinha é referência no Brasil e reconhecida na luta em favor do povo pobre e dos oprimidos, tendo sido agraciada com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos do Governo Federal e pelas ameaças sofridas por sua luta em defesa dos direitos humanos e luta pela terra, encontra-se sob proteção do Programa de Proteção dos Defensores em Direitos Humanos do Governo Federal (PPDFH).
As Comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e da Câmara Federal, em Brasília, farão Audiência Pública sobre este gravíssimo conflito agrário na cidade de Salto da Divisa, dia 19 de maio próximo (2017).
Irmã Geraldinha participou de Coletiva à Imprensa hoje, dia 10/05/2017, na Sede da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG para relatar seu caso e torná-lo público na CDH da OAB MG, à Rua Guajajaras, 2287, Bairro Barro Preto, em Belo Horizonte, MG.

Belo Horizonte, MG, Brasil, 10 de maio de 2017.

Nota Pública da Comissão dos Direitos Humanos da OAB/MG e da COMISSÃO PASTORAL DA TERRA (CPT)
Assina essa Nota: Dr. William Santos. Presidente da CDH da OAB/MG.

Obs.: Assista a partir do link, abaixo, a Gravação da Entrevista Coletiva com vários advogados, CPT, etc, com a presença da Irmã Geraldinha, dia 10/05/2017, em Belo Horizonte, na sede da CDH da OAB/MG.

CONFLITO AGRÁRIO, COM AMEAÇAS DE MORTE, em SALTO DA DIVISA, MG, na COMUNIDADE CAMPONESA DA CABECEIRA DO PIABANHA, NO PARQUE ESTADUAL CARIRI. Os ameaçadores não passarão!
Reunião na Comissão dos Direitos Humanos da OAB/MG, em Belo Horizonte, dia 10/05/2017: denúncia de gravíssimo conflito agrário, com ameaças de morte, na Comunidade Camponesa da Cabeceira do Piabanha, no Parque Estadual Alto Cariri, em Salto da Divisa, Baixo Jequitinhonha, MG. Assista e compartilhe.

Assista também Reportagem da TV Futura sobre UMA IRMÃ, UM RIO E MUITAS TERRAS
Assista também no link, abaixo: Palavra Ética com Irmã Geraldinha e Edivaldo Ferreira sobre Emboscada que sofreram de fazendeiro de Salto da Divisa.

E Conheça a Comunidade Cabeceira do Piabanha em Reportagem de frei Gilvander, no link, abaixo:

Assista também vídeo de Audiência na ALMG denunciando violação de direitos humanos na Comunidade Camponesa da Cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa, MG. No link, abaixo:



domingo, 7 de maio de 2017

Em Buritis, MG, pré-Romaria da 20a Romaria das águas/da terra/MG: denúncia da devastação das águas e Juramento.

Em Buritis, MG, pré-Romaria da 20a Romaria das águas/da terra/MG: denúncia da devastação das águas e Juramento.

Em Buritis, no noroeste de Minas Gerais, hoje, sábado, dia 06/05/2017, aconteceu a 2ª pré-Romaria da 20ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, com o tema: Povos da cidade e do sertão, clamando por água, terra e pão! A Celebração Final da 20ª Romaria das águas e da terra de MG será dia 23 de julho de 2017, em Unaí, noroeste de MG (Diocese de Paracatu), das 06h00 às 17h00.
Em Buritis, a 2ª pré-Romaria aconteceu das 09h00 às 14h30, com centenas de pessoas dos 23 Assentamentos do município de Buritis e com participação de romeiros e romeiras das águas e da terra de Brasília, de Cabeceira Grande, de Arinos, de Guarapuava, de Unaí, de Paracatu, de Belo Horizonte, etc. Fomos fraternalmente acolhidos com um café da manhã saboroso feito em mutirão por várias mulheres camponesas. Padre Antônio, a vereadora Camila, Maria d’Abadia e toda a Comissão Organizadora coordenaram, com apoio da CPT, da Cáritas, da ARPA, etc., momentos históricos da pré-Romaria de Buritis: a) Acolhida inicial, com as boas vindas; “Nossos direitos vêm...”; b) Marcha/caminhada da CASEMG até a beira do rio Urucuía, onde a COPASA capta água para abastecer a população da cidade de Buritis e mais acima um empresário do agronegócio está captando uma grande quantidade de água para irrigação de agronegócio, “está apunhalando o rio ao retirar tanta água”; c) Ao lado do rio Urucuía, minguado e na UTI por causa dos líderes do agronegócio e de um Estado que, por cumplicidade, deixa o rio ser esgotado para gerar lucro e acumulação do capital. Ouvimos uma série de testemunhos de camponeses que denunciaram a devastação socioambiental no município de Buritis. Fizemos um juramento ao lado das poucas águas do rio Urucuía: sermos firmes na luta coletiva na defesa das águas, da mãe terra e dos direitos sociais. Após a caminha de volta à CASEMG, sempre com muita animação e com a presença de bonecos de São Francisco de Assis e de vários animais em processo de extinção do cerrado, fizemos uma Fila do Povo, momento em que várias denúncias foram feitas e compromissos assumidos. Tudo mesclado com músicas de luta e animação.
Comunidades da zona rural, que sofrem com a falta d’água, devido a construção de barragens para irrigação com pivôs centrais, denunciaram a morte de nascentes, córregos, cascatas. Teve representação das comunidades que dependem dos córregos Confins, Barriguda, Palmeira, Taquaril, Formosinha, rio Urucuía, dentre outros. Todos esses córregos estão barrados – barragens para captação de água para os pivôs - em suas nascentes prejudicando várias comunidades rurais e o rio Urucuía – um dos 36 maiores afluentes do rio São Francisco - sente os efeitos da seca e do agronegócio e hidronegócio na região. A maioria dessas barragens é construída com liminares (decisão precária) judiciais, um esquema criminoso consentido pelo Estado. A vereadora Camila Almeida explicou sobre o projeto que pretende executar através da Câmara Municipal de vereadores de buritis, que é: fazer um Levantamento da Real situação do Rio Urucuía e de todos seus afluentes e das nascentes no município de Buritis. Com postos de GPS, imagens aéreas, levantamento na justiça de quantas liminares foram expedidas para construção dessas barragens, quantos pedidos de liminares ainda têm, quantas multas e embargos têm expedidos para os empreendimentos do agronegócio e hidronegócio em Buritis. Ao final desse levantamento a empresa a ser contratada deverá entregar um Relatório REAL de qual a situação do Rio Urucuía, de seus afluentes e nascentes. E um Relatório com ações de recuperação, além de um vídeo para aulas educativas. A execução desse diagnóstico do município é necessária porque a partir dele poderemos propor ações a nível municipal, estadual e federal para rever o uso das águas em buritis.
Todos os depoimentos demonstraram durante a pré-Romaria em Buritis que a devastação socioambiental no município está enorme e, pior, crescendo em uma progressão geométrica.
Terminamos a pré-Romaria de Buritis saboreando um gostoso almoço comunitário feito em mutirão com frutos da terra, das águas e do trabalho humano de quem está assentado nos 23 Assentamentos do município de Buritis, MG. Despedimo-nos com um abraço e com o convite para participarmos nas outras pré-Romarias - a próxima em Chapada Gaúcha, dia 27/05/2017 a partir das 15h00 – e irmos em caravanas para a Grande Celebração da 20ª Romaria das águas e da terra de MG, em Unaí, dia 23 de julho de 2017. A luta continua! “Romaria da terra faz o povo reunir, numa luta sem guerra lutaremos por ti ...” Grande parte da pré-Romaria de Buritis foi registrado em fotos e em vídeos, que em breve, serão disponibilizados na internet, etc.

Acompanhe e divulgue o Blog da 20ª Romaria das águas e da terra: